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Filmes de Nicolas Cage causam afogamentos (tenho “provas”!)

Por Arthur Lessa 07/11/2021 - 18:37 Atualizado em 08/11/2021 - 01:09

Imagina você, todo “nicolas-cagezinho” andando pelo deck quando, não mais que de repente, cai na piscina e morre afogado. A causa pode ser um momento mais produtivo do ator americano Nicolas Cage.

Se não acredita em mim, olhe o gráfico!

E tem mais!

Você acredita que investir em ciência aumenta os casos de suicídio por asfixia?

Não? Então olhe o gráfico abaixo!

Esse cruzamento de dados é chamado de várias maneiras, mas uma das mais objetiva é correlação espúria. E nós as criamos diversas vezes e, em muitas delas, firmamos argumentos convictos baseados nelas.

Um dos exemplos deste ano aconteceu na Eurocopa, quando Cristiano Ronaldo trocou uma garrafa de Coca Cola por uma de água ao início de uma coletiva. O episódio deu oportunidade para manchetes chocantes como essa, do Lance!:

Mas se olharmos na matéria, já é possível ver que a relação está um tanto forçada. Começando pela queda “brutal” de… 1,6%.

De verdade… 1,6% na B3 é quase andar de lado. Não dá nem emoção. E é completamente comum e esperado da renda variável, que tem esse nome porque varia. Se fosse uma small cap como a catarinense Intelbrás, por exemplo, o mesmo percentual de queda representaria uma desvalorização de pouco mais de R$ 145 milhões. 

Acontece que a Coca Cola tem valor de mercado de US$ 235 bilhões (em torno de R$ 1,3 trilhão), enquanto a Intelbrás superou há pouco os R$ 9 bilhões (menos de 4% o valor da americana). 

Mas, como hoje é dia de gráficos, olhem uma imagem mais espaçada do movimento da KO (ticker da Coca Cola Company na Bolsa de Nova Iorque) com cada ponto marcando o preço de fechamento do dia, de 24 de maio a 16 de julho. Veja se a queda tão anunciada realmente chamaria a sua atenção não fosse o círculo preto que eu acrescentei para apontar o dia em questão.

Peguei você, esse é o dia 15 de junho. A tal queda aconteceu no dia 14, que é o ponto anterior.

Note que a ação, mesmo neste curto período do corte, vinha de um preço abaixo dos US$ 55, deu duas “passeadas” acima dos US$ 56, desceu abaixo dos US$ 54 e fez a máxima dias depois. Variou, subiu, desceu e seguiu a vida.

Nesse contexto, o gesto de Cristiano Ronaldo fez diferença? Não sei… Mas, se fez, foi irrelevante no contexto geral. 

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Não deixe os dados pensarem por você

Ouvi nessa semana uma frase do palestrante e mentor Romeo Busarello que é muito boa pra esse contexto: “o conteúdo é rei, mas o contexto é Deus”.

O contexto dessa fala dele é um vídeo onde ele explica como usa métricas, dados e correlações para impulsionar uma campanha de venda de apartamentos, mas se aplica ao assunto acima também.

As informações estão aí. Podem estar claras ou precisarem de alguma mineração, mas nunca se teve tanto a acesso a insumos para ideias. O problema é deixar um grande volume delas virar um rio, que te leva ao seu bel prazer, quando não te afoga. 

As informações dos primeiros gráficos dessa página são reais, mas não há ligação alguma entre eles. Eles apenas, casualmente, tiveram comportamentos semelhantes. 

Sendo assim, o alerta que eu deixo é: não confunda causalidade (quando há relação real entre causa e efeito) com casualidade (quando não passa de coincidência).

E, pra fechar, se quiser se divertir mais um pouco com esse tema, busque no Google: Maldição Ramsey.

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