O jornalista William Waack foi o convidado desta segunda-feira (5) do Programa do Porchat, na Record. E, como não podia deixar de ser, veio a tona durante a entrevista o polêmico vídeo, que custou o emprego na Rede Globo, em que ele faz uma piada racista enquanto esperava para entrar no ar.
Não foi a primeira vez que ele tratou do assunto, mas, provavelmente pelo estilo do programa, foi o momento em que ele falou mais abertamente sobre o tema, mostrando sua indignação não só com o próprio vazamento do vídeo, retirado de um arquivo que não foi nem iria ao ar, já que se tratava de imagens de bastidores, mas também pelas consequências.
Em dado momento da entrevista, após afirma que se arrepende do que falou, ele disse "eu sou um cara normal, falo palavrão, falo coisa fora de hora, xingo sem querer... Não é normalm quem acha que todo mundo é santinho. A hipocrisia nesse caso é fenomenal!".
Mais pra frente ele diz que o que aconteceu com ele é efeito da era em que vivemos, em que "cada um pega o que quer e fala o que quer na internet e acabou", e citou a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Carmen Lúcia, que citou o caso, em palestra na PUC de Belo Horizonte, como sendo um exemplo de "constrangimento da liberdade de expressão".
Assista o trecho em que o assunto é tratado.
Essa questão de piadas mal colocadas e polêmicas é um assunto delicado e vem se repetindo com uma certa frequencia nos últimos anos. Além desse caso, lembro de outros dois parecidos. Não são iguais, mas tem elementos semelhantes:
1 - CASO WAACK: Na espera para entrar no ar ao vivo, mas com a câmera já gravando (praxe de qualquer produção televisiva), o jornalista William Waack faz uma piada indiscutivelmente racista e desrespeitosa. Longe de mim querer defender ou abonar o ato, mas era algo que não seria compartilhado com mais de 5 ou 6 pessoas naquele momento. O problema foi que aquele registro, que era privado, foi difundido globalmente (com o perdão do trocadilho). É semelhante ao filho que fala pro vizinho que "meu pai diz que o senhor é um bêbado vagabundo", mas em proporções astronômicas. A falta de noção daquele momento vale o fim da carreira de uma pessoa?
2 - CASO ARANHA: Não era famosa, nem lembro o nome dela, mas a torcedora gremista que, por um conjuntura de azares, foi filmada no momento em que chamava o goleiro Aranha de "macaco" virou símbolo do racismo no futebol. Será? Ela é o catalizador do ódio racial da sociedade? Ela é a única nos estádios de futebol que xinga, e que xinga nesse sentido? Valeu como punição pra ela a perda da própria segurança, já que chegou a ter a casa incendiada?
3 - CASO RAFINHA: Rafinha Bastos, âncora do CQC, programa de humor jornalístico da Band, fez uma piada sobre Wanessa (Camargo), que estava grávida. Ele disse que "comeria ela e o bebê". De novo, piada ruim, desrespeitosa. Mas alguém achou mesmo que ele estaria na porta da maternidade esperando a oportunidade? Ele também perdeu o emprego por conta dessa piada. E olha que ele era apresentador de um programa de humor.
De novo, não defendo o que falaram, nem vou dar uma de Voltaire e "defender até a morte o direito de dizê-lo", mas é importante refletir sobre as circustâncias e contextos dos acontecimentos e, principalmente, avaliar a intensidade da punição. Quanto falta pra que essa questão chegue no ponto de causar morte, como acontece no futebol?
Se pensar bem, não é assim que o problema vai ser resolvido, no berro.
E outra... Tem muita gente roubando nosso dinheiro, nossa saúde, nossa segurança, nossa educação e não recebendo migalha dessa indignação.