Todo investidor que se dá o trabalho de estudar ou pesquisar algo sobre investimentos em Bolsa de Valores se depara, logo cedo, com um dos mais conhecidos mantras do Mercado, atribuído a Warren Buffett: “compre ao som dos canhões e venda ao som dos violinos”.
A frase tem um sentido bastante simples, na verdade: Compre na baixa, venda na alta. Mas, pra simplificar ainda mais, vamos antes falar de uma característica do mercado de renda variável: ele “vareia”. Mais do que isso, se move em ciclos, subindo e descendo. E note pela imagem que são ciclos dentro de ciclos.
Existem diversos fatores que interferem nesse comportamento cíclico da economia, que acontece também nas taxas de desemprego, crescimento de PIB, taxas de juros e tal. Mas o foco aqui são os efeitos deles na psicologia de investimentos. Veja na imagem seguinte que estes ciclos vão do pico da Euforia, quando tudo sobe e os preços dos ativos vão às alturas, ao fosso da Depressão, quando tudo cai todo dia e parece que você nunca deveria ter acreditado nessa história de “apostar na Bolsa”.
No pico tocam violinos, enquanto no fosso só se ouvem canhões.
De 2018 até hoje, o número de investidores se multiplicou em cerca de cinco vezes. Um dos motivos deve ser a valorização de mais de 100% registrada entre o fim de 2017 e o começo de 2020, pouco antes da Crise da Covid-19. De dezembro de 2017 a dezembro de 2018, foram 50% de valorização.
Aí você vê seu vizinho com essa rentabilidade toda, enquanto suas seguras aplicações em renda fixa seguiram uma Selic que derreteu lentamente de 7% para 4,5% ao ano, pouco tempo depois de se manter em 14,25% a.a. por 13 meses (2015/2016). A providência é uma só: “Vou entrar nessa festa!”. Estamos subindo a ladeira para a Euforia.
Tudo bem, tudo bom. A Selic seguiu caindo, passou meses no patamar de 2% a.a., e as excursões para a B3 seguiram mais lotadas. A própria crise trouxe várias barganhas no meio de 2020 e deixou tudo mais atraente. Mas… Malditos ciclos!
Após os sucessivos circuit breaks do primeiro semestre do ano passado, vimos o índice Bovespa dobrando de março de 2020 a junho de 2021 (15 meses) e, desde então, queda de 20%. Depois da festa, estamos na ressaca. Daquelas que, além de acordar mal, você vai piorando nas horas seguintes.
Onde estamos agora no gráfico acima? Não sei ao certo… Nunca sabemos no momento quando chegamos no fundo, na Depressão. Mas acredito que devemos estar perto do Pânico, talvez chegando, talvez já rumando para o Desânimo.
Mas voltemos ao mantra. E como é difícil segui-lo!
Primeiramente porque é preciso tomar atitudes contraintuitivas. O natural é fazer o contrário. É olhar os R$ 10.000 que você converteu em ações virando R$ 15.000 e comprar mais, porque você “sabe” que ele vai crescer. Por outro lado, ao ver o mesmo investimento reduzido a 7.500 você vai vender esses “papéis micados” antes que perca tudo. Aí o movimento é o que a imagem abaixo ilustra.
Agora é a prova de fogo. Se quiser continuar, é preciso pegar o seu dinheiro e investi-lo em algo que provavelmente vai desvalorizar agora, para dar frutos no futuro, no sentido oposto do ciclo. É comprar uma ação enquanto as vozes ao seu redor afirmam que a empresa está em vias de quebrar. Ou a Bolsa vai quebrar. Ou o Brasil vai quebrar!
Os grandes rendimentos só são vistos quando olhamos em retrospectiva, sempre iniciando em momentos de crise, quando os ativos (ações e FIIs) estavam muito baratos porque ninguém queria, quem confiou nas suas convicções colheu os rendimentos.
Como está a sua convicção? Se está em dia, escolha boas empresas, feche o home broker e só abra no Natal (de 2023, 2025 ou um pouco mais...)