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Quando a inovação cai na realidade

Por Arthur Lessa 15/10/2021 - 18:10

Você, leitor, já deve ter visto essa lista:

- Airbnb, a empresa de hospedagem que não tem imóveis
- Uber, a empresa de transporte que não tem carro
- Amazon, a varejista que não tem loja física
- Facebook, a rede de comunicação que não produz conteúdo

(E por aí vai...)

Em suma, essas e outras empresas similares são a base de alguns dos discursos mais bem recebido nas última década quando se fala de empreendedorismo, inovação e, (termo da moda)², disrupção.

O lema é “a economia antiga morreu, entre na nova economia compartilhada, onde todos são compradores e vendedores!”. Nessa onda, que recebeu também o nome de “uberização”, existem atividades que até pouco tempo nem existiam, com o dropshipping.

Tudo bem, tudo bom, tudo lindo!

Mas na prática a teoria é outra...

Você tem se incomodado com essas ferramentas maravilhosas ultimamente? Será que agora que virou rotina perdeu a magia? Ou será que os serviços ficaram mais... normais mesmo?

Vou começar falando rapidamente dos serviços de streaming (Netflix e afins). As plataformas  estão tão divididas e segmentadas que fica difícil de consumir o conteúdo que nos interessa. Me arrisco a dizer que parece mais difícil que na época das vídeo-locadoras. Sei que não é, mas parece. E isso se dá pela revolução que foi vendida e se mostrou, no máximo, uma carreata.

Tentei assistir Harry Potter com a minha filha. Tinha em apenas uma plataforma e era legendado (um filme infantil!). Acabei tendo que voltar à “retrógrada” grade televisiva, esperando chegar o horário X para colocar no canal Y e assistir sem o recurso do pause.  

Outro exemplo é o Uber, que surgiu como o exterminador dos taxis no mundo. Acontece que hoje tem sido alvo de críticas (pasmem) pelo mesmo motivo dos antecessores: serviço de baixa qualidade.

Desde o começo da escalada do preço da gasolina, que acumula 40% de aumento em 2021, tem ficado cada vez mais difícil conseguir uma carona pelo serviço. O motivo (pasmem de novo) é que os próprios motoristas têm cancelado as corridas que não tenham certeza que vá render um bom dinheiro.

Ora... Não era essa uma das “nefastas” práticas dos taxistas de rodoviária e aeroporto que mais catapultavam o abençoado-disruptivo-inovador-colaborativo-descentralizado serviço? Agora faz igual?

E não é suposição dos usuários. É fato facilmente constatável, já que o motorista pergunta o destino do cliente pelo chat do aplicativo e, se não houver resposta ou a resposta não o agradar, a corrida é cancelada. Numa empresa com hierarquia, metas, comando e organização, uma série de atitudes como essa terminaria em demissão (e sem carta de recomendação). Mas o Uber é descentralizado, conectado, jovem, quase um Paz&Amor versão Século 21.

Achei que isso era coisa de cidade grande, que não chegaria aqui. Até que aconteceu comigo, quando tive que ir a pé a uma reunião por conta de cancelamentos sucessivos de corridas. Não era falta de motorista, mas de vontade deles de atender a chamada. Quando não tem a opção de não atender, então “desligam na cara”. Cheguei na reunião atrasado, cansado, suado e nervoso. Serviço de primeira!

Não estou aqui depositando toda a culpa nos motoristas (que também não estão isentos dela), mas no sistema. Se tem que aumentar o fee inicial, reduzir a comissão cobrada pela Central (que chega a 40% em algumas situações, segundo ouvi de motoristas) ou aumentar a própria tabela para o cliente final, não sei. Nem quero saber. O que não pode é criar demanda, criar novos hábitos, implementar nova cultura e largar de mão dessa maneira.

Moro na área central de uma cidade média. Posso ficar sem carro em muitos momentos, ir ao trabalho, ao supermercado, à escola da minha filha e afins a pé com facilidade. Mas e quem mora longe do centro da sua cidade ou trabalha longe de casa?

Vale lembrar que as empresas acima não apareceram como negócios novos, com produtos apenas diferentes, como novas versões do que era proposto. Surgiram como a nova ordem mundial. Um novo estilo de vida!

Diálogo normal em meados de 2019...

Pedro: Luiz, cadê seu carro?
Luiz: Não tenho mais carro. Vendi.
Pedro: Apertou de grana, é?
Luiz: Que nada! Hoje em dia ninguém precisa de carro! Tem o Uber que leva a gente pra lá e pra cá!

[Dois anos depois...]

Luiz: Oi Pedro. Tudo bem?
Pedro: Fala, Luiz! Tudo certo!
Luiz: Vou me atrasar um pouco, ok?
Pedro: Aconteceu alguma coisa?
Luiz: Faz vinte minutos que estou esperando um Uber e nada! Seis já cancelaram!
Pedro: Relaxa! Estou indo te buscar!

Sim, esses diálogos são bem comuns...

Sim, muita gente vendeu o carro pela promessa do Uber onipresente...

Mas, no fim, Uber e semelhantes são novas caixas para a mesma coisa que sempre existiu: um serviço que, por definição básica, se faz útil ao resolver o problema de um terceiro mediante remuneração. E, como todo serviço, pode ser feito com alta ou baixa qualidade.

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