A tecnologia evolui. É inevitável. Faz parte do ser humano inventar, melhorar ou repensar o que existe.
Nessa evolução, tem coisas que morrem. Os carros trocaram os bois por motores, as máquinas de escrever deram lugar aos computadores, os filmes fotográficos eram inúteis nas câmeras digitais por aí vai...
Por outro lado, tem coisas que se mantem.
Entre as décadas de 1940 e 1950, se espalhava a certeza de que a televisão, grande tecnologia que se espalhava pelo mundo à época, iria matar o rádio.
A lógica era indiscutível. Havia surgido um aparelho “mágico” que unia a informação auditiva do rádio com imagem. No lugar de explicar quanto um incêndio estava tomando de um edifício, a tela mostrava a cena como se o espectador estivesse no local. O rádio estava com os dias contados...
Sete décadas depois, estamos em 2021 e o rádio segue vivo. E afirmo, sem pingo de dúvida, que é o melhor meio de comunicação instantânea.
Mas como? Não estávamos contando os dias para a morte? Por que segue vivo?
Adaptabilidade
A voz é a comunicação principal das pessoas. Antes de escrever, aprendemos a falar. Sempre que possível, falamos no lugar de escrever. Porque é fácil, imediato, demanda mínimo esforço e possibilita melhor expressão que a própria escrita. O rádio é conversa, é falado, é intuitivo. Não é a toa que plataformas que nasceram para a escrita tiveram que oferecer a função áudio, como Facebook, Whatsapp, Google, Instagram,...
Outro ponto é a tecnologia, que evoluiu junto com a vida das pessoas. Vejo o rádio acontecendo desde que me entendo por gente. Nas décadas de 1980 e 1990 era necessário pedir linha telefônica para realizar uma transmissão fora do estúdio. Se fosse algo rápido, imediato, o repórter na rua precisava encontrar um telefone fixo para ligar para a sede da rádio.
Ainda falando do telefone, fixo na época, este aparelho básico das casas brasileiras possibilitava ao rádio ser o único veículo de comunicação de duas vias. O locutor “abria as linhas”, falava de cá, e o ouvinte respondia de lá. Podia ser para reclamar de um buraco na rua, dar um palpite para o jogo da noite, anunciar que estava vendo uma geladeira, ou apenas ter o prazer de conversar com quem lhe fazia companhia sonora.
A partir dos anos 2000, o celular e a internet (ainda separados) começaram a fazer parte da vida cotidiana. Assim a mobilidade do rádio foi ficando cada vez maior e, o que vejo como grande virada, as redes sociais de comunicação direta (MSN Messenger e Whatsapp, principalmente) entraram pra ficar na rotina radiofônica. A diferença para o ouvinte desses novos canais para o telefone fixo é que não existe momento, não precisa de chamado, está aberto o tempo todo, mesmo fora do horário do próprio programa.
Já pensando na função do radialista, as mesmas plataformas e ferramentas possibilitam que uma entrevista, por exemplo, seja gravada sem nenhuma preparação prévia. Sacou o onipresente celular do bolso e ligou o gravador, tá montado o estúdio. Que outro meio lhe possibilita tal agilidade?
Não ocupa espaço
Se olharmos para a rotina dos dias atuais, vemos que a sociedade é pautada por termos como agilidade, objetividade e multitarefa. É aí que se destaca o trunfo mestre do rádio, que o caracteriza desde o início até hoje: você não precisa parar para consumir rádio.
Você pode ouvir rádio dirigindo, correndo, cozinhando, comendo, trabalhando, tomando banho e qualquer outra coisa que quiser. Consuma qualquer outro tipo de informação dirigindo e você sofrerá o risco de uma multa ou, o que é pior, um acidente.
Qual o próximo passo
O “próximo passo” que estamos vendo hoje em dia é o podcast. Já vi, como já estou acostumado, previsões assertivas (duvido que acertadas) de que, “agora, o rádio morre de vez”. Não vejo assim...
Vejo como um novo (e promissor) braço do rádio. Não é inédito, demanda produção e preparação prévias, equipamento e estúdio adequados e, quando com vídeo, um bom cenário. Além disso, o podcast deve ser procurado pelo ouvinte que quer consumir aquele conteúdo e apenas ele. O rádio, por outro lado, mantem o controle da grade e a possibilidade de apresentar coisas novas ao ouvinte.
Não há e (entendo que) não haverá disputa. Andarão lado a lado.
Como diria Charles Darwin, “não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”.