Tem momentos na vida em que parece que o mundo quer te passar um recado. Tudo gira em torno do mesmo assunto, que aparece das mais diversas formas e vindo dos mais diversos meios. Por outro lado, pode ser só coisa da própria cabeça, que coloca no foco tudo que é possível sobre o tema em si. Sendo o mundo externo ou o mundo da minha cabeça, vamos falar de educação.
Não é supressa pra ninguém que me conhece que eu adoro aprender coisas. Qualquer coisa sobre qualquer coisa. O papel alumínio tem um lado fosco porque a prensa que o fabrica não consegue fazer os dois lados lisos e brilhantes. Aprendi essa semana. Vai pro meu almanaque de cultura pouco útil. Não é à toa que minha família me chama de Guia dos Curiosos (lembra do livro de 1995? Foi o primeiro que li inteiro).
Então, pra mim, aprender é interessante. Conhecer coisas novas é muito empolgante. Quanto mais se aprende, mais fácil se aprende, porque a abundância de informações cria conexões que facilitam o entendimento do material novo. Grava pela lógica, não pela famigerada “decoreba”. Por falar nela, era o meu calcanhar de aquiles na escola. A obrigatoriedade de encher o caderno de textos que o professor escrevia no quadro, além de me entediar, me custava pontos. Sim... Eu perdia os pontos de participação na aula porque meu caderno estava sempre vazio. Eu fazia perguntas, resolvia equações de cabeça, mas não copiava as equações e isso significava que eu não tinha aprendido.
O modelo daquela época (fim dos anos 90, início dos anos 2000) me agoniava, não fazia sentido, não tinha objetivo. Aos 12 anos, estudando numa escola de renome, eu reclamava que não adiantava acertar, saber, provar que entendeu, embasar cada resposta, tinha que obedecer. O modelo moldava todos iguais, eliminava diferenças, desestimulava a busca por alternativas ao método estabelecido. Estilo de educação que privilegia mais a memória que a lógica. Memória, que hoje em dia, é quase dispensável. Lógica, que hoje em dia, é mínimo de sobrevivência em qualquer carreira.
Mas já falei demais de mim... Não é o foco. Foi apenas pra mostrar que gosto conhecer coisas novas, não pela escola, mas apesar dela. O fato que começou a bater no meu rosto como o vento foi como a educação de base, de escola, da segunda metade do fundamental e do ensino médio, afeta a vida futura das pessoas.
Por exemplo...
Estava conversando sobre um levantamento estatístico com um jornalista iniciante, mas muito inteligente. Em uma das perguntas, de sim e não, o resultado era quase 80% a pouco mais de 20%. Na hora falei que a manchete para esse dado poderia ser de que “quatro em cada cinco pessoas responderam isso”. Ela não entendeu. E eu fiquei abismado.
A transcrição de 80% para 4/5, é algo básico na minha cabeça. Assim como 75% é 3/4 e 50% é metade. Mas esse não é o caso em si. Me divirto com matemática, sei que não é todo mundo que gosta de “perder tempo” nisso quando pode usar uma calculadora. O que me assustou foi que eu falei que é algo que se aprende no ensino fundamental. Ele me responde, simples e direto: “Você não estudou em colégio público... Não ensinam isso lá”. Calei.
Vi no mesmo dia, em uma entrevista para a Caras, o apresentador Fred, do canal Desimpedidos, indo na mesma linha. Mesmo tendo relações com pessoas famosas e poderosas hoje, ele vem da escola pública e ainda sente os efeitos. Ele contou no vídeo (assista aqui) que isso ficou claro quando ele namorou a Jojoca, do canal Bora Jojoca, que cresceu numa situação financeira melhor e estudou em escola particular. Ele lembrou que ela perguntava “você não aprendeu isso na escola?” e ele falava “não sei nem que palavra é essa que você está usando”.
Conversando sobre isso, um amigo meu me contou que a mãe dele, que trabalhava na rede pública de ensino, não deixava que ele estudasse lá. A cidade é pequena, os professores eram os mesmos no colégio particular e no público, mas a diferença de rendimento era gritante. A explicação que eu ouvi é que “a questão não é o professor. É a cobrança, é o ambiente. É outro mundo”.
[...]
O texto já está gigante e ainda tenho mais pra falar... Então vou dividir em duas (ou três partes).
Na continuação, que deve sair amanhã, exemplos de educação no futebol e meus medos como pai.