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Só de sacanagem

Texto de Elisa Lucinda, lido por Ana Carolina, convoca ao protesto pela honestidade

Por Arthur Lessa 12/09/2018 - 18:54 Atualizado em 12/09/2018 - 19:13

A pedido de Ana Carolina, Elisa Lucinda, poetisa, jornalista, cantora e atriz brasileira, escreveu um manifesto chamado Só de Sacanagem que reflete a agonia de alguém que vê, indignado, em todos os cantos, desfilar livre e descaradamente a corrupção, grande e pequena, política e cotidiana. No segundo ato, em protesto, esse mesmo alguém decide que, contra tudo e contra todos, vai se rebelar e promover uma revolução pela honestidade. 

Além da indiscutível qualidade de construção e conteúdo do texto, escolhi esse vídeo pra abrir o Ponto Final desta quarta-feira (12) por conta da idade. É uma gravação de 2005, que mostra como as coisas não mudaram nesses 13 anos. As mazelas são as mesmas, continuamos vendo as cuecas e malas cheias de dinheiros, habeas corpus preventidos continuam sendo manchete.

Aí largo um desafio. Veja o vídeo, leia o manifesto e, se ainda assim, você desconsiderar o poder do voto, seja votando aleatóriamente, vendendo o voto, votando em branco ou nulo, tenha a elegância de não passar os próximos quatro anos espalhando ódio e fake news nos grupos de amigos e família nem batendo panela na orelha dos outros.

Assuma o seu papel. Assuma a responsabilidade. Ou não incomoda e dá espaço pra quem quer fazer alguma coisa.

Só de Sacanagem
Elisa Lucinda

Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar, malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro,  que reservo duramente para educar os meninos mais pobres que eu, para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova? Quantas vezes  minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó e dos justos que os precederam: “Não roubarás”, “Devolva o lápis do coleguinha”, ” Esse apontador não é seu, minha filhinha”.
Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo, com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear: mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão: “Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba” e eu vou dizer: Não importa, será esse o meu carnaval, vou confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau.
Dirão: “É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal”.
Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente quiser, vai dá para mudar o final!

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