Dizem, mas não confirmo, que nenhuma separação acontece de modo brusco. Que as partes vão emitindo sinais de afastamento até que um dia, um dos dois tome coragem de oficializar o pedido de separação. Fiz essa introdução teatral para fazer referência a um fato político que estamos vendo acontecer e que pode ser comparado, em algum aspecto, com as características de um rompimento amoroso.
Na manhã desta segunda-feira, o deputado federal reeleito e licenciado, Ricardo Guidi (PSD no Brasil, PL na Austrália), tomou posse como Secretário de Estado do Meio Ambiente e Economia Verde, a convite do governador Jorginho Mello (PL). Ricardo será o primeiro criciumense a compor o secretariado de Jorginho e tem a missão de trabalhar pensando no desenvolvimento sustentável do estado. Sobre o que pretende fazer no período em que ficará à frente da pasta, ele falou em entrevista ao Programa Adelor Lessa, no quadro Plenário, que tem a participação de Adelor, Upiara e eu. A entrevista está disponível aqui.
O ato de posse, conforme adiantou esta jornalista em coluna publicada na semana passada e que você poder ler clicando aqui, não teve a presença da cúpula do partido, neste caso, Eron Giordani e Júlio Garcia. Também não compareceu o colega de sigla, deputado estadual Napoleão Bernardes que alegou ter uma importante agenda em Blumenau, para tratar de barragens, por causa de enchentes. O prefeito de Florianópolis, Topázio Netto, também não compareceu.
Assim como a “falta de uma resposta”, já é, por si só, uma resposta, a ausência dos companheiros de partido citados acima, é uma mensagem barulhenta, ainda que emitida assim, sem dizer nenhuma palavra. O desgaste interno no PSD não é recente e acentuou após a chegada de Clésio Salvaro ao partido, levado com pompa e circunstância numa articulação de Júlio e Eron. Por falar nisso, Ricardo não esteve presente no ato de filiação de Clésio, em junho deste ano. Clésio, por sua vez, devolveu a ausência e, mesmo convidado, não foi à posse de Guidi nesta segunda. Clésio não foi, mas o vice, foi. Ricardo Fabris foi até a Casa D’Agronômica prestigiar o colega de partido. A divisão no PSD chegou à prefeitura de Criciúma.
Ricardo será o candidato de Jorginho a prefeito de Criciúma?
Legalmente falando, não há janela eleitoral para troca de partido de quem ocupa cargos que não serão disputados na próxima eleição. Ou seja, vereadores só podem migrar de partido na janela destinada às eleições municipais, e deputados federais e estaduais naquela janela que ocorre seis meses antes das eleições gerais. Desta forma, caso o mandatário queira trocar de partido fora do prazo, até pode fazê-lo, mas, para isso, perderá o mandato. Esse é o x da questão no enredo Ricardo Guidi x PSD x PL. Com o climão que não é mais possível disfarçar, o PSD dificilmente vai trabalhar a candidatura de Guidi a prefeito. Resta ao novo secretário, migrar para o PL para ocupar o posto de “candidato do Jorginho” na eleição municipal de Criciúma. Ricardo garante que não sai do PSD e disse que confia no que foi dito pelo presidente, Eron Giordani, de que o candidato a prefeito será quem estiver melhor colocado nas pesquisas. Mas nem Ricardo, nem Arleu, o candidato defendido para a sucessão de Salvaro, querem pagar pra ver.
Vestindo um terno bem cortado e alinhado, ele estava posicionado ao lado de Jorginho Mello, pronto para ser chamado de seu candidato, na terra do carvão. A composição cenográfica do ato de posse de Ricardo, hoje, emite sinais futuros. Jorginho, que mantém boa relação com Salvaro e atende aos pedidos de agenda do prefeito, não contou com o apoio do prefeito criciumense em sua eleição. Salvaro estava fechado com Amin no primeiro turno. No segundo, era Jorginho que não precisava de apoio já que a projeção lhe dava uma vitória folgada. A projeção se confirmou e Jorginho, que nasceu sob o signo de câncer, num 16 de julho, até sorri pra foto ao lado do prefeito. Mas esquecer aquele primeiro turno, não deve ter esquecido. Tanto é que, em seu discurso na posse de Guidi, Jorginho relembrou:
“Eu fui pedir pra todo mundo pra coligar comigo. Ninguém quis. Aí eu tive que ganhar a eleição sozinho”, disse o governador em referência à disputa do ano passado. Parece ser a senha para dizer, sem precisar dizer, que vai articular as eleições de 2024 pessoalmente e que, a partir dos sinais emitidos hoje, nem Ricardo Guidi, nem Jorginho Mello, disfarçam mais os planos futuros. “A gente tem planos pro futuro e um amor muito grande por Criciúma”, disse Ricardo. A posse do novo secretário contou com a presença de prefeitos, deputados estaduais e federais de diversos partidos, além do presidente da Acic de Criciúma, Valcir Zanette, empresários criciumenses e dos padres Eloir e Antonio Jr.
Se o PSD e Ricardo Guidi fossem casados, estaríamos prestes a ler uma nota intitulada:
“Nossa relação sempre foi baseada pelo respeito, mas estamos nos separando amigavelmente em decorrência de diferenças irreconciliáveis”.
Quem viver, verá.
Blog Maga Stopassoli
* as opiniões expressas neste espaço não representam, necessariamente, a opinião do 4oito