A projeção de reajuste de 48% na tarifa do gás natural a partir de janeiro de 2022 preocupa a indústria catarinense. A estimativa de aumento é da SCGás e o percentual precisa ser aprovado pela Agência Reguladora (Aresc). Somente neste ano, o insumo para o setor industrial acumula alta de 82%.
O gás natural é fundamental para a indústria do estado, e este anúncio preocupa. “A indústria hoje é refém do gás. Ele é importante para a indústria de revestimentos cerâmicos, por exemplo, além dos fornecedores de matérias-primas, como fabricantes de esmaltes e corantes, mas também para a indústria de vidro, a metal mecânica”, fala o presidente da Câmara de Assuntos de Energia da Fiesc, Otmar Müller.
Ainda para ele, o reajuste de 48% pegou os empresários de surpresa e explica alguns dos motivos do aumento. “Parte dos contratos de fornecimento da Petrobras para a SCGás vence em 31 de dezembro para renovação, a Petrobras está oferecendo gás a um preço muito maior na comparação com aquele praticado até esta data. Existem causas que levam a Petrobras ser a única empresa capaz de fornecer o gás natural. Isso ainda não foi resolvido pela agência nacional de regulação. Apesar de haver outros fornecedores de gás, eles não têm como entregar o gás através do gasoduto, então sobra somente para a Petrobras, que nós entendemos que está fazendo a prática de abuso de poder e monopólio. Quando o gás natural é extraído, precisa passar por um beneficiamento e ele ainda é da Petrobras. Os gasodutos para transporte de longa distância, parte já foi privatizada, mas o que atende aqui é controlado pela Petrobras. Existe este fato de propriedade do meio de transportes e existe o direito de uso do meio de transporte, é uma questão regulatória em que você compra o direito de usar o gasoduto”, enfatiza.
Reflexo no produto final
O aumento de 48% no gás pode influenciar em 15% a 16% no valor do produto final. “Tivemos 82% durante 2021, já está caro, representa 30% no custo de fabricação. Uma parte do processo da indústria cerâmica, por exemplo, é feita com carvão mineral. Na parte dos fornos, a queima, a transformação do mineral, os equipamentos são projetados para se utilizar gás. Haveria alternativa de usar o gás liquefeito de petróleo, o gás de cozinha. Mas não existe mais estrutura de fornecimento, a quantidade no Brasil é pequena e mais cara que o gás natural”, pontua Müller.
Confira a entrevista na íntegra: