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“A pesca artesanal está sendo destruída”, alega presidente de colônia de pescadores

Paulo Marinho, da Z-24 de Arroio do Silva, afirma que mesmo com todos os esforços, as licenças não são liberadas

Por Gregório Silveira Balneário Arroio do Silva, SC, 03/06/2022 - 14:31 Atualizado em 03/06/2022 - 14:40
Fotos: Gregório Silveira/ 4oito
Fotos: Gregório Silveira/ 4oito

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Os pescadores artesanais do Sul do Estado estão, literalmente, pedindo socorro para manterem-se na atividade. O fato em nada tem a ver com as condições do mar ou a pouca quantidade de peixe, mas sim, com a burocracia que atinge o setor. A falta de licença para a atividade está fazendo muitos profissionais abandonarem o serviço e, aqueles que tentam se manter firmes, passam por sérias necessidades econômicas. Agora, na safra da tainha, pescadores estão deixando as redes em casa por medo da fiscalização e de perder o pouco que ainda têm, que são os equipamentos de pesca.     

Segundo Paulo Marinho, presidente da colônia de pescadores Z-24, de Balneário Arroio do Silva, não é por falta de empenho que as licenças não estão chegando. “Muitos ainda vivem da pesca aqui. Temos pessoas que só sabem e sempre fizeram isso. Nós precisávamos ter uma política desenvolvida para o nosso próprio pescador. Deveria haver um ministério que realmente olhasse para a pesca. Estamos à mercê, sem assistência nenhuma. Quando saem algumas normas, elas apenas dificultam para o pescador. Estamos tendo dificuldades com as carteiras e emissões de licenças. Algumas carteiras novas que ficaram de ser emitidas não vieram. Ficamos mais de 30 dias dentro da colônia emitindo documentos para as carteiras e não conseguimos. As permissões de pesca não estão chegando e o nosso pescador fica em grande dificuldade. Eu sou pescador e sinto essa dificuldade na pele”, comenta. 

Burocracia que pode por fim à pesca artesanal 

Marinho ainda teme que a atividade seja extinta caso nada seja feito. “O turismo sempre caminhou junto com a pesca, essa atividade é muito tradicional. Nossa pesca está acabando, está saindo do cenário. A pesca artesanal está sendo destruída e isso é muito triste. Antigamente os pescadores viviam da pesca e tinham mais condições para isso. Não existia tanta burocracia. Hoje está mais fácil para a pesca industrial. Ela é muito mais favorecida do que a artesanal. O pescador artesanal não tem condições de comprar equipamentos e, para fazer um financiamento, é uma dificuldade muito grande, pois ele não tem nada para dar em garantia. Saem os programas governamentais prometendo empréstimo e muitas vezes isso não é fácil; quase impossível. Chegamos no banco e tem que ter avalistas, bens no nome e uma série de exigências. Muitas vezes, o pouco que o pescador tem é a rede. Pescador não tem terra. A terra que eu digo é somente embaixo da unha. Somos vinculados a secretaria de Agricultura e Pesca, mas o agricultor tem bens e o pescador não", comenta.

"Precisava ter uma secretaria somente para o setor da pesca. É uma atividade tradicional, centenária e não está sendo tratada com o devido respeito. Nosso polo aqui em Santa Catarina é muito rico em peixes, temos mais de 50 espécies, mas não podemos pescar. Não temos ninguém que olhe por nós. Estamos em época de eleição e vários candidatos se oferecem a ajudar, mas passadas as eleições ninguém efetivamente ajuda. Se ninguém fizer nada a pesca artesanal pode acabar e serão muitas pessoas desempregadas. Isso é lamentável. Se hoje formos fazer um levantamento, só o que o Balneário Arroio do Silva deixou de arrecadar com a economia pesqueira, é um valor bem expressivo. Se o pescador está na ativa ele vende o peixe, usa o dinheiro da venda para ir no mercado, no material de construção, na farmácia, ou seja, faz a economia do município girar como um todo; o dinheiro da pesca é investido aqui”, acrescenta o pescador. 

Segundo o presidente da colônia de pescadores de Balneário Arroio do Silva, muitos estão deixando a atividade e outros nem isso podem fazer. “O que o pescador que só sabe confeccionar rede e pescar vai fazer? Vai trabalhar como pedreiro? Pescador com 60 anos vai conseguir emprego em mais algum lugar? É logico que não. Por isso a situação deveria ser analisada pontualmente, senão a atividade vai acabar”, alega. 

Expectativa para a safra  

Mesmo com todos os entraves causados pela burocracia, Marinho mantém a esperança de que as licenças cheguem e que a safra seja positiva. “Tirando todos esses problemas, estamos esperançosos quanto à safra da tainha. Hoje já é dia 3 de junho, começou a temporada da pesca da tainha dia primeiro de maio, mas, até o momento, poucos pescaram. Nós dependemos muito das condições climáticas. A tainha para podermos capturar é preciso de bastante vento sul e tem que ser no começo da temporada, senão o peixe acaba passando. É preciso do frio também, pois, a tainha vem lá da geleira e de alto-mar e, se não tivermos essas condições climáticas no começo da temporada, o peixe acaba não vindo. Estamos nesse impasse. Dependemos de frio e vento, mas com um tempo limitado. Nosso mar é de corrente muito forte e com as condições de vento complica. Estamos há uma semana sem poder colocar a rede na água. Mas as informações que temos é que ainda tem muito peixe para vir. Já apareceram alguns cardumes, mas não foi nem 10% do que esperávamos”, explica. 

O presidente da colônia Z-24 ainda faz uma estimativa bastante positiva do que deve ser a safra da tainha esse ano. “Nós esperamos dobrar ou até triplicar a safra do ano passado. Em 2021, tivemos alguns lanços bons. Ainda estamos na esperança de uma boa safra, apesar de até o momento não termos tido sucesso. Isso vai ser importante para que os pescadores possam sanar suas dívidas e sustentar as famílias. São profissionais que vivem em cima de um caminhão o dia inteiro com frio e chuva, correndo atrás do ganha pão. É uma classe sofrida e que não tem amparo nenhum. Muitas vezes até o amparo legal é demorado", finaliza. 
 

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