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A promessa, o Café Filho e o carvão

No terceiro capítulo da série Centro Cultural Jorge Zanatta, visita ilustre e o Plano do Carvão no casarão

Por Denis Luciano Criciúma, SC, 01/11/2018 - 11:05

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Confira em áudio:

A notícia que mais agitou Criciúma naquele primeiro semestre de 1951 estava estampada na capa da Folha do Povo de 21 de maio. “Notícia auspiciosa!”, anunciava o saudoso semanário. “Café Filho, Ivo de Aquino e outros senadores em visita ao sul catarinense e a esta importante zona carbonífera”. Era o esforço dos que lideravam por aqui para tentar, com o necessário peso político, dar à região a infraestrutura que tanto carecia para tirar do rudimentar a indústria do carvão que a cada dia crescia.

A vinda do vice-presidente da República estava revestida de muita expectativa. Os contatos feitos pelo então prefeito Addo Caldas Faraco muito colaboravam para a promissora e prometida visita. Addo já era a essa altura figura carimbada no Palácio do Catete. Sempre que ia ao Rio, mantinha audiências na sede do governo federal. “Aquele senhor agradável de Santa Catarina”, dizia Getúlio Vargas sobre o falante interlocutor, que apregoava as maravilhas do ouro negro da Capital Nacional do Carvão. Isso em audiências de anos antes, dos tempos em que, talvez pela teimosia do três vezes prefeito fez o Plano Nacional do Carvão sediar a sua capital, ao menos sul brasileira, em Criciúma.

Após três anos de obra, coincidindo com o fim do governo Elias Angeloni, era entregue em 45 a sede do Plano na Coronel Pedro Benedet. Um prédio amplo, funcional, onde técnicos, burocratas e políticos se encontravam para falar do carvão. Dos progressos e necessidades. Tudo já estava há seis anos elencado quando, em 51, anunciava-se com muita esperança a visita do Café. Eram tempos de tensão na capital da República, e a escapada do vice ao Sul abriria nova brecha para esquentar os ânimos no Rio. Mas empolgava os políticos do sul, não apenas os do PSP do Café e de Adhemar de Barros, mas os do PSD e PTB, agarrados a Getúlio, e os da UDN, de nariz torcido mas antenas ligadas.

E de promessa em promessa é que se constrói um governo. Já era assim naquela época. Tanto que não causa surpresa, embora o espanto naquele ido de 9 de julho de 51, a manchete da Folha do Povo: “Barra e Porto de Araranguá: oportuna e patriótica obra, de vulto econômico, que o presidente Getúlio poderá acrescentar ao nosso patrimônio”. Há quem diga que o artigo, também do prefeito Addo Faraco, como tantos outros que cutucavam com os sonhos de progresso, nasceu de uma das tantas conversas com os engenheiros do Plano do Carvão ali no casarão da Pedro Benedet. Em uma das saletas onde décadas depois quadros ilustravam paredes e artistas transpiravam criatividade, um sagaz engenheiro disse ao Addo: “prefeito, façam uma barra ali no Rio Araranguá, deixem aquelas águas controláveis e melhor navegáveis, façam um porto que, se hoje extraímos um tanto de carvão, no futuro breve extrairemos muitos outros tantos”. A perspectiva de riqueza fez brilhar os olhos “do amigo de Getúlio lá de Santa Catarina”. 

Publicação simultânea no Jornal A Tribuna e Rádio Som Maior.

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