Uma ruína é sempre testemunha do que restou de uma estrutura. Vestígio do que sobreviveu ao tempo, do que suportou longos ciclos de exposição às agressões externas ou abalos súbitos”. A fala, poética, é de Guy Amado, curador da exposição artística ‘Ensaio sobre a ruína’. A mostra, aberta na terça-feira, traz a ruína em seu sentido literal, físico, mas também como metáfora para sentimentos, esquecimento, solidão, nostalgia, padrões, memórias, e reúne e marca como semelhantes às obras de quinze artistas de Criciúma e região na Galeria de Arte Octávia Búrigo Gaidizinski, anexa ao Teatro Municipal Elias Angeloni.
Divergências ao interpretar
Ao caminhar pela exposição, o visitante pode conferir a obra de Cristiano Steinmetz. Utilizando a ruína como resistência, apagamento e possibilidades de renovação de histórias, o artista propôs o tempo atual fracionado, através de faixas, que deixam a sensação de quebrada à palavra presente, escrita por cima de cada pedaço de tecido. “É uma obra relacionada com o atual estado do Brasil e do mundo, pelas crises políticas e sociais, mas que também contém uma presença física do ser humano em partes, como se estivéssemos aqui e ao mesmo tempo não estamos presentes”, explicou o curador da exposição.
Em contrapartida, a obra da artista Talia Jeremias, exposta do lado oposto ao trabalho de Steinmetz, oferece uma visão histórica sobre o tempo no qual vivemos. Há uma relação da atual realidade brasileira com o período da Ditadura Militar, entre 1964 e 1985. Alusivo ao tempo como presenta poética, o trabalho consta com um saudosismo reavivado pela artista, através de frases de resistência escritas por cima de dizeres relacionados ao regime militar. “São exemplos de obras que trazem a ruína como metáfora”, observou Amado.
Diversas artes na mesma sala
Além de obras visuais, a exposição conta também com uma trilha sonora específica. Quem visita a exposição pode ouvir um som repetitivo e indecifrável, que remete ao ruído de objetos sendo arrastados, rasurados, rasgados, como metáfora ao encerramento de ciclos, mas também a repetição do ato de ruir, ecoar pela sala de exposição. “Uma das diferentes interpretações da ruína, este som acaba oferecendo a dificuldade de discernimento e, ao mesmo tempo, a sensação de algo sendo partido, comum aos ouvidos”, colocou o especialista.
Mas o som não é a única obra exposta que segue além da contemplação material. Panfletos para uma visita guiada ao Centro Cultural Jorge Zanatta podem ser vistos em uma prateleira. A aula-conferência ocorre no dia 5 de novembro, e é ministrada pela artista Daniele Zacarão, que estuda a história do espaço cultural de suas origens, nos anos 40, até o incêndio que atingiu a estrutura no ano passado. “Essa obra remete à ruína histórica e também metafórica do Centro Cultural. Representa o início, o declínio e a futura ascenção do espaço”, apontou Amado, referindo-se a recente reforma e futura reinauguração do prédio, ao final deste mês.
Mais detalhes sobre a trajetória do Centro Cultural Jorge Zanatta podem ser conferidos em artigos diários assinados pelo jornalista Denis Luciano no jornal A Tribuna, na Rádio Som Maior e portal 4oito. As publicações iniciaram na última terça-feira e seguem até a devolução do espaço à comunidade, em 29 de novembro.