Em maio de 2018 uma comitiva deixou Criciúma rumo ao estado de Nevada. Lá, nos Estados Unidos, o grupo encantou-se com o que viu na Tesla, gigante na tecnologia de automóveis movidos a energia elétrica. "Vimos um mundo completamente diferente", atestou o professor Carlos Ferreira, diretor da Satc e um dos visitantes criciumenses, que esteve na fábrica acompanhado do diretor executivo da Satc, Fernando Zancan, e dos empresários César Smielevski e Edmilson Zanatta. A visita veio à lembrança menos de dois anos depois por conta da informação sobre a possível vinda da Tesla para Santa Catarina. "Soubemos dessa cogitação ontem, e ficamos muito empolgados. Seria bom para todos", observou Ferreira.
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A notícia do portal Tecmundo, repercutida nesta terça-feira, 18, no 4oito, foi ampliada. A revista Quatro Rodas, em sua versão online, citou a especulação mencionando o deputado federal Daniel Freitas (PSL-SC), como um possível agente da transação, via ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes. "... O político (Daniel Freitas) diz apenas se tratar de uma das “mais valiosas montadoras de carros e que poderá abrir uma de suas unidades na América do Sul no prazo de até três anos”. Ou seja, o plano é para 2023. Vale observar que, mesmo sem comunicados do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, a agenda oficial de Marcos Pontes confirma uma reunião com Anderson Pacheco, engenheiro da Tesla, no dia 12", diz a Quatro Rodas.
Sobre o engenheiro Anderson Pacheco, mencionado acima, ele é criciumense, formado na Satc e atua na área de Engenharia de Sistemas, Fabricação e Direção da Tesla. Em entrevista à Rádio Som Maior em agosto de 2017, Pacheco fez comentários sobre o avanço da tecnologia e projetava que, em poucos anos, quase um terço do mercado automobilístico seria dominado por modelos elétricos. "Acredito que vai chegar o híbrido primeiro, e depois o carro elétrico", afirmou, na ocasião, há dois anos e meio. "O brasileiro é muito inovador, daqui a pouco o mercado vai exigir isso", complementou.
Relembre, abaixo, a entrevista do engenheiro à Som Maior.
Mais impressões
Da visita à Tesla, em maio de 2018, o professor Carlos Ferreira colheu a impressão de que o mercado mudou muito de lá para cá. "Naquela época eles tinham um desafio gigante, de produzir 5 mil carros por semana. A venda era grande, com demanda via internet, e eles não estavam conseguindo equilibrar produção e demanda", lembrou. "A gente percebia, na época, que a Tesla já pensava em novos mercados, tanto que foram para a China, anunciaram uma fábrica na Alemanha e depois a América Latina seria um destino natural, e o Brasil é o grande mercado", ponderou, citando a perspectiva positiva sobre um investimento futuro da empresa no país. "Talvez essa conversa com o ministro (Marcos Pontes) tenha antecipado esse projeto", reforçou.
Embora seja uma produção extremamente automatizada, a Tesla também emprega mão de obra. "Eles começaram muito automatizados, um alto grau, tiveram que modificar, reduzir o ritmo e contratar mais pessoas. Chegaram a abrir 500 vagas por semana no ápice da produção", relatou Ferreira.
"É possível"
Por tudo o que viu na Tesla, o diretor da Satc vê sim boas possibilidades de a Tesla vir para Santa Catarina e, quem sabe, para Criciúma. "É possível sim uma fábrica aqui. Não estamos falando somente de Brasil, mas dos outros mercados consumidores vizinhos. Em 2018 eu não via essa possibilidade, pois havia outros mercados mais aquecidos", explicou. "Hoje está mudando essa questão econômica. Hoje é totalmente possível a vinda de uma fábrica de veículos elétricos", garantiu.
Mas há uma questão de infraestrutura a ser incrementada no Brasil. "O nosso país tem proporções continentais, não dá para esperar uma infraestrutura antes da fabricação e venda, as coisas deverão acontecer juntas. A Celesc, por exemplo, já está trabalhando na abertura de postos de energia elétrica para carros, e Criciúma está entre as cidades contempladas. Isso é um ótimo sinal", reiterou. "A chegada da fabricação de carros elétricos no Brasil é uma realidade, podemos errar no prazo, mas que vem para o Brasil, vem", destacou Ferreira.
Geração de empregos
A expectativa, se for confirmada a vinda da fábrica da Tesla, é pela geração de muitos empregos. Mas e a região, caso fosse contemplada, teria condições de fornecer essa gama de trabalhadores? "É um desafio grande. Muita coisa deve vir pronta da linha de produção. Em nível de chão de fábrica estamos tão bem ou melhores que os Estados Unidos. Lá, eles tem muita dificuldade para contratar profissionais de nível médico. Mas sobre desenvolvimento de projetos, precisaríamos melhorar", reconheceu o diretor.
"Uma coisa é certa: a Tesla não virá para o Brasil colocar uma fabriqueta, a indústria automotiva depende muito de pessoal ainda", detalhou Ferreira. "O veículo da Tesla é diferente, foi construído desde o princípio para ser um carro elétrico, ele tem muita tecnologai que os outros carros não têm, com aerodinâmica adequeada, bateria adequada, e tudo isso depende de mão de obra humana", aprofundou. "Outro fator que deve ser levado em conta é o clima do Brasil, que exigirá adaptações de projetos", emendou.
Demanda crescente
Santa Catarina tinha, em outubro de 2018, 733 carros elétricos rodando, um salto superior a 50% em relação ao ano anterior. Santa Catarina já conta com legislação tributária específica, via IPVA, para veículos movidos a energia. No Brasil são 17,2 mil veículos movidos a eletricidade registrados. "São veículos caros, não sabemos se há demanda ainda", opinou Ferreira.
Inowatts, o carro daqui
A Satc vem trabalhando faz algum tempo em um projeto próprio de carro elétrico. Um veículo popular brasileiro recebeu adaptação, com motor e baterias apropriados, e já foi aprovado em testes domésticos, percorrendo pequenas distâncias com autonomia e bom rendimento. "O carro elétrico já é uma realidade", diz o engenheiro Fernando Zancan, diretor executivo da Satc. A pesquisa começou em maio de 2017, a partir de um Ford Ka adaptado. Confira mais detalhes clicando aqui.