Com informações de Gregório Silveira, enviado especial a Cambará do Sul (RS)
São famosos os cânions que separam o extremo sul de Santa Catarina do nordeste do Rio Grande do Sul. "Que me desculpem os cânions americanos, mas os de lá não chegam aos pés da beleza dos nossos aqui", ilustrou o senador gaúcho Luiz Carlos Heinze, uma das muitas lideranças políticas dos dois estados que participaram, na manhã desta quarta-feira, 14, do ato de lançamento dos editais de concessão dos parques nacionais de Aparados da Serra e Serra Geral, na divisa entre os estados. O ato aconteceu na cidade gaúcha de Cambará do Sul, perto da encosta de um dos cânions, tendo ao fundo um dos paredões já no lado catarinense, de Praia Grande.
"Amanhã publicaremos o edital de licitação da concessão. A previsão de investimentos é de R$ 270 milhões por 30 anos, R$ 14 milhões nos primeiros anos anos", anunciou o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, autoridade maior do ato desta quarta, representando o presidente Jair Bolsonaro. "Estivemos nessa região em 2019, visitamos, conhecemos, conversamos com as pessoas, ouvimos da sociedade o anseio por essa concessão", referiu. "Estamos aqui para iniciar a primeira concessão de parques nacionais do governo Bolsonaro, que tem avançado no reconhecimento da importância do turismo, nesse caso do ecoturismo, como instrumento de geração de emprego e renda", destacou o ministro.
Concessionária em dezembro
A previsão é que o resultado do edital seja conhecido na última semana do ano. "Agora está aberto o prazo para propostas, esperamos que já no Natal tenhamos o resultado da concessão", relatou Salles. "Nós temos aqui o desafio de fazer avançar o ecoturismo gerando prosperidade com garantia da preservação ambiental", pontuou. "As pessoas que não conhece, que não frequentam, não sabem a riqueza que é esse canyon, essa região, esse eixo", destacou.
Salles vê com entusiasmo a concessão dos parques aos investimentos privados. "Há no novo modelo de concessões uma abertura para os concessionários apontarem outra forma de investimento, é o reconhecimento do empreendedorismo, do trabalho, da livre iniciativa, do poder criativo do setor privado. No curso da concessão vamos considerar o que vier de novidade, as alternativas trazidas, sempre com respeito à questão ambiental, ao plano de manejo e conservação, mas priorizando a livre iniciativa e a prosperidade", frisou. "É necessário que a gente abra espaços para o setor privado contribuir com esses investimentos e promover, atrair investimentos, atrair alternativas que estejam alinhadas com as melhores práticas, com o que há de melhor no ecoturismo mundial", sublinhou Salles. "Uma joia como esses parques será de grande interesse do setor privado", completou.
Os acessos
Para quem parte de Santa Catarina, há uma dificuldade para alcançar os parques, a partir da divisa com o Rio Grande do Sul. O acesso se dá pela SC-290, via Serra do Faxinal, rodovia precária, em chão batido e com curvas, trechos sinuosos, buracos e extensões estreitas. Há pedregulhos no caminho também, em uma extensão de cerca de dez quilõmetros entre Praia Grande e o estado vizinho.
No projeto de concessão, não existe previsão de investimento direto na rodovia no lado catarinense, o que deverá ser providenciado pelo Governo do Estado. Já no trecho gaúcho houve, no projeto, uma preocupação de garantir acesso em boas condições entre a cidade de Cambará do Sul e os parques. "Temos uma preocupação que a cidade seja beneficiada, a população de Cambará do Sul e de Praia Grande que vai ajudar a promover, a divulgar, a prover os serviços e a infraestrutura necessária. Nada mais natural que a gente prestigie as cidades", ponderou o ministro.
Questionado sobre os benefícios para o lado catarinense, o ministro Salles garantiu que "ambos os estados se beneficiam da concessão. Há um eixo de turismo importante tanto vindo por Santa Catarina quanto pelo Rio Grande do Sul, chegando por um local que é um tesouro igualmente belo e atrativo. As duas cidades, os dois estados se beneficiam e muito".
Governadores não foram
Os governadores de Santa Catarina e Rio Grande do Sul foram representados por seus vices, Daniela Reinehr e Ranolfo Vieira Júnior. "É um momento muito importante, muito esperado, que com certeza essa concessão, esse lançamento vai possibilitar que a gente tenha uma infraestrutura melhor, estamos em um momento de grandes desafios, de procurar parcerias para desenvolver todos os potenciais que o nosso estado tem", saudou Daniela. "Traz qualidade de vida, emprego, desenvolvimento, é um empreendimento que vai trazer maior qualidade para o turista que visita aqui mas também para a população", emendou.
A vice catarinense lembrou do potencial que o turismo tem para Santa Catarina. "É um dos grandes valores o turismo, e eu fico muito contente que estar aqui, de ver esse encaminhamento, tenho certeza que vai, nesse momento de retomada, aos poucos, com cuidado, trazer o turismo, um grande fator econômico de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul", destacou.
Daniela comentou, ainda, que esse investimento vem em uma hora de necessidades para o estado. "Apesar de todas as crises que temos vivido, e Santa Catarina foi muito castigada, não só pelo coronavírus, mas tornado, chuva, seca, a gente teve uma série de dificuldades mas mesmo assim a nossa economia está andando, girando bem, precisamos seguir o trabalho, o foco é esse, por mais difícil que seja conciliar todas as coisas a nossa missão aqui é com o desenvolvimento do estado, esse é o meu compromisso com Santa Catarina", finalizou.
Uma espera de 30 anos
O presidente da Santur (Agência de Desenvolvimento do Turismo de Santa Catarina), Mané Ferrari, também participou do ato em Cambará do Sul. "Finalmente essa concessão saindo do papel, depois de 30 anos, vindo para beneficiar o turismo e mostrando uma das portas de entrada do turismo em Santa Catarina que é o sul do estado", destacou.
Ele salientou, ainda, a liberação mais cedo, em Araranguá, de recursos para a construção de um mirante junto ao farol do Morro dos Conventos, em Araranguá. "Também tivemos em Araranguá para assinatura de um termo do farol de Araranguá, onde será feito um mirante com recursos do Governo do Estado. Em menos de 60 dias viemos e já empenhamos isso, e agora na região dos canyons vamos oficializar a construção de dez pórticos começando a rota cênica de Santa Catarina, um investimento nessa região que sempre foi muito esquecida", comentou.
Sobre a concessão dos parques na divisa com o Rio Grande do Sul, Mané qualificou o ato de histórico. "Na verdade é uma concessão federal, vão ter uma série de documentações que deverão ser cumpridas, a empresa vencedora terá que fazer uma infraestrutura dentro do parque, de molde sustentável, a gente ter agora uma infraestrutura de fato, o que merece nesse parque, um lugar sem igual, a nossa Capadócia brasileira está aqui e precisamos valorizar. Isso é um ato histórico", destacou.
Senador prevê um milhão de visitantes
O senador Luiz Carlos Heinze, do Rio Grande do Sul, citado antes como autor da comparação entre os cânios do sul catarinense e os norte americanos, fez uma previsão arrojada, em fala direcionada ao ministro Ricardo Salles. "Se prepare, ministro, isso aqui seguramente teremos 1 milhão de turistas em pouco tempo, o que será Praia Grande e Cambará, são quatro municípios catarinenses e três gaúchos que serão beneficiados, será uma revolução para o turismo", comentou.
Heinze destacou, ainda, outros investimentos que a União fará no turismo gaúcho que deverão impactar inclusive em Santa Catarina, como a criação de um aeroporto na região serrana. "Temos o turismo de Canela e Gramado, da Serra gaúcha, o aeroporto da Serra Gaúcha será outra obra importante, aviões de qualquer porte poderão chegar nesse aeroporto. Esses cânions maravilhosos, que os estrangeiros conhecem, os brasileiros precisam frequentam mais e conhecer melhor", finalizou.