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Bacias de decantação, as barragens do Sul

Estrutura da Mina Lauro Müller é padrão das minas de carvão da região e se assemelha a um açude

Por Bruna Borges Lauro Müller, SC, 30/01/2019 - 10:03
É perceptível a diferença das bacias daqui às barragens de Minas / Fotos: Daniel Búrigo / A Tribuna
É perceptível a diferença das bacias daqui às barragens de Minas / Fotos: Daniel Búrigo / A Tribuna

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A Agência Nacional de Mineração (ANM) incluiu em sua Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) nove estruturas localizadas em Santa Catarina, todas elas na Região Sul. São espaços que, assim como as de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, recebem rejeitos da mineração e parte da água utilizada no processo. No entanto, a imagem das barragens das minas de carvão catarinenses em nada se assemelham às estruturas vistas e revistas nos últimos dias e em 2015.

A reportagem do Jornal A Tribuna visitou o complexo da Mina Lauro Müller, localizada na cidade de mesmo nome, de propriedade da Carbonífera Belluno, e a impressão é de que as barragens, chamadas de bacias de decantação, são, na verdade, açudes. São estruturas com altura de poucos metros acima do chão e onde foram cavados também poucos metros de profundidade.

Volume 80 vezes menor

Também muito diferente da barragem que se rompeu recentemente no estado mineiro é o volume de materiais depositados nas barragens locais. No caso da Mina Lauro Müller, três bacias formam o que a ANM considerou em seu relatório como uma única barragem e, de acordo com a medição do órgão fiscalizador, o volume de materiais depositados atualmente é de 150 mil metros cúbicos, enquanto o que vazou em Brumadinho foram aproximadamente 12 milhões de metros cúbicos. Em comparação, a barragem em Lauro Müller é 80 vezes menor em volume.

“A nossa produção é muito pequena em relação ao que se faz em Minas Gerais. Nós produzimos uma média de 5 mil toneladas (de carvão) por dia, essa é a nossa maior produção. E lá fora se produz de 600 mil a 1 milhão de toneladas por dia, por isso geram barragens gigantescas e alteadas. As nossas não, as nossas são bacias fixas e pequenas”, explica o engenheiro de minas da Carbonífera Belluno, Gerson Ribeiro de Souza Júnior, que tem, ainda, mestrado em ruptura de barragens de grande porte.

Maior parte dos rejeitos não vai para as barragens, mas sim para depósitos sólidos

Último processo da mineração

Para entender a função das bacias de decantação (barragens), é preciso explicar o processo de extração do carvão mineral. Em um primeiro momento, o material retirado do subsolo das minas é levado à usina de beneficiamento. No caso da Mina Lauro Müller, a usina fica a aproximadamente dois quilômetros do local onde inicia o processo de extração.

O material é levado por caminhões e nessa usina ocorre a separação do que é material aproveitável (carvão) e o que é inservível (rejeito). A maior parte desse material que não será utilizado é levado já de imediato para os depósitos de rejeitos sólidos, localizados ao lado da usina de beneficiamento.

Água utilizada no processo passa por uma estação de tratamento e volta ao circuito operacional 

No depósito, o rejeito é depositado por caminhões, depois um rolo compactador espalha esse material, em seguida ele recebe um material argiloso e, por último, é inserida uma camada de vegetação, utilizada principalmente para evitar erosões.

Já nas bacias de decantação, as barragens propriamente ditas, é depositada a água utilizada no processo de beneficiamento. Essa é uma água que contém, também, rejeitos finos do carvão. “A água que utilizamos aqui (no beneficiamento) vai para a bacia ao lado. A água vai suja, o material decanta e depois a gente pega a água limpa, que volta para o processo. O que vai para a barragem é uma polpa, formada de água e material fino”, esclarece Souza Júnior.

Estação de Tratamento de Efluentes

Ao ser depositada nas bacias de decantação, a água – como o próprio nome já diz – é separada dos rejeitos e o excedente de líquido não é descartado, ele retorna ao processo de beneficiamento do carvão, o que é chamado de circuito fechado. Mas, antes de ser reutilizada, a água ainda passa pela Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), outra estrutura localizada no complexo da mina.

Na ETE são retiradas as impurezas do líquido para que ele possa retornar ao ciclo sem a possibilidade de danificar materiais. Também é possível que, caso haja água em quantidade superior ao necessário, ela seja descartada no curso do rio e, nesse caso, por conta do tratamento, ela é devolvida com o pH equilibrado, em condições que não agridem ao meio ambiente.

Procedimentos elevam a segurança

o andar pelo complexo da Mina Lauro Müller o máximo que se pode avistar é uma residência, localizada em um morro, no trajeto entre a usina de beneficiamento e o local da extração. Os demais metros quadrados são formados por vegetação e pelas próprias instalações da empresa.

O tamanho das barragens, como citado anteriormente, também é pequeno. Enquanto barragens em Minas Gerais ocupam 500 hectares, as três da empresa carbonífera não chegam a um hectare. A maior bacia da empresa pertence a outra mina, na cidade de Treviso, e é a maior de todas, possuindo 2,4 hectares. Além disso, elas são fixas, ou seja, não serão alteadas (erguidas paredes acima), como no caso de Brumadinho.

Engenheiro Gerson explica que estruturas das minas de carvão não são parecidas com as que romperam em Minas Gerais

Todos esses itens fazem com que a segurança nas estruturas do Sul de Santa Catarina seja elevada. “Não existe nenhum risco de rompimento das nossas barragens e a quantidade é infinitamente menor do que as de Minas Gerais, haja vista que lá se produz por dia 600 mil a um milhão toneladas de minério. Aqui se produz cinco mil”, declara o engenheiro de minas Gerson Ribeiro de Souza Júnior. “E, ainda assim, caso rompa, o máximo que pode acontecer é alguém passar na estrada e molhar o sapato”, complementa.

Planos de emergência

Mesmo considerando o baixo volume de material depositado nas bacias, a legislação prevê que as barragens sigam planos de ações em caso de emergências, e na Mina Lauro Müller não é diferente. Ao lado da bacia fica uma sirene que toca e casos específicos de risco.

“Tem uma boia dentro da bacia e, se a água chegar a um determinado nível, essa boia vai alertar que a água está alta, tocando a sirene. Tem, também, câmeras de vídeo para o monitoramento e são feitos, ainda, simulados, para o caso de rompimento”, comenta o engenheiro de Segurança do Trabalho, Guilherme De Bon Búrigo.

Tecnologia daqui é exportada

Ainda em relação à tecnologia de barragens, a Carbonífera Belluno foi a primeira a implantar um sistema desenvolvido pelo Centro Tecnológico do Carvão Limpo (CTCL), da Satc, em parceria com uma empresa suíça. Essa inovação será levada para implantação em grandes barragens.

“É um processo computacional feito na Suíça e que prevê onde vai a lama, por onde ela vai andar. Nós fomos os primeiros a fazer, as demais seguiram, virou norma e agora vai para o Brasil inteiro”, conta Souza Júnior.

Carbonífera aposta em sistema desenvolvido na Suíça para a segurança

“Nada mais é do que o seguinte: se a bacia arrebentar aqui, o que acontece com a lama? De acordo com a imagem topográfica, em 3D, dá para ver como essa lama vai se comportar até se dissipar, quanto de profundidade, minuto a minuto, segundo a segundo, como você quiser verificar. Estamos levando essa tecnologia das nossas bacias pequenas, banheiras até que a gente chama, para as piscinas gigantes”, completa o engenheiro de minas.

Sobre a Mina Lauro Müller

A Mina Lauro Müller está localizada na comunidade de Rocinha e produz aproximadamente 5 mil toneladas de carvão bruto por dia, chegando a um total aproximado de 1,2 milhão de toneladas todos os anos. Todo o processo de extração é feito de maneira mecanizada, com a utilização de um equipamento chamado minerador contínuo, e o auxílio de 259 funcionários.

Unidade da Carbonífera Belluno produz 1,2 milhão de toneladas de carvão ao ano

O carvão, já beneficiado, é transportado via Ferrovia Tereza Cristina até a Usina Termoelétrica Jorge Lacerda, em Capivari de Baixo, onde sofre o processo de queima para a geração de energia elétrica. A Mina Lauro Müller opera desde 2009 e a reserva é suficiente para mais 20 anos de exploração. A Carbonífera Belluno tem 22 anos de experiência em mineração.

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