A primeira fase do Campeonato Catarinense vai chegando ao fim e o Criciúma ainda coloca dúvidas sobre até onde pode ir. Com a classificação antecipada conquistada no empate sem gols contra o Figueirense, o time convive com as críticas vindas da arquibancada, exemplificadas nas vaias ao fim da partida. A incerteza paira também sobre o modelo de jogo da equipe: em nove jogos, oito pelo Catarinense e um pela Copa do Brasil, não houve repetição de escalação. A reportagem fez um levantamento sobre as constantes trocas de Cavalo e traz uma avaliação do comentarista João Nassif, do Timaço da Rádio Som Maior, sobre a falta de padrão da equipe.
São nove jogos e nove escalações diferentes. Além de não repetir a equipe, Cavalo também altera constantemente o esquema tático, seja de uma partida para a outra, seja dentro do próprio jogo. Até o momento, a preferência tem sido pelo 4-3-3, mas houve bastante variação para o 4-4-2 e até um 3-5-2 contra o Santo André, no que foi a pior atuação da temporada: goleada sofrida de 4 a 1 e eliminação na primeira fase da Copa do Brasil.
Num cenário turbulento nas arquibancadas, o discurso no Heriberto Hülse tem sido de aceitação das vaias, procura pela evolução e os problemas causados pelo curto tempo de trabalho - o Tigre foi uma das últimas equipes a se apresentar para o Catarinense. "A forma de jogar, da maneira que buscamos e treinamos, demora um pouquinho (para engrenar) porque não tem a equipe definida e entrosada", afirmou Cavalo após o empate contra o Figueira.
A incerteza na hora das escalações - geralmente anuncidas pelo técnico à imprensa apenas minutos antes da bola rolar - traz, no entanto, algumas preferências do treinador. Ao menos um pilar da equipe pode ser definido: são os atletas que mais começaram as partidas na temporada.
Defesa ok
O sistema defensivo tinha Paulo Gianezini, titular em oito partidas, como uma das referências. No entanto, a dúvida foi levantada com o anúncio de Agenor, um dos heróis do acesso do Tigre à Série B em 2010. Com a lesão de Gianezini, Agenor começou a partida contra o Figueirense e deve ganhar novas oportunidades.
Victor Guilherme, na lateral direita, atuou em seis oportunidades e ganha ainda mais espaço com a ida de Carlos César para o meio-campo. Na zaga, Rodrigo Milanez é o único do elenco que atuou em todas as nove partidas da temporada. Sem Kaíke em condições ideais, Bruno Oliveira também é uma certeza momentânea na lateral esquerda, com sete partidas, mas pode perder espaço com a evolução da concorrência: Kaíke vem treinando entre os titulares nas últimas semanas, mesmo sem ganhar chances durante os 90 minutos.
Meio-campo com quatro ou três jogadores?
No meio-campo, começa a confusão. Seja com três ou quatro jogadores, Foguinho, capitão do time, é o confirmado do setor, com sete aparições. No entanto, o jogador divide funções durante os noventa minutos. Joga mais avançado, caindo pela direita ou até mesmo auxiliando na saída de bola, às vezes tudo isso na mesma partida.
Na primeira função, Adenilson foi o preferido até agora, atuando em seis partidas, mas ganha a concorrência de Eduardo, que começou a temporada lesionado e vai retornando aos poucos no time, com quatro aparições entre os titulares. Eduardo também pode atuar mais avançado, como segundo ou terceiro homem.
Dois jogadores parecem contar com a confiança de Cavalo, mas alternam de funções: Carlos César, lateral direito de origem e artilheiro da equipe, com quatro gols, e Léo Ceará, meio-campista. Os dois têm seis aparições cada no time titular e já foram improvisados no ataque, na função de falso nove; Léo Ceará também alternou para os extremos.
"É cartão, lesão, problema no sistema. Fizemos um jogo com o Brusque em que começamos bem e terminamos não da forma como queríamos. Contra o Figueirense tivemos poucas situações, mas tivemos a bola do jogo. Vamos rever algumas posições contra o Joinville, alguns jogadores não tiveram oportunidade e poderão ter. Não estamos satisfeitos com o desempenho de todo o elenco, mas estamos no caminho certo", projetou Cavalo.
Ataque sem o nove
Se o meio-campo é indefindo, no ataque a situação chega a ser caótica. Sem um centroavante fixo confirmado, Cavalo improvisou jogadores com a nove: Carlos César uma vez e Léo Ceará em duas oportunidades. Pelos lados, Andrew parece unanimidade, com cinco jogos e dois gols marcados - ele ausentou-se das últimas partidas devido a lesões. Pelo outro lado, João Carlos e Jajá disputam posição com Léo Ceará. Com exceção de Ceará, os outros dois têm um gol marcado cada. Jajá começou a temporada como titular, mas João ganhou espaço nas últimas rodadas.
Daniel Cruz apareceu pela ponta e em momentos como centroavante; Edinan e Eduardo Melo também receberam chances na referência, mas não emplacaram: Edinan atuou na segunda rodada e depois não ganhou nova oportunidade. Publicamente, o clube busca um jogador para chegar e assumir a camisa 9.
"É questão de tempo, entrosamento (a evolução da equipe). Já tem um número de jogos, mas os erros vão acontecer. Tem que saber trabalhar em cima do erro. Estamos tentando achar a melhor equipe para jogar, ter um sistema de jogo definido a gente ainda tem dificuldades. No decorrer do campeonato, na hora que mexer o menos possível e entrosar mais, vamos ter uma equipe melhor dentro de campo", prometeu o técnico.
Qual a escalação "ideal"?
Sem a definição do técnico, a reportagem adotou um critério para tentar responder à pergunta: fez uma análise do número de vezes em que cada jogador começou como titular, mas levou em conta a tendência das últimas partidas: na zaga, por exemplo, Vitão tem menos partidas do que Fabão, mas desde que chegou tem sido titular ao lado de Milanez; o mesmo acontece com Agenor, que com a lesão de Gianezini, tende a ganhar sequência e pode virar o titular. O esquema é o 4-3-3, usado em cinco oportunidades.
Agenor; Victor Guilherme, Rodrigo Milanez, Vitão e Bruno Oliveira; Adenilson, Foguinho e Christofer; Jajá (João Carlos), Léo Ceará (Carlos César) e Andrew.
No mercado
Segundo informações do repórter José Walter, do Timaço da Rádio Som Maior, o Tigre pretende anunciar ainda dois jogadores até o dia 19, prazo final para a inscrição de jogadores no Campeonato Catarinense. Um deles deve ser o camisa nove pedido por Cavalo.
Para o jogo contra o Joinville, Cavalo deve mandar a campo uma equipe mais uma vez com mudanças. Segundo José Walter, a projeção, baseada nos treinos da semana, aponta para um time escalado com: Agenor; Victor Guilherme, Rodrigo Milanez, Vitão e Kaike; Adenilson, Eduardo, Foguinho e Alisson Taddei; Léo Ceará e Jajá.
Fala, Nassif
"A reportagem fez um levantamento sobre a escalação do Criciúma nos nove jogos que realizou na temporada. São oito pelo campeonato estadual e um pela Copa do Brasil.
O time começou os jogos com várias formações que mostram a total falta de convicção do técnico Roberto Cavalo/Wilsão. Ora o time iniciou com três atacantes, ora com dois, mostrou preferência por três volantes, mas já começou com dois, e até inventou os três zagueiros em Santo André quando passou pelo maior vexame na temporada.
Para piorar o quadro, as alterações em meio aos jogos modificam a forma de jogar e mostram que a busca pela excelência é feita por tentativas de encontrar o modelo ideal.
Se nós que vemos os jogos acompanhando de fora temos a sensação de total descontrole do comando, fico imaginando os jogadores que além da pouca qualidade ficam sem noção do que efetivamente devem cumprir.
É triste ver um time que há muito perdeu sua identidade e cada vez mais sinaliza um futuro sem qualquer perspectiva de sucesso".