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Centenas de ciclistas mobilizam-se em pedalada cobrando ciclovia em Criciúma

Protesto tomou a Avenida Centenário nesta quarta-feira, 24 horas após jovem de 13 anos ser atropelado por ônibus enquanto andava de bicicleta

Por Heitor Araujo Criciúma - SC, 24/06/2020 - 20:56 Atualizado em 24/06/2020 - 21:41
Fotos: Heitor Araujo
Fotos: Heitor Araujo

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Concluída na década de 80 onde antes os trilhos cortavam a cidade, a Avenida Centenário é a principal via de locomoção de carros e ônibus em Criciúma. No fim da tarde de terça-feira, 23, às 18h, um jovem de 13 anos andava de bicicleta, quando segundo testemunhas desequilibrou-se, caiu no corredor de ônibus e foi atropelado por um veículo do transporte coletivo. A morte do jovem desencadeou um protesto com centenas de ciclistas na noite desta quarta-feira, o que pode ser o marco inicial para uma nova era de mobilidade no município.

A tragédia de terça-feira mobilizou mais de 12 grupos de ciclistas da cidade para uma reivindicação antiga, mas que parece não ter data para sair do papel: a construção de uma ciclovia na Centenário. Por volta das 18h30 desta quarta os manifestantes começaram a chegar no local do acidente que vitimou o jovem de 13 anos, próximo à rodoviária. Uma hora mais tarde, o padre Maike Leo Grapiglia rezou um pai nosso em homenagem ao jovem. Depois, entre 500 (número projetado pela Polícia Militar) e 800 ciclistas (estimado por um dos organizadores do protesto) saíram da região central em pedalada pela Centenário, inicialmente até a Próspera e retornando até o Pinheirinho. 

Padre Mike, ciclista, rezou um pai nosso antes do percurso

A manifestação envolveu grupos de ciclistas, que reúnem-se para realizar passeios pela cidade e região, mas também muitas pessoas que usam a bicicleta como meio de transporte e reivindicam mais segurança para locomoção em Criciúma. De acordo com o coordenador do Grupo Pedal, Rodinei Fernandes, grupos de outras cidades, como Cocal do Sul e Urussana, integraram a manifestação e o número de ciclistas surpreendeu, ultrapassando os 800.

"Uma manifestação pacífica. Convocamos vários grupos, de vários lados para fazer esse protesto. O que a gente vem sempre reivindicando é uma ciclovia em toda a Centenário. Usar calçada não pode, pista do amarelinho não pode, para onde vamos então? Criciúma está tomada de bicicleta, dia a dia entra mais. É a era da ciclovia. Fez pavimentação nova, tem que ter ciclovia", disse Rodinei. "Aqui na Centenário o projeto está pronto, falta desengavetar", acrescentou o ciclista.

A dificuldade para quem anda de bicicleta em Criciúma é diária. "Tem muita gente que quer pedalar, mas tem medo. O meu sobrinho, tadinho, estava há um ano pedalando feliz da vida, pedia para eu colocar no grupo... Ontem o amarelinho recolheu ele", lamentou Rodinei. Professor, Alex de Souza mora em Criciúma há 15 anos e atualmente trabalha em Içara. Ele vai de bicliceta ao trabalho, em mais de 45 minutos diários para ir e mais 45 para voltar. Ele relata que já foi atropelado duas vezes pedalando.

"Um carro, quando eles estavam construindo o retorno de Içara, escorregou e atravessou a pista, me pegou na calçada. Não tem espaço para o ciclista, tenho que andar na calçada. Quando eu retorno do trabalho, a partir das 17h, é complicado. Tem que se cuidar, porque os carros não respeitam de maneira nenhuma", disse. "Eu tinha problema de saúde e hoje me curo pela bicicleta, porque é prazerosa", acrescenta o professor.

Alex, Chiquinho e a bike dos anos 80

Alex estava no protesto com Francisco Manuel Guimarães, conhecido como Chiquinho. Maratonista, com 77 anos é o mais velho na manifestação. Tem a mesma bicicleta há 40 anos, uma "original japonesa que na época paguei preço de um fusca", segundo ele. Chiquinho afirma que é muito difícil andar de bicicleta em Criciúma e prefere praticar em outras cidades, como Florianópolis e Camboriú. "Criciúma não tem nada a ver com ciclismo, não existe pista e segurança. Temos uma grande avenida para desenvolver. A Centenário é o local mais apropriado para desenvolver para trabalho e prazer o ciclismo", avalia.

A bicicleta é uma fonte de saúde e também um meio de transporte para a população, que pode, se estimulada, inclusive diminuir os engarrafamentos - um problema conhecido para os motoristas em Criciúma, especialmente aqueles que precisam trafegar pela Centenário nos horários de pico. Jailton Borges dos Anjos, 26 anos, vai ao trabalho de bicicleta e juntou-se ao grupo para pedir mais ciclovias. "A gente usa a bicicleta para o dia a dia, a gente procura manter a segurança, mas é complicado. Tem quem respeite e tem quem não respeite. Agora na pandemia usei muito a bicicleta para ir ao trabalho. Todos tem seus direitos, a gente quer ver se consegue mais pela bicicleta". diz.

"Na Via Rápida aquela ciclovia já é uma melhora para o ciclista. Andar de bicicleta é o meu meio de transporte, pelo caos e dia a dia de Criciúma é complicado para todo mundo. Somos todos trabalhadores, a gente não pode ser hipócrita, a gente já fez e se corrigiu. É muito comum o motorista cortar, não dar a vez e não respeitar o ciclista", lamentou Jailton. 

Jailton usa a bicicleta para ir ao trabalho

Entre os manifestantes, havia quem já se acidentou de bicicleta. É o que contou Moisés Nairon, 34 anos, à reportagem. "Sofri dois acidentes, em ambas eu estava em ciclofaixa e o motorista alegou depois que não sabia que ali tinha ciclofaixa. Ele invadiu e nas duas eu tive prejuízo físico e não me machuquei. Se na ciclofaixa quase não tem segurança, imagina onde não tem", relatou Moisés. 

"Só ter ciclovia ou ciclofaixa não é suficiente, tem que ter trabalho de conscientização. Faltou atenção ao motorista, quando sai de uma rua e vai atravessar, se ele não sabe que tem ciclofaixa ele só olha para um lado, só que a ciclofaixa é mão dupla. Falta atenção e conscientização do motorista", completa o ciclista.

Após a intensificação da pressão dos ciclistas para a construção de uma ciclovia na Centenário, a prefeitura de Criciúma emitiu uma nota, na noite de terça-feira, classificando como "justas" as reivindicações, mas questionando o momento em que é feita. "Em que pese o Governo Municipal não só projetar, mas agir nessa direção, como a execução do grande Projeto de Mobilidade Urbana de Criciúma, que vai implantar quase 24 quilômetros de ciclovias em nossa cidade, ainda assim, acreditamos que, por hora, o momento é de sermos sensíveis ao luto familiar.

Externamos aqui empatia, profunda compaixão, e não, um acalorado debate. A Prefeitura de Criciúma continuará à disposição para discutir, em muito breve, mas em momento oportuno, com as diferentes classes da sociedade civil, incluindo os ciclistas, as melhorias na mobilidade urbana do município, com todas as soluções já em execução, e outras, que serão executadas".

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