Cerca de 2,5 mil unidades consumidoras que a Coopera atende em diversos bairros de Criciúma deverão passar para a titularidade da Celesc no fornecimento de energia elétrica. A cooperativa de Forquilhinha foi notificada no último dia 12 para operar a mudança, sob pena de uma multa de 2% sobre o faturamento. Para o presidente da Coopera, Walmir Rampinelli, a solução para atender ao interesse dos cooperados, que é continuar com o atendimento atual, passa por uma reunião com o governador Carlos Moisés.
"Reunimos as lideranças, discutimos, mas o nosso plano foi feito, o nosso plano de transferência é obrigado a ser feito em razão da multa. Eu vejo hoje que a saída que nós temos é ir ao governador, pedir que fale com o presidente da Celesc e que vamos protelar mais um ano. Não tinha hora pior, momento pior para que isso fosse feito, para que essa transferência fosse efetuada. Nossos cooperados, sofrendo com a pandemia, muitos com dificuldades de pagar a tarifa, empresas parcelando faturas, veem mais essa notícia que vai encarecer pelo menos 40%", apontou Rampinelli, em participação na sessão da Câmara de Vereadores nesta segunda-feira, 1.
"A nossa inadimplência, que era de R$ 1,4 milhão, passou para R$ 5 milhões. Isso reflete que o nosso cooperado está em dificuldade. Imagine quanto maior será a dificuldade se tiver que pagar ao menos 40% mais. Com certeza a inadimplência aumentará e estaremos criando dificuldades para eles", destacou.
Houve uma notificação anterior, em 2017, pela Celesc aos clientes sobre a mudança, que faz parte de uma antiga discussão entre as fornecedoras. "Mas aquela notificação da Celesc não atendeu aos regulamentos. Primeiro, é necessário respeitar um prazo de 180 dias entre notificação e efetiva transferência", explicou o presidente. "Hoje nós estamos notificando nossos cooperados, depois é preciso aguardar o prazo legal de 180 dias, depois há uma questão financeira a resolver. Há parte da rede da Coopera que vai para a Celesc, é preciso atualizar esses laudos. Mas, tecnicamente, em menos de 60 dias há condições de fazer essa transferência", destacou.
As localidades abrangidas pela medida são Sangão (após o pontilhão, no sentido Forquilhinha a Criciúma, na altura da usina de asfalto), a margem esquerda da Rodovia Luiz Rosso no sentido Criciúma a BR-101 e o Bairro São Sebastião até o limite com o São Defende. "E tem também casos de consumidores da Celesc que passam para a Coopera, caso da Vila Feltrin, junto ao Aeroporto Diomício Freitas", comentou Rampinelli. A região do Bairro São Domingos também será transferida, pela medida, da Coopera para a Celesc.
Retrospecto
O presidente enalteceu a Coopera por ter feito todo o investimento em um período no qual a zona rural de Criciúma não interessava à Celesc.
"Outro problema importante é do preço da energia", lembrou o presidente, reforçando a previsão de que o insumo ficará 40% mais caro para os clientes. "No passado, quando a Celesc não quis atender essa região que era deficitária, foi a Coopera quem fez quilômetros de redes. Os prejuízos eram grandes. A cada trovoada os postes caíam, a energia faltava, mas a Coopera não desanimou. E assim o desenvolvimento foi chegando, e a Celesc também foi querendo cruzar as linhas nessas áreas. E quando as linhas se cruzaram, Coopera e Celesc tiveram que fazer acordo por solicitação do órgão regulamentador", lembrou.
Em 2003 houve uma primeira tentativa de acordo. Na ocasião, a Celesc propôs que a Coopera ficasse somente com Forquilhinha, o que não foi aceito. "A Celesc voltou, em nova reunião, e disse que ficamos com Forquilhinha e Nova Veneza, deixar Criciúma para a Celesc. Também não aceitamos. Na terceira, impuseram que as poligonais passariam e tornariam a linha reta. Isto é, São Sebastião ficaria fora, São João, São Domingos, uma parte do Morro Estevão e assim, nessa época, foi feito. Em 2006 foi assinado o contrato", referiu. "Segundo a Aneel, teríamos nesta época 180 dias para fazermos as transferências. Muitas foram as tratativas para que a Celesc fizesse as transferências, até porque nós tínhamos medo, relendo os arquivos, de que fosse sofrer uma sanção", detalhou.
Anos depois, um novo prazo foi alcançado para evitar a transferência. "Fomos ao presidente da Celesc, eles seguraram até 2017, daí houve nova investida, teve uma audiência pública que chegou ao conhecimento da Aneel, e isso fez parar essa nova investida. Tivemos várias vezes na Aneel para discutir o assunto, na última vez que lá estivemos a Celesc argumentava que tinha que transferir pois era questionada pelo MPSC e Tribunal de Contas, por renúncia de receitas. Sugerimos então uma reunião entre Celesc, Coopera, MPSC e TCE. A Celesc ficou de agendar, e até hoje não agendou", recordou. "Para nossa surpresa, dia 12 de maio recebemos ofício determinando dez dias para traçar plano de transferência dos nossos cooperados, sob pena de termos multa sobre o nosso faturamento, de 2%", finalizou.