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O Banco de Olhos de Criciúma começou a funcionar em julho e passou a receber as primeiras doações, embora a autorização definitiva pelo Ministério da Saúde tenha sido entregue somente em outubro. Anexo ao Hospital Materno Infantil Santa Catarina (HMISC), a unidade possibilita o tratamento e preservações de córneas, algo que antes era possível somente em Florianópolis.
Além dos hospitais, era possível que tecidos oculares fossem retirados também em unidades do Instituto Médico Legal (IML), o que foi dificultado após uma medida da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a RDC (Resolução da Diretoria Colegiada) Nº 55, de 11 de dezembro de 2015. “Eles falam e fazem campanhas para a doação de órgãos e, quando a gente vai doar, dizem que não é o local apropriado”, reclama Vladimir Pereira Melo, pai de um jovem morto no dia 8 de dezembro, que tentou doar as córneas de seu filho.
De acordo com o médico e coordenador da Central SC Transplantes, Joel de Andrade, essa medida avaliou os IMLs como ambientes inadequados para transplantes, devido à possibilidade de contaminação, recomendando que os locais de captação tenham uma sala limpa e apropriada. Vladimir conta que, quando foi chamado, o corpo do filho já estava no IML e que ali não seria possível a captação. “Era uma córnea boa, de um jovem de 16 anos. Eu fiquei pensando que essa medida foi tomada só para abrir uma nova secretaria e empregos para os políticos que não foram eleitos”, desabafa.
Em Criciúma era comum que captações de córneas fossem feitas no Instituto Médico Legal. Agora, somente no Hospital São José (HSJ). “Com a inauguração do Banco de Olhos a gente imaginava que o trabalho ia ser intenso”, frisa o técnico do IML, Almir Fernandes de Souza. “Para receber aqui teríamos que construir uma sala. Infelizmente a gente não pode levar o cadáver até o hospital”, detalha.
Andrade acredita que é necessário um movimento envolvendo os hospitais da região para que mais captações aconteçam. “O que resolve é uma articulação maior dos hospitais. Lamentavelmente durante a madrugada as vezes perdemos doadores”, diz. Segundo ele, é possível atender a fila mesmo sem as coletas do IML. “Morre gente o suficiente nos hospitais para a realização do transplante de córneas. Os meios de coletas serão ampliados, até em UPAs é possível fazer o transplante”, conta.
O Banco de Olhos
O local está bem equipado, sendo um dos melhores do Brasil no segmento, afirma o coordenador da Central SC Transplantes. A partir de fevereiro dois cursos devem ser realizados para que mais profissionais da saúde sejam capacitados e possam realizar as captações. Atualmente, elas são realizadas no Hospital Nossa Senhora da Conceição de Tubarão, Hospital Regional de Araranguá e no HSJ.
“Há três meses o Ministério da Saúde nos autorizou em definitivo, a gente vem numa fase operacional desde julho quando se decidiu tornar o banco ativo, mas o processamento de córneas nesse interstício foi feito em Florianópolis. Eu acho que a principal questão é que foi quebrada a inércia”, aponta Andrade. Ele cita que o banco criciumense já proporcionou 16 doações de tecido ocular. “São 32 globos oculares removidos, esses globos foram processados, o que levou a 32 pessoas a possibilidade de enxergar com qualidade. São números positivos”, avalia.
Os tecidos oculares podem ser retirados de pessoas mortas que tenham idades entre dois e 70 anos, sem doenças graves e que não eram usuárias de entorpecentes. A expectativa futura é conseguir mais doações do que o Banco de Olhos de Florianópolis. “Eu imagino que a nossa meta de 30 doações mês, esse ano a gente consiga cumprir ao menos metade dela”, analisa o médico.
