A tradicional faixa preta transversal do uniforme vascaíno foi colorida com as cores do arco íris no dia 27 de junho, último domingo. Na Série B, o gesto do centroavante argentino German Cano, de empunhar a bandeira de escanteio colorida em São Januário após o gol marcado contra o Brusque, vitória por 2 x 1, repercutiu por todo o Brasil.
Foram ações desenvolvidas pelo Vasco da Gama em apoio ao Dia Mundial do Orgulho LGBTQIA+, data que marca a luta contra o preconceito, violência e discriminação por conta da orientação sexual. Pelas redes sociais, os maiores clubes do Brasil e de Santa Catarina manifestaram-se em apoio à causa.
Não foi o caso do Criciúma Esporte Clube, o único dos cinco clubes considerados grandes no Estado que permaneceu em "silêncio" sobre a data. Avaí, Chapecoense, Figueirense Joinville, e até Brusque, Marcílio Dias e o Próspera, utilizaram as redes em solidariedade ao Dia e à luta.
Segundo o departamento de marketing do Criciúma, a ausência deu-se por conta da falta de uma reunião para tratar sobre manifestação em relação às causas sociais. "O entendimento do clube é de que todas as causas são bem vistas, mas temos que ter o entendimento interno se nos manifestaremos em todas ou em nenhuma dessas causas", justificou o gerente de marketing, Vitor Marcelo.
Em nível internacional, o combate à homofobia foi o epicentro da polêmica entre a Seleção da Alemanha e a Uefa. Na Eurocopa, o capitão Neuer usou a faixa colorida no braço, enquanto o estádio de Munique reluziu as cores do arco-íris. O primeiro gestou passou para a federação europeia, mas o segundo foi proibido, sob a justificativa de ser "um ato político".
Em contra-ataque, o zagueiro Hummels, em uma coletiva de imprensa, foi vestindo uma camiseta colorida, deixando claro o posicionamento da Seleção Alemã. Neste último dia 28, a ação mais efusiva no Brasil foi a do Vasco da Gama, mas as redes sociais dos principais clubes tiveram ao menos uma postagem em alusão à data.
De acordo com o especialista em mídias sociais de clubes esportivos, Wagner Leitzke, gerente de mídias sociais da agência de marketing internacional Samba Digital, o torcedor quer cada vez mais ver-se representado pelo clube que torce.
"O torcedor precisa se sentir representado, precisa ver que aquela que talvez seja a sua primeira paixão luta pela mesma causa que ele. Quando não há essa representação, ele o afasta, praticamente o rejeita sem colocar isso em palavras. Há de se entender aqui a importância dessas causas para os torcedores, é uma batalha que eles levarão para a vida", relata.
O uso das redes sociais acaba sendo, segundo Leitzke, o espaço usado pelo torcedor para reclamar, comemorar e buscar informações sobre o clube do coração. Por isso é fundamental a atuação nas plataformas digitais, baseada em planejamento estratégico. "Um cenário de inclusão e de abraçar minorias precisa passar por um trabalho adequado nas redes", explica.
Ele cita a ação do Vasco da Gama. "Falamos aqui além de fotos de perfil com cores ou fotos no feed com quadrados em preto. Se esses forem os primeiros passos, que sejam, mas uma luta em defesa das causas minoritárias passa por um projeto de comunicação, campanhas recorrentes e dedicadas", diz Leitzke.
"O Vasco da Gama, recentemente, demonstrou um foco fortíssimo no uso da imagem do Cano, literalmente levantando a bandeira. Uma imagem simples como aquela passa exatamente a mensagem que mencionei acima: 'estamos do seu lado'. Nada mais simbólico do que levantar a bandeira", completa.
Nesse sentido, de esperar sentir-se representada pelo clube, a torcedora do Criciúma, Bruna Elias, se disse decepcionada com o "silêncio" do Tigre no dia 28.
"Ontem fiquei esperando algum posicionamento de que o Criciúma acolhe (a causa LGBTQIA+) e é um time de todos, porque eu não sei se o Criciúma representa a comunidade na qual eu estou inserida. Jamais vai afetar meu amor pelo clube, mas de forma geral a gente se sente um pouco distante. Não sei a quem o clube representa hoje", pontuou.
Bruna relata que torce para o Tigre desde pequena, quando ia aos jogos com o pai. Foi sócia por muito tempo mas, quando o pai parou de ir ao Heriberto Hülse pela idade, passou a ter medo e foi deixando gradativamente de frequentar o estádio.
"Nunca me aconteceu nada no estádio, mas por algumas situações me senti coagida. Torcedores acabam xingando, mesmo que inconscientemente, chamando o jogador de 'viado'. Ofende quem está ali perto ouvindo e faz parte da comunidade LGBTQIA+", conta.
A falta desse respaldo foi, para Bruna, um motivo para se desassociar do clube. "Eu via que o clube não acolhia a comunidade. Mostra-se bem distante nos posicionamentos, não só nesse, mas em outros, como a consciência negra. Qualquer movimento que tenha que levantar bandeira, o Criciúma é bem imparcial e distante", lamenta.
Segundo Vitor Marcelo, gerente de marketing do Tigre, o clube teria postagens prontas sobre o tema na véspera, mas não foi compartilhada pela falta de uma reunião da diretoria. O entendimento dele é de que haveria consenso sobre o tema, mas como retornou há pouco ao setor no clube, não houve ainda o entendimento interno sobre as manifestações assertivas nas datas alusivas às causas sociais.
"(Essas manifestações) São importantes. O entendimento é de que o Criciúma tem responsabilidade na sociedade. São questões que se levantam cada dia mais e o Criciúma entende que é importante que essas questões sejam discutidas. O Criciúma tem acima de tudo respeito pela diversidade e por todas as pessoas", conclui.