O Programa Adelor Lessa desta sexta-feira, 24, trouxe como entrevistado uma grande figura criciumense, que é destaque no Brasil. Trata-se do empresário Ricardo Faria, que em novembro deste ano assumiu a 5ª posição no ranking de maiores áreas de produção do país, representando o setor do agronegócio, após investir R$ 1,8 bilhão na Insolo.
Em 2020, Faria já havia investido na Terrus, uma companhia de grãos que junto da sua nova aquisição, a Insolo, deve resultar em uma receita de R$ 1,3 bilhão de safra no próximo ano. Isso porque, na soma total, o empresário alcançou 120 mil hectares produtivos.
Segundo o proprietário individual e ex-dono da lavanderia industrial Lavebras, a Insolo faz controles dos hectares sem utilizar defensivos químicos, ou seja, de forma 100% biológica. A projeção para ainda este ano é colher cinco milhões de sacas de milho e mais de quatro milhões de sacas de soja.
Além disso, durante a entrevista, o empresário falou sobre o investimento na cultura do algodão, destacando: “O futuro da Insolo é o algodão”. No entanto, a cultura requer a realização de experimentos para checar a adubação, por exemplo, pois é muito mais técnica do que as outras e tem um gasto até três vezes maior do que a soja.
No ramo do agronegócio, 2021 foi um ano bom?
Este ano foi muito interessante, a exemplo de 2020 em que as pessoas estiveram presas dentro de casa e precisaram mudar seus hábitos de vida. Mas felizmente, o Brasil tem o agro, que é algo natural. Por mais dificuldades que o país possa ter na sua infraestrutura e legislações, temos aqui algumas coisas que ninguém pode nos tirar. Em primeiro lugar uma capacidade e quantidade de terra boa, em segundo uma boa incidência solar por estar perto dos trópicos que poucos países têm e em terceiro, abundância em água. O Brasil tem um regime de chuva muito bem definido, especialmente no cerrado, que é o grande vetor de crescimento da agricultura nacional. Isso faz com que a gente possa ter um produto interno bruto do agronegócio de mais de R$ 1 trilhão.
A pandemia do coronavírus não atrapalhou o agronegócio?
Pelo contrário. O agronegócio não parou, pois a capacidade de adaptação das pessoas que estão liderando esse segmento é muito grande. Não faltou comida e nada voltado a alimentação na mesa do consumidor. Teve um outro fator que também ajudou muito o segmento, que são os preços das commodities, em especial, puxado pelo petróleo. Subiu e com isso todos os produtos advindos do campo, como milho e soja, aumentaram na faixa de 30%. Além do aumento do dólar, que trouxe um upside bem interessante.
O dólar subiu mas se voltar, tem o efeito reverso. Como a indústria avalia e se prepara para isso?
Houve uma pequena mudança no Banco Central permitindo que as empresas mantenham o caixa em dólar. Um dado de exemplo: hoje, tem 75 bilhões de dólares de empresas brasileiras fora do Brasil e isso faz com que não tenha vendedor na contraponta. Com isso o dólar gradativamente sobe. O brasieliro também descobriu um negócio chamado S&P [Carteira teórica das 500 ações mais representativas e negociadas na NYSE (Bolsa de Nova Iorque) e na NASDAQ.], e ao invés de investir no índice Ibovespa que baixa e sobe, investe nisso. Mas sim, se houver uma nova onda de credibilidade no país, atraído pelo patamar de juros que temos atualmente, há riscos de ter um custo alto. As empresas precisam estar sempre ‘hedgeadas’ de tudo aquilo que gastar em dólar, vender em dólar.
Como é o mercado da Insolo?
A Insolo é um polo tecnológico, a fazenda mais digitalizada do agro nacional. Ela roda todas as informações: tem grupo de WhatsApp de plantio, adubação e controle biológico. A Insolo hoje tem a maior área do controle biológico, faz o controle de 12 mil hectares 100% biológicos, ou seja, não são utilizados defensivos químicos nessas áreas. No controle digital, a gente consegue no meio de 200 operadores de máquinas, quem são os mais eficientes e remunerá-los por isso, dando o reconhecimento merecido através da digitalização. Cada operador tem sua senha e código de identificação que mostra o rendimento. Dessa forma muitos produzem mais e a gente consegue abrir áreas que não conseguimos no passado. Por exemplo, o que conseguimos fazer no Piauí esse ano, que geralmente não faz uma segunda safra. Em uma área plantada de 55 mil hectares, ano passado foram feitos 15 mil hectares de safrinha e neste ano vamos fazer 35 mil hectares, ou seja, um aumento de eficiência em cima do mesmo capital investido.
O investimento será só na soja ou há projeções para outras culturas?
Esse ano o produto que mais vamos colher é milho, em que vamos colher cinco milhões de sacas, quatro milhões de sacos de soja, entre 400 mil de sacos de milheto e mais sorgo. O algodão é algo que nos fascina, mas a gente entende que nas áreas do Piauí pelo regime hídrico e luminosidade, a gente entende que o futuro da Insolo é o algodão. Porém é uma cultura muito mais técnica e mais dispendiosa na parte financeira, pois tem um custo de até três vezes maiores que a soja, por exemplo. Nós já desenvolvemos campos experimentais para ver respostas de adubação, genética e a épocas de plantio para daqui dois ou três anos, conseguir de maneira comercial em escala, colocar o algodão nas nossas terras.
Como é a sua rotina diária?
Eu acordo entre 4h e 4h30, vou para meu escritório organizar minhas coisas e responder os e-mails. Das 6h às 9h começo a conversar com os nossos executivos de primeira linha, desse horário até às 15h, resolvo assuntos burocráticos de gestão. Após 16h30, eu procuro praticar algum esporte como academia ou beach tennis. Depois disso janto com os meus filhos e reúno eles, faço alguma atividade especial e às 20h estou na cama para dormir. As pessoas que têm mais proximidade comigo já cansaram de ir para minha casa no final de semana e eu sair “de fininho”.
Ouça a entrevista de Adelor e Arthur Lessa com Ricardo Faria na íntegra: