De cada 100 passageiros do transporte coletivo em Criciúma, apenas 20 estariam embarcando se o sistema voltasse a operar nesta segunda-feira, 13. O cálculo foi apresentado na noite deste domingo, 12, pelo empresário Everton Trento, presidente da Associação Criciumense de Transporte Urbano (ACTU), em entrevista à Rádio Som Maior.
"Quando o governo colocou no decreto a volta às aulas em junho, 60% do que transportamos são estudantes. Como o governo prorrogou a parada das aulas para junho, teremos 60% a menos de pessoas dentro do transporte coletivo sem as aulas", apontou. "Sobra 40%, desse 40%, 12 a 13% no sistema é aposentado que anda, são as gratuidades. Se o prefeito cortar a gratuidade do aposentado, ele para de andar. Já vem para 28%. Daí tem empresas que pararam, cai para 23%. Desses 23% tem as pessoas que não andarão de ônibus por medo. Então, de 100% estamos falando em 20% das pessoas que serão transportadas", calculou.
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Trento e os demais empresários do segmento em Santa Catarina estão utilizando esse raciocínio para tentar demover o governador Carlos Moisés de sustentar a suspensão do transporte coletivo como medida de prevenção ao avanço do coronavírus em Santa Catarina. Conforme decreto anunciado neste sábado, 11, os ônibus seguem proibidos de circular nas linhas municipais, regionais, estaduais, interestaduais e internacionais até o dia 30 de abril.
"Sim, pelo decreto do governador, só em maio nós voltamos. Nós estamos tentando de todas as maneiras, inclusive usando o nosso sindicato estadual, tentando conversar com as pessoas responsáveis para mostrar a necessidade, mas eles estão muito reticentes em conversar conosco, não querem abrir, está difícil", apontou Trento. "Nós estávamos esperando o que o governador falasse, que a partir de segunda ou quarta voltasse o transporte, era a nossa esperança. Nos pegou de surpresa quando ele falou que só volta em maio, ficaremos 42 dias com o sistema parado, é inviável, é uma loucura", reclamou o empresário.
Ele destacou que, com a volta das atividades do comércio de rua nesta segunda, haverá trabalhadores sem condições de chegar aos locais. "O que mais nos preocupa é que tentamos uma conversa, para mostrar dados, o nosso sindicato mandou uma correspondência com todos esses detalhes, não fomos ouvidos pelo Governo do Estado. Daí o governo diz que as pessoas peguem táxi, Uber, moto. Daí pergunto: o táxi não vai com três ou quatro para dividir a despesa? Vai. Vai ter aglomero. A moto são dois abraçados para não cair, tem aproximação das pessoas", observou.
Uma das sugestões dos transportadores, para viabilizar o transporte sem aglomeração de pessoas, é que existam alternâncias em horários de empresas, estabelecimentos comerciais e indústrias. "Vamos negociar com sindicatos, empresas, indústrias, vamos quebrar esse horário de trabalho, começar mais cedo, mais tarde, quebra o número de pessoas dentro dos veículos, teremos uma quantidade mínima de passageiros pelo número de ônibus que vamos colocar a rodar. Não vai ter aglomero, só em alguns horários, mas as empresas estão dispostas a colocar carros extras", projetou.
Em Joinville, ônibus na rua
As empresas de transporte coletivo estão na expectativa do que vai acontecer em Jonville. Na cidade, o sistema volta a operar nesta segunda-feira, 13, a partir das 5h, fruto de uma medida liminar. "Joinville entrou com ação, conseguiu uma liminar para voltar amanhã mas o Estado disse que vai recorrer, para tentar derrubar essa liminar. Vamos ver nesta segunda se o Tribunal dá o retorno, em cima do que o TJ definir nós vamos trabalhar na mesma linha", referiu Trento. "Mas estão em liminar, o TJ vai decidir se essa liminar continue ou não. Pode até parar amanhã de novo", destacou.
Enquanto isso, a prefeitura de Criciúma preparou o terreno para quando o transporte coletivo voltar. Em decreto assinado neste fim de semana, o prefeito Clésio Salvaro estabeleceu regramentos sobre uso de equipamentos de proteção e medidas para evitar lotações nos coletivos, como determinação de 50% de linhas e ônibus e de uso de no máximo 50% dos assentos de cada veículo para o uso pelos passageiros.
A ACTU estima que, desde o início da suspensão do transporte, mais de 1 milhão de passageiros deixaram de ser transportados em Criciúma. O setor, até o momento, não projeta demissões de trabalhadores na cidade, mas aponta com dificuldades futuras.
Ouça, no podcast, a entrevista do presidente da ACTU à Rádio Som Maior neste domingo: