Durante mais de uma hora e meia o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta respondeu perguntas durante a IV Jornada Integrada de Saúde da Unesc. A palestra aconteceu através de uma live mediada pela Reitora da Unesc, Luciane Ceretta e pela deputada federal Carmen Zanotto.
Mandetta falou de sua experiência e desafios como ministro no enfrentamento ao novo coronavírus (Covid-19). Mesmo não sendo mais ministro, ele salientou que, como médico, segue acompanhando o avanço da pandemia e falou, inclusive sobre Santa Catarina. “Vi os números de Santa Catarina há duas semanas e fiquei preocupado. Liguei para a deputada Carmen. Ela me disse que era uma mudança na metodologia, então acompanhei para ver. Os estados do Sul têm aumento nos meses de junho e julho e parece ter planos muito bem feitos. Os idosos sofrem muito no Sul do Brasil. Como até agora o quadro está mais complexo na região Norte e Nordeste. Como parou o trânsito de pessoas. Os aeroportos pararam, o Uruguai, a Argentina, acho que vocês têm uma janela para se organizar. Não pensem que ele não vai chegar e nem que vai chegar mais fraco. Se tivéssemos no Brasil o número de leitos de acordo com o número de casos, tudo bem. Espero que O Sul do Brasil possa passar isso melhor que as outras regiões", comentou.
A visão sobre o coronavírus
Luiz Henrique Mandetta apresentou ainda a sua visão sobre o coronavírus. “O vírus fica dentro de alguns vértices. Não podemos deixar os profissionais sem os equipamentos de proteção, pois quando perde um, às vezes desfalca a escala de dois, três hospitais. O outro são os leitos de UTI. Ter os ventiladores na quantidade. Preocupa no Sul porque tem muitos idosos principalmente no Extremo Sul de Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Esse vírus se comporta mais como um aerossol do que uma gotícula. Um parlamentar me perguntou antes do Carnaval se não tinha que suspender o Carnaval. Não tínhamos nenhum caso. Fizemos uma reunião para saber quais outros países poderiam ser foco de transmissão, além da China. A Itália não chegava a casos, na terça de Carnaval divulgaram que o sistema da Itália estava caindo de joelhos. Ali foi quando se percebeu que chegou no mundo ocidental. Dali para frente foi outra doença apresentada para o mundo. Ali foi apresentada uma doença infecciosa grave", falou.
Em defesa do SUS
O ex-ministro ressaltou a importância que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem na sua visão. "Desde o início digo que temos que ter três pilares. O primeiro deles é a defesa intransigente da vida. Não caíamos na vala comum de falar em números. É preciso ética. É preciso respeito à vida. O segundo é o respeito e reforço ao Sistema Único de Saúde. Se não tivéssemos o SUS isto aqui seria a maior carnificina do Século XXI. O respeito, o zelo, o reforço que todos temos que ter ao SUS. Não tem nenhum brasileiro nesta pandemia que não seja atendido pelo SUS. E o terceiro pilar que eu defendo é a ciência. Trabalhar com as universidades, com aqueles que estudam. Zelar por aqueles que estão indo atrás. Menos achismo. Eu não acho nada. Quem ficou na frente do vírus seja do Trump ao chefe de estado menor, ele foi avassalador. "Daqui para frente temos que reforçar mais o nosso sistema para atender. O que não podemos permitir é morte sem assistência”, afirma.
Respeito aos profissionais da saúde
Não basta apenas leitos de UTI e equipamentos. Para Mandetta, os profissionais da saúde são fundamentais para vencer a Covid-19. "A quantidade de recursos humanos. A quantidade de profissionais infectados reflete na capacitação. Tem que capacitar antes dos doentes chegarem. Se tivermos mais de 15% afastado, pode ter os equipamentos, mas saúde é igual perfume, não é feita por coisas, é feita por gente”, cita.
Em outro momento, Mandetta fala que não se pode evitar que as pessoas se infectem, mas a preparação para enfrentar a doença é importante. “Nós não vamos evitar que as pessoas contraiam a doença, mas pode-se ter um controle. Temos que fazer uma meia marcha. Precisar ter uma vigilância muito forte, medir e procurar interromper a mecânica da doença. São as variáveis que eu colocaria daqui para frente", salienta.
Mandetta ainda respondeu sobre a volta às aulas. "Muitas vezes os jovens são assintomáticos. Estarão em um local de grande aglomeração. Vocês teriam que fazer um exercício muito grande de não visitar avós, tios. Muita gente fala em voltar às aulas porque movimenta a economia. Vocês precisam ter os números de Santa Catarina na mão”, opina.
Sobre equipamentos, como os respiradores, o ex-ministro revela que o que tem contribuído neste momento é o próprio mercado interno. “O nosso país é totalmente dependente. Mesmo assim conseguimos passar pelo desabastecimento melhor que muitos países de primeiro mundo. Relatou que o ministro de Saúde da Itália solicitou máscaras do Brasil. Precisamos entender o momento e enviamos. Não adianta estar na Quaresma e não praticar. O que está abastecendo o mercado de ventiladores no Brasil é o interno que tivemos que ressuscitar porque o Brasil já tinha este parque industrial em saúde. Tivemos que lidar com briga de governadores. A ética em época de pandemia fica muito relativa. Os EUA usou o seu poderia econômico e comprou tudo que podia, e não tem como competir. Nós vamos pagar um preço por séculos", comenta.
Mandetta que também já foi deputado, não fugiu de nenhum assunto, inclusive criticando ex-governos. “"O PT quebrou o Brasil. Nos governos Dilma 1 e Dilma 2, tínhamos que votar uma reforma que eles não quiseram votar. Chegou uma hora que nem agiota queria emprestar dinheiro para o Brasil. Está na hora de sentar, nos comportar como gente. Lamento muito o comportamento de alguns atores políticos. Sem saúde é muito difícil funcionar tudo", criticou.
Agradecimentos da Reitora
Ao se despedir, Luiz Henrique Mandetta revelou que está escrevendo um livro e que pretende realizar noite de autógrafos na Unesc. A Reitora agradeceu a participação do ex-ministro. “Foram mais de 500 perguntas. Impossível de fazer todas. "Agradecemos muito em nome da universidade. Queremos você aqui no lançamento do seu livro. Foram mais de 500 perguntas e não tinha como fazer todas. Fique com a nossa universidade no coração", falou a Reitora.
A deputada federal Carmen Zanotto ressaltou a importância da Unesc para o Sul do estado. "Estar participando mais uma vez dos trabalhos intensos na saúde. O nosso trabalho vem desde o final de janeiro, quando o ministro Mandetta vinha acompanhando o que acontecia no mundo. Fui relatora do PL 23/2020 que tratou sobre a pandemia. Tenho certeza que quando o Brasil foi buscar os brasileiros em Wuham, poucos imaginavam o que iria acontecer aqui. A nossa comissão externa que apresentei, foi constituída e desde 11 de fevereiro, já tivemos 28 reuniões temáticas sobre o assunto. Os números da área da saúde são alarmantes. Temos 281 mil profissionais afastados devido à pandemia. Já perdemos 138 profissionais. Estamos em uma guerra que exige uma fala única. Os princípios básicos que nunca foram tão importantes como agora. Lavagem das mãos, uso das máscaras, distanciamento. Nós do Sul do país ainda estamos em uma situação mais tranquila. Vários municípios abriram centro de triagem, mas é uma soma de esforços entre o setor produtivo, acadêmico, associação dos hospitais, a soma deste coletivo com a soma individual de cada um que vai fazer a diferença”, fala a parlamentar.