Especialistas mantêm a estratégia do isolamento social como a alternativa para o combate ao coronavírus e evitar o contágio desenfreado e, consequentemente, o colapso do sistema de saúde no país. A avaliação do pneumologista Renato Mattos vai na contramão do pronunciamento de Jair Bolsonaro na terça-feira, 24, quando o presidente qualificou novamente o Covid-19 como "uma gripezinha" para "pessoas atléticas", como ele próprio, e afirmou que o país deveria voltar ao normal. Para o médico, no entanto, o baixo índice de novos contágios em Criciúma, por exemplo, revela que a estratégia de isolamento está correta e deve continuar.
"A função do isolamento é reduzir a transmissão do vírus. Se estamos com poucos casos, não significa que a doença não está aqui. Significa que essa prática está funcionando. Duas pessoas do meu relacionamento tiveram quadros gripais com a perda de olfato. São casos sugestivos de coronavírus. Não foram ao Pronto Socorro e não fizeram exame - e não tinham porque ir por não ser quadro grave. Se elas estivessem em convivência normal, essa transmissão se faria de forma simples", explicou Renato.
O médico lembrou da Itália, onde a cidade de Bérgamo, na região mais afetada, a Lombardia, está com dificuldades de enterrar as vítimas do Covid-19. "O número que a gente tem (em Criciúma) deve ser comemorado e mostra que a maneira que estamos lidando está correta e não de que ela é uma doença menor que vai nos afetar. A Itália pensou assim, 'vai afetar poucas pessoas e não podemos afetar a economia'. Olha a situação agora, de famílias sem caixão para enterrar as pessoas", disse Renato. A Itália tem mais de 6 mil mortes causadas pelo vírus e não consegue ver o quadro diminuir.
Bolsonaro também afirmou que um antigo remédio para o tratamento da Malária, a cloroquina, pode em breve ser confirmada como a cura para o coronavírus. Segundo o médico pneumologista, no entanto, não há estudos sérios que comprovem a eficácia da medicação.
"A cloroquina vem de quase séculos atrás. Em 2014 houve uma situação com ebola, também não tinha tratamento. Testaram vários medicamentos potentes e promissores. Depois se viu que nenhum funcionou. Não somos contra o uso dos medicamentos, mas tem que ser com evidência científica", disse. Renato lembrou que os pacientes que vão até a UTI por causa do Covid-19 se recuperam, nem todos morrem: "saiu porque usou o remédio? Não é só assim", afirmou.
"Grupos de whatsapp dizem 'não é tudo isso', a gente tem relato de velhinhos indo para a UBS para medir pressão, o que não é momento. Vamos segurar mais um pouquinho agora, porque daqui a pouco não dá para segurar mais. Itália, Espanha e Estados Unidos não estão conseguindo segurar. Estamos na estratégia correta e o fato de estarmos controlando mostra isso", concluiu Renato.