Não é exclusividade da Escola Natálio Vassoler. Mas nela, no Bairro Vila Franca, em Forquilhinha, era comum a insegurança no entorno. "Essa escola tinha problemas graves de tráfico na frente, de tentativas de homicídio até", confirma o coronel Cosme Manique Barreto, comandante da 6ª Região de Polícia Militar.
Pedidos recentes de autoridades de Forquilhinha pautaram a necessidade de providências. Daí, informalmente, nasceu o Programa Fibra Jovem. "Havia duas opções, ou ser reativo e colocar policiamento, dar enfrentamento, prender alguns e logo soltar, ou trabalhar internamente, fazer uma presença constante de policiamento mas trabalhar os jovens para evitar que eles sejam cooptados. Optamos pela segunda opção", revela.
E deu certo.
Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá
Resultado rápido
Em um mês de presença diária da dupla de PMs destacados para orientar o Fibra Jovem, a maior conquista talvez esteja resumida na Canção do Expedicionário, aquela composta para ilustrar a presença dos combatentes brasileiros na Itália, na Segunda Guerra Mundial. "Eles aprenderam novas formas de se relacionar, os jovens estão mais disciplinados e até formam no pátio para cantar a Canção do Expedicionário", orgulha-se o coronel.
E foi um processo rápido, iniciado em 2 de setembro. "Fizemos uma reunião com mais de 300 pais em um dia, explicamos a ideia. Eles autorizaram e então começamos", frisa. "Ensinamos os jovens a entrar em forma, mostramos sinais, como se bate continência, apresentação do aluno para o professor, com um chefe de turma à frente", relata. Até no esporte colaborou. "Um dos policiais é o técnico do time de futebol do Natálio Vassoler que ganhou a fase municipal do Moleque Bom de Bola", refere o comandante.
Disciplina total
Para coroar o trabalho, a escola recebe na próxima sexta-feira, 4, a primeira formatura do Programa Fibra Jovem. "Como nos contou uma das professoras, no terceiro ou quarto dia o ambiente já era outro na escola. Não havia mais balbúrdia de alunos entrando e saindo a hora que queriam, de aluno gritando nas janelas ou de aluno com fone de ouvido escutando música durante as aulas, ou de óculos escuros. Começamos a colocar disciplina e a comunidade ajudou. Foi uma junção de programas sociais e disciplinares", detalha.
Houve repercussão também na vizinhança. "Os pais vieram agradecer, pois notaram a mudança de comportamento dos jovens e também a tranquilidade maior no entorno da escola", confirma Manique Barreto. Os dois policiais escolhidos para trabalhar com os estudantes foram divididos em turnos. "Escolhemos PMs rígidos, disciplinados mas que sabem manter uma postura sem perder a compostura em situação de provocação de alunos. O resultado é espetacular", cita.
Sem interferir no conteúdo
Não há, porém, intervenção em sala de aula. "Não, o trabalho não envolve currículo escolar, é todo fora da sala. Todos os alunos entram em forma antes de entrar, às vezes o PM orienta sobre postura dos estudantes, mas nada a ver com conteúdo escolar", garante.
Há a intenção de ampliar o projeto. "Vamos deixar amadurecer bem e, de repente, tentamos em alguma outra escola que seja problemática na região. Não vamos conseguir entrar em todas, não temos policiais para isso. Mas vamos tentar ir em frente", conclui o comandante.
O ato de sexta-feira na Natálio Vassoler será às 9h e reunirá direção, professores, PM e comunidade.