"Tem gente aqui desde as 13h. Outros desde as 14h”. A reclamação de Cláudio Melo de Souza, morador do Bairro São Sebastião, era das 19h de ontem, na espera por atendimentos na UPA da Próspera. “Isso aqui não tem cabimento. É muita demora”, completou, sem esconder a revolta. Cláudio acompanhava a sua esposa, que precisava de atendimento médico. “É a primeira vez que viemos aqui. No Hospital São José é mais rápido”.
Reclamações como essa vem sendo constantes. A direção da UPA argumenta que a grande procura, muito acima do inicialmente contratado, é a causa das dificuldades. “A UPA está preparada para seis mil atendimentos por mês, e não dez mil como foi em março. Daí a demora vai acontecer mesmo”, afirma o vice-presidente do gestor da unidade, o Instituto Maria Schmidt (IMAS), Ricardo Ghellere. “E o pior, pelo menos 80% dos casos que nos procuram não são casos graves, não são casos de UPA. Nós não fazemos milagres”, comenta.
Ghellere aponta que há algo errado no sistema. “Ou a rede básica não está atendendo como deveria, ou as pessoas estão procurando sem necessidade”, aponta. Inaugurada há nove meses, a UPA já atendeu mais de 80 mil pessoas, 30 mil acima da previsão inicial. “Uma média de 325 atendimentos por dia. É demais! Nós estamos recebendo a demanda de duas UPAs, o que justifica a abertura de uma segunda unidade na cidade”, destaca o vice-presidente.
A estruturação de uma segunda UPA para Criciúma vem sendo tratada pela Administração Municipal. Recentemente, o prefeito Clésio Salvaro esteve em Brasília requerendo apoio para investir na atual Policlínica do Rio Maina e transformá-la na nova unidade aos mesmos moldes da que opera 24 horas na Próspera. O pedido foi protocolado em janeiro no Ministério da Saúde. “O município vai licitar a ampliação, planejar e fazer a estrutura física”, anunciou Salvaro na ocasião.
Rever o contrato
Enquanto a nova UPA não vem “e nem temos previsão de quando isso vai efetivamente acontecer”, projeta Ghellere. O IMAS cogita pedir a revisão do contrato em vigor com o município. “Ocorre que fomos contratados para 6 mil atendimentos mensais, montamos a estrutura de acordo com isso. Em novembro, quando chegamos a 8 mil pessoas atendidas, encaminhamos um pedido de revisão”, explica.
O desequilíbrio tem gerado prejuízo para o gestor. “É o IMAS quem cobre isso. Estamos tendo mais despesas com hora extra de funcionários, os médicos estão sobrecarregados e gastamos mais com medicamentos e materiais”, aponta o vice-presidente. “Vamos fazer um ofício para a prefeitura pedindo a revisão. Já estamos atendendo 4 mil pessoas a mais que deveríamos. Estamos reforçando a equipe de enfermagem e nas segundas-feiras colocamos um médico a mais, pois é o pico”, detalha. A UPA coloca três médicos durante o dia e dois à noite, conforme previsto no edital. “Não ganhamos licitação para pedir aditivos, mas ocorre que está havendo um desequilíbrio no contrato”, conclui.