O inverno começou nesta semana, dia 21 de julho, e, com ele, algumas pessoas já começam a sentir alterações de humor, e a tendência é que os efeitos se acumulem nos próximos 90 dias, ao longo da estação. A neurociência explica esse fenômeno, batizado de Transtorno Afetivo Sazonal.
Segundo a psiquiatra Dr.ª Julia Pizzolati Pieri (CRM-SC 22.561 e RQE 18.739), do Instituto de Neurociências Dr. João Quevedo (InJQ) de Criciúma, o organismo humano sofre algumas modificações durante o inverno para se adaptar ao frio. "Para manter a temperatura corporal, a frequência cardíaca e a pressão arterial caem, os vasos sanguíneos se contraem e o suor diminui", exemplifica a médica.
No entanto, essas estações não mudam somente a temperatura. Os dias têm céus mais cinzas, com mais umidade e nuvens. São também dias mais curtos, com menos tempo de sol e mais escuridão. Segundo a psiquiatra do InJQ, isso também provoca alterações corporais que podem impactar no humor.
"É nessa época de frio quando mais aparece o Transtorno Afetivo Sazonal, ou seja, episódios com sintomas depressivos recorrentes relacionados à mudança de estação. É mais frequentemente associada ao início do inverno, mas também pode ocorrer no verão", ressalta Dr.ª Julia.
Quais são os sintomas?
Durante esses episódios depressivos, é comum a pessoa experienciar alguns sintomas, tais como:
- tristeza;
- falta de vontade de praticar atividades cotidianas;
- diminuição de libido;
- mudanças no apetite;
- alterações do sono;
- dentre outros.
Algumas características incluem:
- excesso de sono;
- aumento do apetite;
- desejo por carboidratos.
Quem mais sofre disso?
A psiquiatra conta que a prevalência do Transtorno Afetivo Sazonal varia, mas é mais comum entre mulheres e jovens e em regiões mais distantes da Linha do Equador, onde há menos incidência solar e invernos mais rigorosos. Isso acontece pela mudança no padrão de exposição à luz do sol.
"Quando a luz passa pelos olhos, uma parte do cérebro é estimulada a inibir a melatonina (o hormônio da noite, responsável por regular o sono) e regular a liberação da serotonina (neurotransmissor da felicidade). Assim, quando há mais escuridão, esse padrão natural no equilíbrio de liberação das substâncias é alterado. A diminuição da exposição solar pode causar deficiência de vitamina D (hipovitaminose) e, consequentemente, sintomas depressivos", explica Dr.ª Julia, acrescentando que fatores genéticos também podem influenciar nesses processos.
Prevenção está nos hábitos
Os hábitos saudáveis costumam ser mudados também. É comum as pessoas deixarem de fazer atividades físicas devido ao frio e à chuva, comem mais alimentos gordurosos e menos nutritivos e ficam mais em casa, sem tanto convívio social.
Por isso, para evitar essa consequência, a psiquiatra indica fazer exercícios ao ar livre (com uso de máscara, nesta época de pandemia), ficar ao sol sempre que possível e manter a alimentação com produtos bastante nutritivos.
"Às vezes, mesmo mantendo essas atividades, os sintomas persistem. Cada pessoa e grau do transtorno respondem a diferentes estratégias de tratamento. Dessa forma, é essencial buscar um profissional para avaliação e diagnóstico", pontua a médica.
Colaboração: Maria Eduarda Mendes Botelho
Instituto de Neurociências Dr. João Quevedo (unidade Criciúma) - Diretora Técnica Médica: Kelen Cancellier Cechinel Recco - Psiquiatra (CRM-SC 13.394 e RQE 10.277)