A falta de peixe e a burocracia estão causando uma grande crise na pesca artesanal do Sul do Estado. Muitos pescadores, inclusive, estão abandonando a atividade para procurar outras formas de manter o sustento da família. Segundo Paulo Souza, presidente da colônia Z-24, de Balneário Arroio do Silva, essa é uma situação que só vem se agravando com o passar do tempo.
“Enfrentamos muita burocracia. Estamos com dificuldade nas confecções de licenças; são muitos entraves. Sabemos que da forma que os ministérios trabalham logo deveremos ter mais normas pela frente e que só prejudicam a atividade. Nada é feito para favorecer o pescador. Nós estamos enfrentando uma dura realidade. Nossa pesca é centenária, passada de geração em geração, mas ela está se perdendo e vai acabar. Não estamos tendo condições de pescar. As licenças não estão chegando adequadamente como deveria ser, carteiras para confeccionar levam sete anos, isso pois os ministérios não têm entendimento entre eles e quem sofre é o pescador aqui na ponta. Cada dia que entramos no sistema tem uma coisa diferente e que só dificulta o processo. A gente fica empenhado duramente muitas semanas para conseguir fazer 4 carteiras”, desabafa Paulo Souza.
De acordo com o presidente da colônia Z-24, os profissionais estão praticamente em estado de miséria. “O pescador não pode ficar olhando para o mar com a rede na mão, esperando que as coisas melhorem e passando fome. Hoje, mais de 70% dos nossos profissionais estão dependendo de bicos. É uma pintura de muro, corte de grama e diversas outras atividades. Ainda bem que temos isso, pois muitos pescadores não conseguem nem pagar a anuidade da carteira. Muitos deles não têm uma xícara de café para oferecer. Meu Deus! Não estão vendo que tem pescador passando fome. A gente não vê uma política desenvolvida diretamente para o setor pesqueiro. Santa Catarina é um polo quando o assunto é pesca, só que não tem apoio. O cenário contribui para a extinção do pequeno pescador artesanal. Qual é o filho do pescador que vai querer dar sequência na atividade? Da forma que está, nenhum. Olha a falta de consideração do nosso país com a classe pescadora”, comenta.
Seguro Defeso
Paulo também fala da dificuldade em obter o recurso do Seguro Defeso, concedido aos pescadores nas épocas em que a pesca está proibida. “Não conseguimos sacar. O benefício deve ser recebido nos quatro meses de verão em que a pesca não é permitida. Estamos no final de junho, era para dezembro, e ainda não recebemos. Quando não roubam o defeso do pescador na própria boca do caixa, já que são ainda muitas fraudes envolvendo clonagem dos cartões”, enfatiza.
Safra ruim
Quanto a safra da tainha desse ano, o presidente da colônia de pescadores afirma que está bem longe do que era esperado por eles. “Passaram alguns cardumes de peixes bem no início, dois pescadores, que não eram daqui, acabaram pegando e foi só isso, no início de maio e, de lá para cá, nada mais. Nós dependemos do frio e vento para que a tainha chegue na costa, mas não eventos climáticos em exagero como vem acontecendo. Tivemos. até o momento, muita ressaca, e ela continua prejudicando a pesca. Não temos informações de peixe aqui para o Sul, não sabemos se está em alto mar, pois na costa ele não está chegando, isso é fato. Alguns peixes que têm aparecido no mercado são das traineiras, ou seja, de profundidade. O pescador artesanal não está pegando nada”, finaliza.