O coro pela ressocialização – já bastante presente na região – ganhou mais um aliado em Criciúma. Em parceria com o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) e levando em conta a contribuição que a música pode dar à vida do ser humano, a Penitenciária Feminina está implantando um coral na unidade prisional.
E além da positividade da ação em si, outro ponto também merece destaque nesse projeto, por conta do ensinamento sobre solidariedade que evidencia. Diante do cenário da criação de um coral e pensando na possibilidade futura da realização de apresentações, três empresas se mobilizaram para a aquisição de tecidos e aviamentos, e consequente confecção das túnicas a serem usadas pelas presas que participam da ação.
A diretora da Penitenciária Feminina de Criciúma, Vanessa Colares de Bitencourt, conta que a ideia surgiu em uma visita sua à unidade feminina de Tremembé, em São Paulo, que já possuía um coral de presas em andamento. “Lá eles escolhiam as internas que apresentavam problemas de comportamento e afirmavam que depois de algum tempo trabalhando a música, o comportamento delas mudava. A apresentação foi emocionante e voltei com o pensamento de fazer o mesmo em Criciúma”, completa.
Projeto implantado pelo IFSC
Na sequência, a ideia foi apresentada ao IFSC, que decidiu implantar o projeto, acrescentando mais um ciclo de palestras e uma oficina de artesanato. “A música tem um grande poder de interação, é considerada como uma estratégia para o favorecimento da aprendizagem, pois desperta sensações diversas, o que possibilita ao ser humano se expressar e refletir de forma diferente. Logo, entende-se que é fundamental para que os objetivos do ciclo de palestras, como também da confecção de artesanatos, sejam alcançados. Nossa intenção é desenvolver o empreendedorismo e o protagonismo dessas mulheres”, explica a coordenadora adjunta do projeto, Janaina Antunes dos Santos.
Na penitenciária feminina de Criciúma, de acordo com a diretora, participam do projeto as detentas que não passaram na seleção das empresas instaladas dentro da unidade. “Acredito que a música chega mais fácil do que a palavra. São pessoas sofridas, endurecidas pelos acontecimentos da vida. Quando cantam, tem a chance de se soltarem um pouco, e a partir daí, toda a orientação que os técnicos e servidores da unidade dão são acatadas mais facilmente”, destaca.
A mobilização do meio privado
Pensando nas futuras apresentações do coral da Penitenciária Feminina, a coordenadora adjunta do projeto lembrou da vestimenta necessária. E após alguns contatos, chegou a boa notícia de que três empresas de Criciúma se mobilizariam para promover a confecção dessas túnicas.
O material necessário foi doado pela Propé Calçados e Arco Íris Tecidos. Posteriormente, a SKS criou o modelo e produziu as peças, que já estão prontas para serem entregues à unidade prisional.
Segundo a gerente de estilo da SKS, Jéssica Molon Benedet, as túnicas foram confeccionadas pelas próprias funcionárias da empresa, que se engajaram na ação assim que receberam a notícia. “Já ajudamos o IFSC em outras ações solidárias e, por isso, a professora Janaína me procurou, afirmando que possuía os tecidos e precisaria da mão de obra. Logo aceitei, juntei o pessoal do estilo para criar, a modelista e uma pessoa da produção. Por fim, produzimos as peças na empresa mesmo”, lembra.
A gerente de estilo conta que, no momento em que as túnicas estavam sendo confeccionadas, todas as pessoas envolvidas sabiam para onde as roupas seriam enviadas. “Nossos funcionários gostam de participar desse tipo de ação, estão acostumados, porque estamos sempre envolvidos. Fiquei feliz em ajudar, é muito importante, tanto para mim, quanto para a empresa, uma vez que é uma forma de contribuir para melhorar a sociedade. Estamos no mundo para ajudar o próximo”, conclui.
É possível difundir a educação no cárcere
Conforme a professora do IFSC, o instituto tem como um dos principais objetivos promover a reeducação dessas encarceradas, para que no futuro possam retornar ao convívio social tendo, na bagagem, um aprendizado significativo do período que passaram atrás das grades.
“Possibilitando assim, a reinserção no mercado de trabalho e diminuição da reincidência criminal. A educação no sistema penitenciário é um fator relevante para que a ressocialização seja algo tangível, alcançável. O cárcere precisa ser visto como um ambiente que proporcione o pensar sobre um novo projeto de vida. É por meio da educação que o ser humano reflete sobre os seus atos e passa a identificar e a hierarquizar as aprendizagens que lhes foram concebidas”, acrescenta Janaína.
“A presa não é inimiga do Estado e sim alguém que errou e tem que pagar pelo que fez, com consciência do que a levou a estar onde está, para retornarem à sociedade mais preparadas psicológica e emocionalmente. Assim, poderão ser cidadãs de bem e ter uma vida plena e saudável”, reforça Vanessa.