A morte de um homem de 32 anos sem histórico de doenças, vítima de Covid-19, em Içara, inicia um debate em Santa Catarina: sobre a faixa etária de letalidade do coronavírus. Nas outras cinco mortes confirmadas no Estado, as vítimas do vírus tinham entre 66 e 87 anos. Permanece o combate a um perigo pouco conhecido no mundo; o vírus sofre mutações constantes e já se sabe que o vírus brasileiro tem diferenças ao vírus que saiu da China. É o que explica o pneumologista Renato Matos.
"O nosso vírus é diferente do que chegou inicialmente na China, ele vai mudando. Qual é a característica desse vírus, como ele vai se comportar na faixa etária, a gente vai saber lá na frente", projeta o médico. "É uma canalhice achar que se morrer só acima de 60 anos, o que não é verdade, está tudo bem. Hoje na faixa de 60 anos são pessoas no seu vigor intelectual, de conhecimento e experiência, de possibilidade de gerar valores para a sociedade", acrescentou.
O médico salienta que esse pensamento de que apenas os idosos são vítimas acaba gerando uma falsa segurança aos mais jovens. "Com a segurança de que 'não vai ter nada' essas pessoas não estão se preocupando. É uma forma pesada, mas aquele jovem que vai para um local de balada, de grande aglomeração, e ali pegar o vírus e levar para a sua casa e alguma pessoa morrer, ele é responsável sim por aquela morte. O governo tem o poder de definir, mas a decisão final é da pessoa", aponta Renato.
Para o pneumologista, ainda é muito cedo falar em retomada das atividades e o fim do isolamento total da população brasileira. Em Santa Catarina, são mais de 300 casos confirmados de Covid-19, sendo 23 em Criciúma.
"Evidente que existe uma pressão muito grande, o comércio tem que voltar a funcionar em um determinado momento. Se ouvirmos todas as autoridades e o ministro tá bem assessorado e tendo uma posição firme, é evidente que não temos condições de abrir. Esse número pequeno de casos na nossa região é fruto das medidas que foram tomadas. Se não fossem tomadas, é muito provável que hoje estaríamos em condição muito mais complicada. A saturação está prevista mais para a frente", afirma o médico.
"As pessoas têm que se atentar que não é só morte. É o grau de sofrimento associado à doença. A morte por insuficiência respiratória é brutal. Mesmo as pessoas que se recuperam, passam por um grau de sofrimento imenso. Sabe-se que algumas pessoas que fazem infecção por coronavírus mais graves, podem ficar com insuficiências para o resto da vida", concluiu Renato.