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O drible do presidente Getúlio

No capítulo 6 do especial Centro Cultural Jorge Zanatta, a prometida visita do presidente Getúlio Vargas

Por Denis Luciano Criciúma, SC, 07/11/2018 - 11:05
Reprodução / Folha do Povo, 4/2/1952
Reprodução / Folha do Povo, 4/2/1952

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A manchete daquele início de fevereiro de 1952 causou um tremendo alvoroço. “Visitará Criciúma o sr. Getúlio Vargas”, chamou a Folha do Povo. Muitos duvidaram. Os petebistas vibraram, os pessedistas olharam com certo ar de desconfiança, os udenistas deram de ombros ao exemplar do jornal que repousava em uma das mesas do movimentado Café São Paulo. “Será mesmo?”, perguntou o comerciante Sinval Bohrer, liderança do PSD que anos depois exerceria breve mandato de prefeito.

O ex-prefeito Addo Caldas Faraco era dos mais entusiasmados. Afinal, ele já havia algumas vezes tentado agenda com o presidente da República. Desta vez, o apelo resultava da visita de meses antes, aqui referida em capítulos passados, do vice-presidente Café Filho. Ele voltou ao Rio de Janeiro convencido de que deveria contar a Getúlio o que se passava em Criciúma. Do progresso das minas de carvão que inchava a cidade e era desproporcional à infraestrutura dos bairros, apinhados de mineiros morando mal, em ruas cobertas de pirita. A água potável também faltava, e era a grande aflição da época.

“Presidente, vá naquela terra. É lugar de riqueza. Queremos carvão? Precisamos deles. Quer a CSN forte? Precisamos deles”, teria dito Café a Getúlio, um tanto aflito. Um dos primeiros a desconfiar da visita foi o vereador José Pimentel, o mesmo que dali a três anos e alguns meses fundaria a Tribuna Criciumense. “Será mesmo?”, repetiu a pergunta de Sinval, em uma das visitas à Loja Renner, uma das principais casas de tecidos da cidade e também ponto de encontro de debates políticos que, depois, se estenderiam pelos cafés.

O problema é que o presidente não veio. Os meses se passaram, as crises políticas no Palácio do Catete não permitiram e a manchete caiu no vazio. Certo dia, meses depois da tal manchete, um grupo de vereadores foi até a sede do Plano Nacional do Carvão, o casarão da Pedro Benedet, perguntar se alguém ali tinha notícia da agenda de Getúlio no sul. “Isso é coisa do jornal”, respondeu um dos burocratas que lá atendia. Logo, foi repreendido, já que a possível visita havia sido referida pelo próprio vice-presidente ao jornal Diário Carioca, e apenas reproduzido pela Folha do Povo.

Os vereadores saíram do casarão preocupados naquele dia. Pensavam, Pimentel entre eles, que mais uma vez um debate organizado para elencar ideias e faze-las chegar ao poder central, exitoso ao conseguir ter aqui o vice-presidente, daria de novo em nada, já que a água seguia faltando, as comunicações seguiram precárias, as estradas seguiam picadas melhoradas cobertas de pó e pirita, o saneamento básico era uma utopia.

Mas o carvão seguia prosperando, e o casarão da Pedro Benedet seguia guardando arquivos preciosos que guardavam as boas rendas que geravam as prósperas minas, que cada vez mais arrecadavam, que cada vez mais carvão beneficiavam e faziam girar a economia Brasil afora.

“Resultado, nós temos. E a contrapartida?”, indagou o vereador Pimentel, certa vez. É, mais uma da série de novelas que parecem se repetir até hoje.

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