O Brasil precisava de carvão. Criciúma tinha muito carvão. A Segunda Guerra Mundial ainda faria muitas vítimas nos campos da Europa, inclusive brasileiros, quando o presidente Getúlio Vargas decidiu colocar de vez a digital do Estado Novo nas lavras Brasil afora. Escolheu Criciúma para aqui plantar uma das mais poderosas unidades do Plano Nacional do Carvão. Para tanto, era preciso uma sede à altura da repartição. Escolhido o terreno doado pela família do coronel Pedro Benedet, começava em 42, com a liderança do prefeito Elias Angeloni, a construção do casarão.
Erguido o prédio, pouco antes da inauguração, em 44, o Departamento Nacional de Produção Mineral o doava ao município de Cresciúma, com a condição de que ali operassem os aparelhos federais voltados às minas e energia. Em um de seus últimos atos mais relevantes, naquele 44 movimentado para a cidade, Angeloni, claro, aceitou o bom presente e o inaugurou oficialmente meses depois. Estava entregue a Cresciúma o casarão da Pedro Benedet.
E foi também sob a gestão de Elias Angeloni que a cidade sofreu uma importante transformação, digamos, ortográfica? Os documentos oficiais passavam a grafar Criciúma, e não mais Cresciúma. Desde a emancipação, em 1926, o ex-distrito de Araranguá se denominava Cresciúma, o nome indígena original do capim abundante nas várzeas do rio que cortava a pequena vila.
A nova forma de escrever Criciúma e o nascimento do casarão da Pedro Benedet são, portanto, contemporâneos. Irmãos. Por isso, é importante voltar a um interessantíssimo artigo da edição número de Tribuna Criciumense, de 18 de julho de 1955. “A grafia correta do topônimo Criciúma”, cujo texto reproduziremos no portal 4oito, apresenta o resultado de uma entrevista que o diretor do Tribuna, José Pimentel, fez com o conceituado professor e jornalista Moacyr Campos, diretor da famosa Revista do Professor.
O mais curioso é que haviam se passado dez anos da mudança do nome e ainda existia confusão. Documentos com Cresciúma com “sc” e Criciúma, e ainda havia Cressiúma com dois “s”. Em carta endereçada à residência de Pimentel, o professor Moacyr faz uso de antigos estudos linguísticos sobre a denominação da taquara criciúma para dizer que a grafia atual, que acabou consagrada pelo tempo, é a correta. Mas a discussão rendeu bons debates naqueles tempos, em que Tribuna Criciumense atreveu-se a ditar moda sobre o nome correto da terra que carregava no nome.
Logo, os 73 anos do casarão do atual Centro Cultural Jorge Zanatta são comemorados em paralelo com o batismo definitivo de Criciúma.