Na última semana duas mortes na Avenida Centenário, em Criciúma, reacenderam uma discussão, já antiga, sobre mobilidade urbana e segurança no trânsito em Criciúma. Há os que defendam a construção de uma passarela ou de um túnel nos locais com movimento mais intenso. Há quem ache que o problema é a falta de educação de motoristas e pedestres. Pensando nisso, na manhã desta terça-feira (31), a Rádio Som Maior promoveu um mesa redonda para tratar do tema.
“O problema é a educação no trânsito. Falta educação tanto de motoristas, quanto de pedestres. Mobilidade urbana é um dos problemas mais prementes em Criciúma hoje. Então no momento que vi isso pensei em fazer um artigo para que a gente começasse esse debate”, comentou o jornalista Nícola Martins, que na última semana escreveu um artigo sobre as mortes na Avenida Centenário.
Para a professora da Unesc e especialista em mobilidade urbana e transporte, Natalia Gonçalves, Criciúma cresce e se transforma a cada dia, mas não tem um planejamento que acompanha esse processo de transformação.
“A Avenida Centenário precisa de atenção principal, ela é a via principal da cidade, faz parte da história. Temos que repaginar toda a avenida, temos que ver como compartilhar esse espaço para todas as pessoas. Ela é uma via necessária e essencial. A base de toda a estrutura da mobilidade urbana é uma rede de pedestres. Isso está no Código de Trânsito e não está no nosso plano diretor”, justificou Natália.
O gerente de Educação em Trânsito da DTT de Criciúma, Remerson Luiz Vicência, o Rubão, diz que é preciso organizar a Avenida Centenário e que os trechos onde há fluxo intenso de veículos e pedestres não podem existir faixas de pedestres apagadas, por exemplo.
“Tem que ter um planejamento para cuidar desses locais que tem maior conflito. Hoje se tem uma ideia de colocar penalização para o pedestre, mas não adianta penalizar o pedestre se ele não conhece seus deveres. A gente sempre fala a questão dos motoristas, mas esquece dos pedestres. Existem faixas de contenção que obrigam o motorista a parar. Existe também a faixa que não tem e aí o pedestre e o motorista devem ter bom senso”, defendeu Rubão.
Ainda segundo Rubão, o povo criciumense ficou mal acostumado ao trânsito. “Hoje a gente conta nos dedos as faixas de pedestre que são respeitadas. Isso precisa ser reeducado. As pessoas tiram a carta de motorista e esquecem de respeitar as normas de trânsito”, disse.
Outro problema apontado pelos entrevistados foi o transporte público. Para eles, o sistema de transporte urbano parou de ser mudado nos anos 90 e os outros terminais, como o do Rio Maina e da Quarta Linha, que deveriam estar prontos, nem começaram a ser construídos.
Para Natalia, a mudança na mobilidade urbana de Criciúma deve começar das bases. “Tem que começar com pedestres, plano diretor, código de posturas. Temos que revisar isso. Como vamos planejar isso com uma estrutura de pedestres para a cidade. Ele acha um lugar no meio da cidade e se joga. É um conjunto de coisas. Tem que oferecer estrutura, sinalização e depois você educa e fiscaliza”, afirmou.
“Eu acredito que o trabalho de educação no trânsito tem que começar na escola, pois as crianças de hoje são condutores e pedestres adultos de amanhã”, comentou Nícola que destacou que a cidade precisa de um órgão responsável pelo trânsito da cidade.
Natália disse ainda que Criciúma não aprendeu a organizar o código de transito. “A base de desenvolvimento de uma cidade é a mobilidade urbana. A mobilidade precisa ser repensada, mas com um planejamento a longo prazo, com alargamento das vias, sinalização corrigida e conscientização maior da população”, esclareceu.