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O tempo resposta que faz a diferença na hora de salvar vidas 

Atuação do Saer e do Sarasul ajuda a salvar vidas na região

Luana Mazzuchello/Vitor Netto Criciúma, SC, 28/02/2021 - 15:02
Foto: Divulgação
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Eram 2h30min da madrugada, véspera de natal, quando Solange Vitkoski entrou em trabalho de parto. O Valetim, seu segundo filho, estava com 33 semanas de gestação. A faxineira de 39 anos não imaginava o que estava por vir, foram quatro dias na mesma situação. A membrana da placenta havia rompido, a gestação já era de alto risco e havia ainda desenvolvido diabetes gestacional.

Diante da gravidade do estado de Solange, ela foi transferida às pressas até Lages. A viagem, que seria de quase 5 horas em uma ambulância, foi realizada em 40 minutos de helicóptero, graças ao trabalho desenvolvido pelo Serviço Aeromédico (Sarasul) de Criciúma. 

Solange, que mora em Santa Rosa do Sul, no Extremo Sul catarinense, estava sendo atendida pelo Hospital Regional de Araranguá, e foi transferida para o Hospital Tereza Ramos, em Lages. “Eu já estava aguardando o atendimento, só não sabia para onde eu seria transferida. Quando eles chegaram e me falaram que eu iria para Lages e de helicóptero, foi emocionante, tudo muito tranquilo e rápido”, relembrou Solange. 

Devido ao nascimento prematuro e aos problemas enfrentados por Solange durante a gestação, o quadro de saúde de Valentim era crítico, o que colocava a vida do bebê em risco. “Eu só fazia orações, quando apareceu aqueles dois anjos que me colocaram na cadeira e me levaram até o helicóptero eu não senti medo algum. Eles me tranquilizaram o tempo todo. Falaram que seria um voo seguro e assim eu fiquei tranquila pois estava dentro da aeronave e chegaria rápido para ter meu bebê”, contou emocionada. 

Em Lages uma equipe médica já aguardava Solange para o atendimento hospitalar. “Eles são anjos que me ajudaram e salvaram a vida do meu filho, porque tudo o que estava ocorrendo ali eu tinha esperança e fé, mas já sabia o que poderia acontecer. Eu só tenho a agradecer, pois me apoiaram muito, conversaram comigo o tempo todo. Eles diziam o que estava acontecendo, me distraiam. Eles salvaram a nossa vida”, enfatizou.

O bebê de Solange ficou 17 dias na UTI e sete dias no berçário, depois disso ele recebeu alta. Durante o período que Solange ficou em Lages, contou com a ajuda da Casa Mãe Tereza, local que acolhe mães de bebês que estão internados na UTI do Hospital Tereza Ramos. 

O Serviço Aeromédico no Sul catarinense 

O Sarasul de Criciúma foi implantado oficialmente na região Sul de Santa Catarina no dia 21 de dezembro de 2020. O serviço só saiu do papel devido a força tarefa de diversos setores da sociedade civil, órgãos políticos e de segurança que uniram forças pela causa. Atualmente o serviço atende as regiões de Laguna, Carbonífera e Extremo Sul. 

O Serviço Aeropolicial (SAER) é ofertado desde 2004 pela Polícia Civil em todo o estado. O projeto nasceu em Florianópolis e o seu objetivo é dar assistência em operações policiais. Em 2014 a Polícia construiu uma segunda base em Chapecó e em 2015 implantou o aeromédico em Chapecó.

Em 2016 o Saer que estava em Florianópolis foi transferido para Criciúma. “Então quando fomos transferidos para cá, nós viemos de forma plena e completa na parte policial, para atender todas as demais instituições, como Polícia Militar, Rodoviária Federal, Federal, Ambiental e outros serviços que a Aeronave poderia contribuir. Só que nós já queríamos implantar o aeromédico como o de Chapecó”, explicou o piloto do Saer de Criciúma, delegado Gilberto Mondini. 

Em dezembro de 2016 o serviço Policial chegou a cidade e a partir daí, o então secretário regional de Saúde, João Fabris, trouxe, o na época vereador, Tita Beloli até a base do Saer, que fica localizada no bairro Vila Macarini e apresentou a pauta da implantação do aeromédico na cidade. “A partir de 2017, o Tita e o pessoal do Saer começaram a brigar para implantar o serviço aqui, tentar trazer o que era realizado em Chapecó”, completou Mondini. 

O serviço ofertado em Chapecó, apesar de atender toda a região do grande Oeste, somente o município de Chapecó arca com os custos. O problema da região era de que Criciúma não conseguiria arcar sozinha com os custos e precisava da ajuda dos municípios vizinhos para custear o serviço. “Foi então que o prefeito Clésio Salvaro baixou uma portaria instituindo uma comissão de implementação do aeromédico, com várias entidades”, explicou.

Entusiasta do serviço, Tita Beloli, antes vereador e hoje secretário de infraestrutura de Criciúma lembra das dificuldades iniciais para a implantação do serviço. “Fiz uma visita na base, soube da demanda e que esse serviço já acontecia na cidade de Chapecó. Vimos a necessidade do serviço e eu e o delegado Mondini levantamos a bandeira. No começo não foi fácil, não tivemos muito êxito. Montamos uma comissão, ganhamos força, fizemos um simulado na Avenida Centenário, foi um sucesso. Logo após tivemos uma reunião na Amrec e os prefeitos apoiaram o projeto”, contou Tita. 

A comissão formada pela Polícia Civil, Samu, Unesc, CDL, Acic, Defesa Civil, Cruz Vermelha e outras entidades iniciou com estudos para a implementação, buscando a viabilidade do serviço com baixos custos. “Então apresentamos na Amrec e os prefeitos se comoveram e observaram que se caso dividíssemos todos os custos não seria um valor tão alto e teria um grande ganho na região. A partir disso os prefeitos viram que seria viável a implementação pagando de acordo com a quantidade populacional de cada município”, comentou o delegado. 

Com a Amrec abraçando a ideia, foi procurada uma empresa que prestasse esse serviço, já que foi estabelecido um convênio entre a Polícia Civil e Amrec, onde a PC entrava com a base, piloto, copiloto e a aeronave e a Amrec com os profissionais de saúde e insumos. “As pessoas ligam no 192, que é o Samu, ou no 193, que é o Corpo de Bombeiros, a ligação cai na central e o médico regulador verifica a situação do paciente ou da vítima e nos aciona para que a gente preste esse socorro”, disse. 

Ao todo, três enfermeiros e 11 médicos atuam em forma de escala das 7h da manhã até às 19h, diariamente e prontos para o serviço. A maioria dos profissionais já atuava no Samu, tendo, assim, conhecimento para o atendimento de emergência pré-hospitalar. Todos os trabalhadores passaram por cursos de formação para o atendimento aeromédico. O serviço precisa ser solicitado por uma comissão formada por forças de saúde e segurança para que o helicóptero saia da base. 

Uma UTI no ar

A aeronave é totalmente equipada com insumos e equipamentos para o atendimento tal qual de uma UTI em um hospital físico. A aeronave conta com desfibrilador, equipamentos para intubação, oxigênio e até mesmo incubadora para bebês. 

“O grande diferencial no atendimento primário é o tempo de resposta, pois isso pode salvar vidas e diminuir sequelas. Uma ocorrência que nós atendemos recentemente foi uma transferência para Joinville. De carro levaria, com sorte de não pegar trânsito, umas 5 ou 6 horas. Nós levamos 1h e meia”, contou o delegado. 

Os profissionais que atuam no Sarasul contam com formação no setor da saúde e com cursos extras. “Desde que o serviço chegou, foi realizada uma seleção curricular. O edital exigia uma qualificação profissional até para que o atendimento fosse de excelência com trabalhadores com conhecimento do pré-hospitalar. Porque são situações diferentes de dentro do hospital”, conta Rosemeri Noronha, enfermeira com 15 anos de atuação na área. 

Antes mesmo de o Sarasul ser implantado na região, profissionais de saúde do Samu já realizavam algumas transferências médicas aéreas em parceria com a Polícia Civil. “Tivemos algumas experiências com atendimentos em voo nesse serviço mesmo sem a implantação do serviço. Com a implantação, a empresa lançou algumas exigências para as pessoas que trabalham aqui dentro pudessem ser selecionadas”, contou Mateus Dario Volpato, médico com mais de 7 anos de atuação.

O primeiro atendimento realizado pelo Saer foi operado pela dupla Mateus e Rose, quando ocorreu um afogamento em Passo de Torres, levando 19 minutos para chegar até o local da ocorrência. No local, bombeiros e os guarda-vidas já atuavam no atendimento. 

“Passo de Torres não tem ambulância do Samu, só do Corpo de Bombeiros e a ambulância estava em outro atendimento em Praia Grande. A corporação mandou a ambulância de Sombrio, que era a cidade mais próxima, para ajudar no atendimento. Eles também mandaram a ambulância do Samu de Santa Rosa do Sul para ajudar. Nós, de helicóptero saindo de Criciúma, chegamos antes das duas ambulâncias”, contou Mateus. 

A vítima do afogamento era um homem por volta dos 50 anos. “Eles (a vítima e um acompanhante) estavam em dois jet-skis, onde um tombou e outro não. Por sorte tinha um policial na beira mar que viu o piloto que estava bem e pegou o jet-ski e foi procurar o outro condutor que estava no mar. Trouxe a vítima para a beira mar e começou os atendimentos primários e chamaram a gente”, explicou o médico. 

Infelizmente a vítima não sobreviveu, devido ao afogamento e ao tempo em que o homem ficou em parada cardiorrespiratória. 

O tempo que salva vidas

O ponto crucial que diferencia o atendimento de ambulâncias do Corpo de Bombeiros ou do Samu para o atendimento do Sarasul é o tempo de respostas. O percurso de helicóptero encurta as distâncias e salva vidas. “A grande diferença é que antes a gente só fazia a transferência no voo, agora com a implantação a gente faz o atendimento pré-hospitalar”, explicou a enfermeira. 

“O importante não é o tempo que a gente vai levar da ocorrência até o hospital mais próximo, mas sim o tempo que a gente leva da base do Sarasul até o local. Pois estando lá, nós realizamos os atendimentos, com todos os recursos e insumos necessários como em um hospital”, conta o médico. 

Após o atendimento pré-hospitalar, se há a necessidade de que o paciente seja encaminhado a um hospital, os profissionais levam para a unidade mais próxima que tenha mais suporte para o atendimento. As unidades que são referências na região são o Hospital São José, em Criciúma, ou o Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Tubarão. “Em Criciúma nós pousamos no campo do Batalhão da Polícia Militar, ali no bairro Próspera, onde já terá uma ambulância esperando nós chegarmos para levar o paciente até o hospital”, explicou Mateus. 

Todos os atendimentos marcam os profissionais de alguma maneira, mas eles relembram também um de Siderópolis, onde uma mulher apresentou parada cardiorrespiratória. “A ambulância de lá estava atendendo uma outra ocorrência e essa que fomos chamados era no interior. Se a regulação do Corpo de Bombeiros fosse mandar uma ambulância, sairia de Criciúma para ir até o Rio Jordão, então nos mandaram para atender essa mulher”, conta Mondini.  

Chegando no local, os profissionais já encontram certa dificuldade para pousar, já que a casa ficava no interior. “A vítima além da falta de ar havia vomitado bastante e aspirava o líquido. O médico chegou, entubou e realizou os procedimentos”, completa Mondini. 

“Como a vítima não estava consciente e cada vez mais ela vomitava e respirava, ela poderia ter problemas severos como líquido nos pulmões e as sequelas neurológicas por causa da falta de ar chegando no cérebro. O atendimento preveniu isso. Foi um sucesso”, conta o médico.

Próximos passos do Sarasul 

Hoje o serviço é operado pela Ozz Saúde, empresa que ganhou o edital da Amrec para o suporte dos profissionais e insumos, e a Polícia Civil. O local utilizado pelo Saer é locado, igualmente a aeronave que também é locada. 

Os custos, apesar de serem altos, valem a pena. “O tempo resposta é a mais importante. A gente sair daqui e chegar na vítima. Isso muda o depois. As sequelas e a reabilitação das pessoas. Os custos são muito pequenos diante da economia que dará aos cofres públicos depois”, conta Mateus. 

A intenção dos profissionais é da implantação de uma base própria do Sarasul e até mesmo a aquisição de uma aeronave própria. “Nesses primeiros meses já foram realizados vários atendimentos na Amesc e Amurel também. Então a busca agora é a parceria nas outras duas regiões e a busca por apoio da empresa que administra a BR 101, a CCR Via Costeira. Hoje nosso Hospital São José não conta com heliponto. Temos alguns projetos em discussão, um deles é a construção de um heliponto no Morro Cechinel, assim a ambulância poderia chegar mais rápido aos hospitais, a logística ficaria em 4 minutos para chegada no São José e também no Hospital Santa Catarina”, calculou Tita Beloli.

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