O futebol tem suas histórias. Quis a bola que o Esporte Clube Próspera, de vice-lanterna de uma Série B e quase desistente de jogar a seguinte, conseguisse um acesso que pouca gente apostaria, após formar uma nova diretoria e ter um retorno especial na casamata.
A bola é manejada pelos jogadores, que são orientados pelo técnico, que responde a uma diretoria, formada pelo presidente. Há quem fale em estrela, sorte, competência ou tudo junto. O maior golfista da história, Tiger Woods, uma vez disse "quanto mais eu treino, mais sorte eu tenho".
Em seu primeiro ano como dirigente, o advogado Israel Rocha, criciumense de 39 anos, presidente do Próspera, levou o Time da Raça da beira do abismo para o topo da montanha - 13 anos depois, o clube retorna à elite do futebol catarinense. Ao seu lado tem o trabalho do diretor de futebol, Nei Rama, e uma figura estrelada, de história no futebol catarinense e brasileiro: Paulo Baier.
São apenas quatro temporadas do ex-jogador de Criciúma, Palmeiras e Goiás como treinador. O gaúcho de 46 anos comandou o Próspera em duas delas: foram dois títulos com acesso, da Série C e B do Catarinense.
A reportagem do 4oito foi até o Mário Balsini e conversou com Israel Rocha. O dirigente fez uma avaliação do trabalho feito no Próspera neste primeiro ano, dos quatro que terá, à frente do clube, a relação com Paulo Baier e categoria de base, e o planejamento para 2021: o Time da Raça, o último expoente carbonífero no futebol profissional, almeja voos nacionais ao lado de sua torcida.
- Como está o planejamento do Próspera para 2021?
"É uma sequência de 2020. Estamos pensando em trabalhos que não conseguimos implementar na Série B, um pouco em razão da pandemia. Não pudemos trabalhar o sócio torcedor e agora em 2021, com a esperança da vacina e a possibilidade de termos torcida no estádio, a gente implementa o plano".
- Como será a montagem do elenco para o Catarinense de 2021?
"Pensamos na manutenção dos atletas da Série B, que temos confiança e são comprometidos. A base fica, com acréscimos pontuais em posições que achamos interessante, principalmente para o nosso objetivo que é a permanência na Série A".
- Qual o planejamento para apresentação de elenco e de pré-temporada?
"Desde o dia 14 (de janeiro) os atletas estão chegando, estamos com 95% da equipe formada. Os anúncios serão apenas após exames médicos e assinatura dos contratos, quando nos sentiremos seguros para evitar problemas com relação a atletas e outros clubes, fazemos esse mapeamento para ver se eles estão liberados de fato.
No ano passado a gente estava com uma equipe grande, 40 atletas, muitos vindos do sub-17 e sub-20. Quando pensávamos em Série B, pensávamos em usar as pratas da casa. Esse ano as categorias não serão mais trabalhadas diretamente com os profissionais. O Paulo Baier vai ter acesso ao sub-17 e 20 para buscar um ou outro atleta que tenha interesse. Com relação ao elenco do ano passado, uns 75% permaneceram, principalmente os titulares"
- Qual o papel da base e como está a situação financeira do clube?
"O ponto de equilíbrio para um clube pequeno talvez seja o investimento na base, principalmente a venda desses atletas. O Yan é reflexo disso, contratamo-os para o sub-20 e trouxemos ao profissional. Fruto dessa relação, negociamos o empréstimo com opção de compra com o São Paulo. A gente pensa em longo prazo. Nesse momento, o ponto de equilíbrio com relação aos custos do futebol, passa por patrocínios e investidores. Estamos constantemente buscando, não só em Criciúma e região, mas no país".
- Jogar a Série A aumenta a procura de patrocinadores pelo Próspera?
"Aumentam não só os custos, mas também a possibilidade de arrecadação. A vitrine do Campeonato Catarinense é recomendada, sem dúvidas é um campeonato bastante competitivo. Temos muitos clubes despontando no Brasileiro, agora a Chapecoense na Série A, Avaí Série B, outros em C e D. Em razão da competitividade, é atrativo aos patrocinadores"
- Quais os desafios que o clube enfrentará na Série A?
"É um campeonato curto, são 11 jogos e disputamos a maioria fora de casa. Talvez isso dificulte o trabalho. Agora, a responsabilidade, quando vamos para jogos contra grandes equipes, é toda com eles. A nossa é mostrar que tem potencial para estar naquele espaço. Isso talvez seja um fator positivo para o atleta do Próspera. Na Série B também não éramos favoritos".
- O que muda no clube, em relação à marca, para disputar a Série A?
"Caíram as estrelas do nosso escudo. Com relação à marca, reposicionamos-a. Os parcerios nos procuram porque passaram a confiar no projeto. Estamos com comprometimento, entrega e raça, esses parceiros terão o retorno".
- O clube carrega o bairro no nome. Na busca por parceiros, até onde vai a busca?
"Nunca o pensamos como um clube restrito à região. Pensamos como um clube de Santa Catarina. Nesse exato momento, o último clube carbonífero jogando em alto rendimento. É um clube de 75 anos, faremos o aniversário na Série A. O Próspera tem que ser de Santa Catarina, o Brasil tem que o conhecer. Manteve-se em pé e vivo porque tem uma raça que precisa ser conhecido por todos".
- Tu notas a resposta dos investidores de fora da localidade?
"É um time muito querido. Iniciamos o processo em busca de patrocínios e agora teremos essa resposta. Quando lançarmos o sócio, vamos ter a resposta de quanto esse clube é querido, estimado e quanto as pessoas querem ajudá-lo a ser forte no cenário nacional e de Santa Catarina"
- Como tu projetas o clube para os próximos anos?
"Nós precisamos de calendário. A busca é ter primeiro e segundo semestre. O objetivo no Catarinense é manutenção, mas pensando também em buscar a Série D de Brasileirão. PAra ter mais tranquilidade de contratações e pensando na projeção dos nossos atletas. É importante que façamos bom campeonato e buscar acessos no Brasileiro".
- Qual a representatividade de Paulo Baier na história recente do clube?
"O Paulo Baier é ídolo da região e do país enquanto atleta. Como técnico, ele é o mais vencedor da história do Próspera. O Próspera faz bem para o Paulo Baier e vice-versa. Ambos comprometidos um com o outro".
- O Paulo é uma marca da credibilidade para o Próspera trazer jogadores?
"Pela vida vitoriosa dele e o que ele vem escrevendo aqui, muitos atletas sentem-se confiantes para trabalhar com um nome como o dele. Isso sem dúvidas facilita a negociação, para demonstrar que o trabalho feito aqui é sério e com planejamento, e que a gente busca alcançar aquilo que propõe".
- Como tu avalias a possibilidade de ter torcida no Catarinense em 2021?
"O Próspera não fecha os olhos para o momento global de pandemia e o Campeonato não pode ficar comprometido com a possibilidade de lockdown. Quando colocamos na balança, temos que ter muito cuidado em pensar só no financeiro e não na saúde pública. Se tivermos condições sanitárias para ter torcedor, será perfeito. Poderemos comemorar nossos 75 anos como imaginamos"
- Tu acreditas que possa ter a liberação de 30%?
"Pode. Santa Catarina é um estado organizado, com a saúde pública bem planejada. Criciúma também. Temos dificuldades, mas sem dúvidas, vemos o quanto estamos avançados em comparação com outras regiões do país. Considerando esses fatores e o poder público entendendo que é possível, poderemos ter esse avanço. Inicialmente 30% para testar esse novo normal".
- Como vai ser o plano de sócios?
"Ele é pensado conforme o perfil do torcedor. Aquele engajado, mas pensamos em muitas camadas. Um pacote de benefícios, além de descontos, produtos. Estamos em formulação de preços, entender o que funciona ao nosso torcedor. Para que todos possam contribuir o ano inteiro e não só na temporada, para isso temos que entregar a contrapartida. Estamos pensando nesse conjunto de benefícios"
- E o catarinense é no Heriberto Hülse...
"O nosso agradecimento à generosidade do Criciúma Esporte Clube, agradecimento ao Anselmo (Freitas), ele nos auxiliou e deu a oportunidade de jogar no Heriberto Hülse. Nosso primeiro jogo é no Domingos Gonzalez, em Tubarão, em função das datas de proximidade entre os jogos e a regeneração do gramado"
- Como foi abrir mão de jogar no Mário Balsini?
"A gente tem que trabalhar com a razão. Era muito pouco tempo para fazer muitas modificações, existe um manual de procedimentos de estádio no Catarinense. Não cumpríamos com relação ao gramado, iluminação e quantidade de espectadores. Estamos nos planejando para que cumpramos todas as características no próximo campeonato".
- 2022 volta ao Balsini?
"Trabalhamos para isso. A gente projeta e vai em busca do que é possível. Em 2022 é possível estar no Engenheiro Mário Balsini.
- Quem são os adversários do Próspera em seu Campeonato Catarinense?
"Nosso campeonato é de manutenção. Temos que olhar para os dois que subiram com a gente, o Metropolitano e o Hercílio Luz. Aqueles que permaneceram com dificuldade no ano passado, olhamos para o Concórdia. O bom trabalho feito pelo Juventus e vamos subindo, Marcílio Dias... Tem outro campeonato, o pelo título, mas roubaremos pontos. São 11 jogos, cada um é uma final para nós. Sabemos como jogar cada jogo".
- Quais clubes tu olhas como modelo para o Próspera?
"São muitos modelos no Brasil. De gestão, a gente olha para o Bahia, Fortaleza, Grêmio. Relacionados à base, olhamos para Juventude, São Paulo. A gente olha para Chapecoense... Quando pensamos em clube empresa, tem o Red Bull, Athletico Paranaense. São muitos os modelos. Temos que buscar o que aproxima mais da nossa fórmula. Precisamos adaptar boas ideias ao nosso tamanho e fazer boa gestão".
- O Bahia se envolve muito nas questões sociais. Como o esporte contribui com elas?
"O esporte contribui como foco que ilumina questões sociais que temos no Brasil e precisam ser visualizadas. Não podemos tapar os olhos aos problemas do Brasil, seja de machismo, racismo, fome e doenças que muitas vezes não são curadas no Sus. O clube tem torcedores e o torcedor está na sociedade. Quanto tu estás diante de um problema e tu és um foco e uma bandeira, é importante iluminar para auxiliar.
Tivemos dois problemas grandes no Brasil, no Amazonas (de saúde) e o apagão no Amapá. É importante que, se por ventura não se apresentam soluções, que as pessoas reflitam sobre. O Próspera não vai se furtar a chamar a atenção aos problemas da sociedade".
- Qual tua avaliação sobre a tua gestão e até onde ela pode ir?
"Até aqui é positiva. Assumi o clube em um momento em que iria cair para a Série C, sem jogar a B. Não só jogamos a B como tivemos o acesso. Sem dúvidas faremos mais. Precisamos ser um clube formador, entregar para a sociedade o social do Próspera, entregar muito mais do que 90 minutos. Tem que fazer trabalho que engaje e esteja presente na sociedade, para modificar a vida das pessoas e dos jovens. Seja pela escolinha, base ou o simples fato de ter oportunidades administrativas e gestão. Temos que nos tornar um clube formador, de cidadãos atletas, e tornar o Próspera forte em Santa Catarina".