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Os 30 anos do "novo" camelódromo de Criciúma

Em abril de 92 os comerciantes, na expectativa de tempos melhores, deixavam os boxes apertados da Centenário para ocupar a antiga prefeitura

Por Denis Luciano Criciúma, SC, 22/04/2022 - 15:55 Atualizado em 22/04/2022 - 15:59
Nos seus 30 anos no atual ponto, camelódromo tem de tudo um pouco / Foto: Enio Biz / 4oito
Nos seus 30 anos no atual ponto, camelódromo tem de tudo um pouco / Foto: Enio Biz / 4oito

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"Um negócio ímpar! Centro Municipal de Compras" anunciava em abril de 1973 o extinto jornal O Frege. "Vantagens que nem sempre aparecem", propagandeava, desfiando virtudes do espaço tais como a localização, os preços e até uma camaradagem conferida pelo então prefeito Algemiro Manique Barreto, empossado dois meses antes: "isenção de impostos municipais para este ano".

O anúncio d´O Frege referia o tal Centro de Compras que localizava-se na Rua Anita Garibaldi. Eram lojas que haviam sido inauguradas em meados de 1970 pelo prefeito Nelson Alexandrino (MDB) em princípio de mandato. Coube a Alexandrino inaugurar, ali mesmo, a sede da prefeitura construída por seu antecessor, Ruy Hülse, que não chegou a despachar no local. Ruy propunha uma inovação para a época: um complexo com a torre para uma função (administrativa, no caso) e o térreo com foco no comércio. Era o que "O Frege" anunciava, a oportunidade de usufruir dessas lojas.

Colaboração: Nei Manique
Reprodução: O Frege, abril de 1973

Mas, em paralelo, os camelôs daqueles tempos se distribuíam pelas ruas centrais com suas barraquinhas. O proliferar deles irritava os comerciantes constituídos. Veio o prefeito Altair Guidi e, com ele, o novo Paço Municipal lá nos limites de Pinheirinho, Santa Bárbara e São Luiz. Com isso, foram apenas dez anos de uso para a prefeitura construída por Ruy, inaugurada por Alexandrino, usada por Manique Barreto e pelo próprio Altair. 

Com o novo Paço, a antiga prefeitura perdeu sua função principal. Passou, então, a abrigar órgãos do município, como a Afasc e a Junta de Serviço Militar. Era uma região de pouco movimento. A essa altura, o fervo do comércio estava na Avenida Centenário. Ainda existiam, nas suas margens encrustradas no Centro, as ruas Duque de Caxias (onde hoje encontra-se o Bistek Supermercados), e a Paulo Marcus. Essas duas ruas foram subtraídas pelo Terminal Central, inaugurado pelo prefeito Eduardo Moreira em setembro de 96, mas isso é história para mais adiante.

Centro de Compras na Centenário

Acontece que, em 1986, o então prefeito José Augusto Hülse, tentando encontrar meios de organizar o comércio de rua, fez erguer 25 pequenas lojinhas de alvenaria enfileiradas nos dois lados da calçada que margeava a Paulo Marcus nos fundos do CEI Lapagesse. "Eram duas filas de lojas e o povo passava no meio. O movimento era muito bom", concorda o antigo comerciante José Armando Machado, que chegou a trabalhar ali. Era o novo Centro de Compras da cidade.

Ocorre que havia, no lugar do atual Terminal Central, na Avenida Centenário, o Terminal Urbano Ângelo Guidi. Com coberturas nas calçadas, tratava-se de uma sucessão de paradas onde chegavam e partiam os ônibus com destino a todas as partes do município. Esse vai e vem ao lado do Centro de Compras era garantia de bons negócios. "Trabalhei um ano ali. Quando cheguei, os lojistas não eram organizados, daí fundamos uma associação e fui o primeiro presidente", lembra Machado. "O movimento era bom por causa dos ônibus. A turma chegava e ia nas lojinhas".

O Terminal Ângelo Guidi na Centenário antes do Terminal Central
Foto: Tribuna Criciumense / Reprodução

Zé Augusto deixou a prefeitura, veio Altair Guidi de novo e, com ele, a ideia de um novo aproveitamento para a antiga prefeitura. "Daí veio essa onda de tirar os camelôs da avenida. E para onde levar? E a bronca começou. E veio a ideia da prefeitura. No começo a turma se dividiu, uns contra, outros a favor. Tivemos que sair", reconta Machado. 

Em 1992, nasce o atual camelódromo

Aquelas lojas do Centro de Compras da Anita Garibaldi foram repartidas, outras salas construídas dando origem à atual estrutura física do camelódromo. Ao longo de abril de 1992 a migração foi feita e o Jornal da Manhã de 23 de abril daquele ano anuncia a destruição das lojinhas construídas no governo Zé Augusto na Centenário. Logo, há exatos 30 anos houve aquela demolição para, então, surgir o novo camelódromo da Anita Garibaldi. 

Colaboração: Nei Manique
Reprodução: Jornal da Manhã, 23/4/1992

"O começo foi difícil, não tinha muito movimento", atesta Machado, que seguiu por mais um ano presidente da associação dos camelôs. De pronto, assim que foi feita a mudança, uma outra briga foi comprada. "Tinha muito camelô solto pela cidade, com banquinhas na Henrique Lage, na Pedro Benedet. Não era justo. Convencemos eles, então, a ter suas lojinhas conosco no camelódromo". Assim, os 25 originais se tornaram 32 lojistas, com o acréscimo de mais sete. Mas não foi fácil. "Tive várias brigas com o Fábio Carpes", rememora Machado, puxando o nome do então diretor de Obras da gestão Altair.

Colaboração: Nei Manique
Reprodução: Jornal da Manhã, 23/4/1992

O saudoso JM de 23 de abril refere, ainda, uma visita feita na tarde do dia 22 pelo prefeito Altair Guidi para saber como estavam alocados os camelôs no novo espaço. Ele reforçava a decisão de chamar o local de Central de Compras. Na mesma matéria, o já citado José Armando Machado cobrava Altair sobre a promessa de deslocar para ali as linhas de ônibus com destino a Rio Maina e Siderópolis, com vistas a aumentar o fluxo de pessoas na região, o que de fato aconteceu alguns meses depois. Esse clamor era registrado pelo JM em agosto de 92.

Colaboração: Nei Manique
Reprodução: Jornal da Manhã, 25/8/92

O camelódromo hoje

Iolinda Íris Pereira estava lá naquele abril de 92, arrumando os itens da sua lojinha no novo espaço, depois de 5 anos batalhando na acirrada concorrência do velho Centro de Compras da Centenário. "A loja era menor, estreita, apertada e ganhamos um espaço maior", aponta.

Foto: Enio Biz / 4oito

"Trabalhando como camelô na Centenário e depois aqui eu criei meus filhos, hoje todos encaminhados. E sigo aqui, sou a mais antiga das mulheres aqui". Ela faz o cálculo com base na idade do filho mais velho. "Ele veio para cá comigo aos 4 anos, e está fazendo 35 em setembro".

Atual síndica do condomínio formado para gerenciar o camelódromo, Iolinda lembra que a presença ali é composta de etapas, de altos e baixos. "Já teve fases boas, agora passamos uma crise com a pandemia", registra. "No começo foi muito difícil. A gente não vendia nem para comprar o almoço". Era comum, nos anos 90, levar as banquinhas para a frente de empresas e até festas. "Ali por 1995 a 2000 até 2010 tivemos uma fase boa aqui, como o comércio todo. Depois começou a diminuir".

As lojas de hoje
Foto: Enio Biz / 4oito

O momento não é dos melhores. "Estamos precisando de apoio da prefeitura, que venha a melhorar isso aqui. A estrutura é boa, tem espaço, as lojas são maiores, veio a feira para cá". Iolinda diz que falta é divulgação para o camelódromo. "O pessoal daqui não tem condições de manter uma propaganda, algo para puxar mais clientes. Precisamos de apoio do prefeito, olhar mais por nós".

A preocupação com lojas que estão fechadas
Foto: Enio Biz / 4oito

Ela aponta que a montagem do condomínio fez melhorar um tanto a situação, e que a prefeitura vem ajudando em incrementos na estrutura. Houve uma reforma recente feita pelo Município, mas o número atual de lojas fechadas preocupa. "Aqui dentro era para ter de 40 a a 43 lojas. Agora deve ter umas 30 abertas, com o condomínio está sendo organizado ainda, teremos licitações, lojas fechadas que voltarão a abrir, tudo isso vai mudar".

A síndica Iolinda com o seu filho
Foto: Enio Biz / 4oito

Iolinda aproveita para convidar a clientela. "Aqui tem desde salão de beleza, barbeiro, lanchonetes e as lojas com brinquedos, eletrônicos, tudo o que o pessoal precisa no dia a dia, desde um carregador de celular até algo maior, um som, som de carro, tem lojas com películas e capinhas para celular, tem de tudo um pouco. A estrutura está boa e vai ser melhorada ainda mais", completa.

Ouça, no podcast, a reportagem do jornalista Enio Biz direto do camelódromo na manhã desta sexta-feira:

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