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Os altos e baixos na lavoura de fumo

Içara já colheu até 12 toneladas ao ano. Hoje, luta para chegar nas cinco. Alternativas são estudadas e oferecidas

Por Fagner Santos Içara, SC, 22/11/2018 - 10:07
Fotos: Guilherme Hahn / A Tribuna
Fotos: Guilherme Hahn / A Tribuna

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O custo de produção está alto, o lucro vem baixo, não dá pra continuar produzindo assim”. A visão do fumicultor Pedro Antônio Gonçalves não vem de hoje. Tem quase uma década. Produtor de tabaco há quase 30 anos, o agricultor vem pensando em diversificar suas lavouras. “Tem que sustentar a produção, pagar pela safra, é muito que se paga e pouco que se ganha”, afirma. Em seus quase dez hectares, plantou mais de 130 mil pés de fumo. Está em tempo de colheita agora. “Continuamos trabalhando com a certeza de que estamos apenas nos mantendo com o básico”, diz. 

Para cada ciclo de produção, um investimento de R$ 60 mil. “Quase R$ 20 mil em mão de obra, R$ 25 mil em custos de energia, R$ 6 mil de óleo diesel, mais R$ 20 mil em lenha, R$ 7 mil para o Imposto de Renda”, refere o fumicultor. Ao fazer as contas, a baixa margem de lucro assusta. É custo de plantio, mão de obra, energia, diesel para equipamentos, insumos e outros. “Com a colheita desse ano, calculamos tirar algo próximo dos R$ 200 mil brutos”, coloca. 

Pedro Gonçalves, fumicultor em Içara

De tudo isso, vão restar R$ 25 mil para dividir em quatro, na família. São pouco mais de R$ 2 mil mensais para cada, mês a mês, em média. E tudo isso sem férias, décimo terceiro ou plano de saúde. “Pode parecer que tiramos muito do fumo, mas acaba sendo menos do que várias outras profissões por aí”, desabafa Gonçalves.

Para complementar a renda, o produtor também planta soja e milho. “Assim dá pra ter uma segurança financeira maior, mas apenas para garantir a sobrevivência”. Diversificar a lavoura é uma das alternativas para os agricultores. “Quando comecei, pagava R$ 80 diários de mão de obra, hoje o chego a pagar R$ 300 por dia”, exemplifica Gonçalves. 

Resultado em queda, mas com esperança

O fumo já respondeu por mais de 50% dos resultados da agricultura em Içara. Hoje, não passa dos 20%. “É uma luta para que o rendimento não caia mais do que isso”, coloca o secretário de Agricultura, Valdelir Da Rolt. “Nos anos 90, foram até 12 toneladas colhidas por ano. Após 2005, a produção passou a diminuir cada vez mais, chegando a pouco menos de três toneladas em 2017, tudo pelo baixo retorno do tabaco e do alto custo de plantio”, compara. 

Valdelir Da Rolt, secretário de Agricultura de Içara

Içara já chegou ao topo do ranking catarinense da fumicultura. Hoje, Canoinhas lidera e os içarenses caíram para o décimo lugar. São aproximadamente 2,7 mil hectares de lavouras de fumo, cultivadas por pouco mais de 500 famílias. “O número vem caindo a cada safra, já chegamos a ter mais de 1,5 mil famílias produtoras”, relata o técnico agrícola e chefe do Setor de Agricultura do município, Marcelo Bertot. 

Ainda assim, a produção deste ano terá incremento de 30%, e com melhor qualidade do que a de 2017. “Acreditamos que vai subir ainda mais, e teremos algo perto das cinco toneladas até os próximos dois meses”, estima Bertot. As chuvas bem distribuídas e o inverno não tão rigoroso propiciaram a leve melhora na colheita. Mas, mesmo com a reação da safra, a orientação é pela diversificação de culturas.

Já foi opção de pai para filho

Além do aperto das finanças, as lavouras de fumo de Içara sofrem com outro problema: a falta de produtores interessados. “É difícil achar alguém com menos de 40 anos plantando, dá pra contar nos dedos”, revela Pedro Gonçalves, do alto da sua experiência de veterano. Jovens filhos de produtores acabam procurando por empregos longe do campo, impossibilitando que os pais consigam manter o plantio. “No meu caso é diferente, minha família me ajuda, mas é muito raro”, observa. 

O filho de Pedro, Darlei Manarin Gonçalves, auxilia o pai há três anos, e tenta diversificar plantando abóbora cabotiá. “Plantei meia safra, mas acabaram morrendo, provavelmente pelo veneno ou seca”, relata o jovem produtor, que pretende continuar na fumicultura, sem abrir mão das abóboras. “Vamos ver se vai dar certo, resta esperar mais 100 dias para a próxima colheita e planejar o futuro”, expõe.

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