Desde o início da pandemia do coronavírus, começaram as previsões e estimativas: quando o vírus chegaria ao Brasil, quais as regiões seriam atingidas, quantos casos e quantas mortes. O vírus chegou com força diferente em cada canto do país e trouxe milhares de mortes. Ainda longe do pico, é temerário afirmar quando será o auge da contaminação.
Fala-se muito sobre as estimativas da ciência sobre a propagação do vírus. Em março, o doutor em microbiologia pela USP, Átila Lamarino, alertou para projeções que indicavam até 1 milhão de mortes no Brasil, caso não houvesse ações de isolamento social. Com as medidas preventivas, os números devem ficar bem abaixo.
Surge, então, o debate: teria a ciência errado sobre o alcance do vírus? Uma questão difícil de ser respondida, pois o entendimento sobre o coronavírus aumenta à medida em que se conhece melhor sua ação. Pode-se, porém, explicar o funcionamento dos modelos abordados pela ciência. Quem analisa é o doutor em saúde pública pela USP, Márcio Sommer Bittencourt, em entrevista concedida à Rádio Som Maior.
"Para a gente modelar, a gente pega dados de quão contagiosa da China ou da Itália. Existe um erro razoável. Os melhores modelos se atualizam todo dia, pegam a curva do Brasil e se corrige baseado nos dados locais. O principal erro é o tempo, acha que vai chegar hoje, mas chega uma semana depois", aponta.
"As pessoas têm que entender que o modelo é feito em um momento. Faço em fevereiro quando o país tá funcionando. Se fizer o distanciamento, como foi feito, a dinâmica muda. O modelo não tem como adivinhar que vai ter distanciamento ou que as pessoas vão voltar a trabalhar", acrescenta Márcio.
De acordo com o médico, os modelos alteram-se conforme criam-se medidas públicas de combate à Covid-19.
"O modelo epidemiológico que previa tantos mil casos, se a gente fizer o distanciamento bem feito, pode ser bem menor. O modelo é útil para informar o que fazer. Uma vez que toma a decisão de fazer, o modelo vai mudar. Se a gente fizer a coisa certa, ele vai ser diferente para melhor. O objetivo do modelo não é acertar o número, é nos dar a informação para trabalhar", aponta. Ele conclui: "Quanto melhor o modelo for, mais nos ajuda a planejar distanciamento, estratégias de exames e para onde vamos mandar médicos".