A pandemia da Covid-19 fez com que o abismo social na educação brasileira se tornasse ainda maior. Com o fechamento de escolas, a qualidade educacional se tornou ainda mais distante entre estudantes ricos e pobres, situação que deverá ter um impacto psiquiátrico negativo em crianças e adolescentes em formação.
“Essa distância que existe entre o rico e o pobre, do ponto de vista de oportunidades, foi aprofundada de uma maneira muito violenta com esse fechamento. O rico tem internet boa, que funciona, os pais têm mais estudo e podem dar um suporte educacional melhor. A pessoa mais simples tem que sair para trabalhar, a criança fica sozinha, com a avó. Essa diferença que tentamos corrigir com a educação pública, sobretudo, foi aprofundada pela privação do acesso a educação”, destacou o psiquiatra João Quevedo.
Além da questão educacional, que se tornou precária para muitos por conta do fechamento das escolas no Brasil, algo feito com o intuito de conter o avanço da Covid-19, o desenvolvimento social de jovens também será afetado. A falta de interação social entre pessoas em formação pode acarretar problemas psiquiátricos futuramente.
Segundo João Quevedo, as crianças precisam de socialização nesse momento de crescimento. “É assim que vão construir suas personalidades, o jeito de funcionar baseado na modelagem dos colegas, professores, aprendizado e conteúdo também”, pontuou.
Agora, com as escolas abertas em praticamente todo o país com medidas de segurança contra o novo coronavírus, surge uma “necessidade de volta”. De acordo com o psiquiatra, as crianças precisam voltar à escola, para que sejam estimuladas novamente depois de tanto tempo em isolamento.
“[As crianças] vão ter dificuldades, necessariamente para cobrir o buraco que ficou tanto do ponto de vista de conteúdo, quanto de emocional. Vai levar um tempo. Uma geração que vai ficar com sequelas que vão se prorrogar”, comentou.