Especialistas da área da saúde avaliam com ceticismo a abertura comercial proposta no Brasil, que tem como exemplo o estado de Santa Catarina. É praticamente consenso que o pico da Covid-19 não chegou nas regiões brasileiras e o temor segue sendo pelo colapso do sistema de saúde. No país, há confirmação diária de mais de 600 mortes nos últimos dias, com o número total ultrapassando os 9 mil.
Para o médico cardiologista, Márcio Sommer Bittencourt, mestre em saúde pública por Harvard e doutor pela Universidade de São Paulo, é difícil avaliar quando será o pico da doença no país. No entanto, ele pondera que pode estar próximo em São Paulo, longe em regiões interioranas, mas alerta: o pico, quando chegar, deve demorar a descer.
"Quase todos os lugares que evoluem parecido com o Brasil, com o tipo de intervenção que estamos fazendo, depois do pico, para descer, é lento. Depois de atingir número muito alto, você fica em um patamar alto por muito tempo", disse Márcio, em entrevista à Rádio Som Maior.
"Algumas projeções sugerem que São Paulo está chegando perto do seu pico, outras acham que o pico é mais para frente. Para a maior parte do país, o pico não chegou e é provável que tenhamos projeção da doença", alerta o médico.
Ele comparou a situação de São Paulo com Criciúma; na maior cidade do país, o contágio iniciou alto entre a classe alta, que chegou a ver, posteriormente, redução de 25% nas internações na rede privada. Porém, alastrou-se para as demais classes sociais, atingiu a rede pública de saúde e agora volta a atingir as pessoas de maior poder aquisitivo.
"Em vários lugares do interior do Brasil parece que há um intervalo de tempo entre o que acontece em SP, Manaus e São Luís e o que acontece em cidades médias, como Criciúma, que estão um pouco atrás. Não é que a doença passou ou não vai chegar, é questão de tempo. Receio é que o excesso de tranquilidade e de repente vem uma avalanche e não conseguir conter. Parece que a curva de Criciúma lembra o que aconteceu em São Paulo", aponta.
"O pessoal de condição financeira melhor viu a onda vir, "desparecer" e começou a achar que tava tudo certo. Nisso surgiu no restante da população e agora reentra na rede privada", alerta Márcio.
De acordo com o médico, é possível que o Brasil tenha testemunhado várias "entradas" do vírus: em São Paulo e Manaus simultaneamente - e não espalhando-se de São Paulo para Manaus. Há, também, a transmissão da doença de regiões do país para outras, o que faz com que os tempos de contágio sejam diferentes. A exemplo do que aconteceu nos Estados Unidos.
"Têm alguns focos, chamados de áreas quentes, Para desenhar a curva é diferente quando tem vários centros é como se fosse sobrepondo várias curvas ao mesmo tempo. Nova York já passou do pico. Nova Jérsei, que é do lado, está atrás, ainda no pico. No interior dos Eua, têm lugares que ainda não começou. Mais ou menos como o padrão do interior do Brasil. Às vezes não faz um pico tão rápido, sobe mais devagar e vai formando esse platô", explica Márcio.
"São Paulo parece que daqui a algumas semanas vai estar melhor, mas ao mesmo tempo o interior de SP está subindo, ou centro-oeste ou região sul. São Paulo está na frente de várias cidades norte-americanas", concluiu o médico.
Em Santa Catarina, o boletim divulgado pelo governo do Estado aponta para 63 óbitos e 3082 casos confirmados de Covid-19. Os números mantêm-se estáveis desde o dia 1º de maio, com pequena variação.