O supermercado é o último elo entre a produção e o consumidor. Na grande maioria das vezes, é lá que o consumidor tem acesso aos bens de produção, sejam eles industrializados ou alimentos in natura. O aumento da alíquota do ICMS para alimentos da cesta básica, em vigor desde o dia primeiro de agosto, acabou impactando nos supermercados de Criciúma. A avaliação do desenvolvimento econômico da Amrec é de que pode ter havido um aumento de 1,5% até 3% dos produtos na saída do varejo.
O aumento do ICMS gera uma arrecadação maior para o Estado instantaneamente. Porém, a longo prazo, a situação pode regredir, com a queda de consumo. Pensando nas vendas, a Associação Catarinense de Supermercado (Acats) posicionou-se contrária ao aumento da alíquota, que em alguns produtos chega até aos 17%.
"Desde o momento em que o governo se propôs a fazer as alterações, travamos a intenção de não permitir o aumento das alíquotas. Nós conseguimos depois de alguma pressão fazer com que nem todos os produtos tivessem a alíquota alterada. Essa majoração necessariamente passa pela ponta, nós somos a cadeia final de abastecimento, e esses produtos tiveram aumento", avalia o vice-presidente regional da Acats, Nazareno Dornelles Alves
Ailson Piva, coordenador de desenvolvimento econômico da Amrec, destacou que a arrecadação estadual de ICMS vinha numa crescente no começo do ano, mas apresentou queda de rendimento nos últimos meses. "Quanto tu tens o aumento de ICMS, destes 14 produtos e vários são muito vendidos, de imediato tu tens um ganho econômico, retorna mais imposto. O que acontece com o passar do tempo? Você vai optar por um produto de outra marca, mais barato. Ou vai deixar de consumir e a arrecadação vai cair", projeta.
Aumento da cesta básica, aumento da inflação
Outro ponto levantado por Ailson é a inflação. "Com aumento da inflação, o Estado paga mais caro amanhã ou depois, com os produtos que ele consome. No próximo ano, os salários que são indexados por índice de inflação, como os professores, também têm um aumento maior", explica.
A avaliação é de que os produtos incluídos no aumento da alíquota (alguns de 7% a 12% e outros de 7% a 17%) tenham um majoração real ao bolso do consumidor de 1,5% a 3%. "Na pior das hipóteses de 3,5%", estima Ailson.
No entanto, alguns dos produtos que tiveram aumento de ICMS não tiveram aumento na rede varejista. "Se aumentarmos os preços, há redução de vendas. Em certos momentos, temos que sacrificar o nosso ganho para preservar a nossa venda, mas tem um limite e depende da gestão de cada seguimento", esclareceu Nazareno.
E o consumidor?
Eles já sentem o aumento no bolso. Desde agosto, com o aumento do ICMS, aumentaram os preços nos supermercados. São buscadas, então, alternativas para economizar. "O arroz teve a alíquota alterada e o consumidor vai perceber que está alguns centavos mais caro. Tem varios fatores que influenciam no aumento de preço: um dos fatores é o custo, pautados também pelos impostos, mas eles também se baseiam pela livre ação de mercado. O consumidor tem que fazer a pesquisa e ver onde está mais em conta", aconselha Nazareno.
"A gente repassa o aumento porque tem que manter a nossa empresa funcionando e gerando lucro. Mas também temos que olhar para o mercado, entender a situação econômica do consumidor que está debilitada, por questão de emprego, salário, insegurança", justifica Nazareno.
Tânia Maria de Carvalho, professora de 54 anos, traça estratégias para economizar. "Tá tudo muito caro, as frutas, verduras, a carne. Esse ano o aumento tá demais. Muitas coisas eu já estou excluindo das minhas compras. As carnes, por exemplo", aponta.
"Eu pesquiso muito e faço as compras mais curtas, evitar aquele rancho. Tem que ver onde tá mais barato para economizar. O aumento maior que eu noto é na carne vermelha, eu como muito e percebo esse auemento. Não consigo deixar de comprar, mas vejo que está mais cara", destaca o analista de sistemas Andrei Pacheco Fernandes, 26 anos.
ICMS
O aumento do ICMS foi uma proposta apresentada pelo executivo em junho, aprovada parcialmente pela Alesc e em vigor desde agosto. Ele é um imposto sobre a circulação de mercadorias e acaba sendo cumulativo: quando sai da indústria para o supermercado e quando sai do supermercado para o consumidor. De toda a arrecadação, 75% fica com o Estado e 25% são repassados para os municípios.
Crescimento no ano passado de 4%. É a previsão de crescimento global para 2019 no Estado. A associação brasileira trabalha com inflação +1, ou seja, de 5%. "O aumento da alíquota nos preocupa porque não há consumo suficiente para suprir esses aumentos. Ainda é cedo para avaliar".