O Criciúma está virtualmente rebaixado para a Série C, após uma temporada de sucessivos fracassos dentro do Heriberto Hülse. Apenas uma união de divindades, capaz de operar um gigantesco milagre, salva o Tigre da degola. Um ano alarmante para o torcedor carvoeiro, mais uma vez com o desgosto de um descenso de divisão. A provável queda será a quinta do Tigre nos últimos 15 anos.
Um clube campeão da Copa do Brasil, que disputou quartas de final de Copa Libertadores e tem 13 participações na Série A do Campeonato Brasileiro, além de 24 na Série B, poderá jogar pela quarta vez na história uma Série C em 2020, seis anos depois de disputar pela última vez a Série A.
Nestes 15 anos, o Tigre foi rebaixado duas vezes da Série A para a Série B e duas vezes da Série B para a Série C.
O primeiro rebaixamento da saga foi em 2004, quando o Criciúma do camisa 10 Douglas foi rebaixado na última rodada do Brasileirão, em um empate em 3 a 3 contra o Coritiba no Majestoso. No ano seguinte, 2005, o clube foi um dos seis rebaixados para a Série C, no último ano antes dos pontos corridos serem instaurados na segunda divisão nacional.
A saga de rebaixamentos continuou após o Tigre retornar para a Série B, com o título da Série C em 2006. Em 2008, nova queda para a terceirona, com uma derrota para Ponte Preta no Moisés Lucarelli. Depois de patinar na Série C em 2009, o Tigre retornou para a Série B em 2010 e em 2012 subiu para a Série A.
A glória precedeu uma nova época de sofrimentos. Depois de escapar da queda para a Série B na última rodada em 2013, o Criciúma fez uma campanha sofrível em 2014, com 28% de aproveitamento, sendo o lanterna da Série A. Agora, reflexo ou não deste rebaixamento, o Tigre está praticamente rebaixado para a Série C, com apenas 7 vitórias em 37 jogos e 32,4% de aproveitamento na Série B 2019.
O Portal 4oito faz um breve raio-x das temporadas negativas do Criciúma e traz uma análise do comentarista João Nassif sobre os últimos anos no Heriberto Hülse, que culminaram com a pífia temporada de 2019, em que o Tigre teve dificuldades já no Campeonato Catarinense.
2004
Com o jovem Douglas com a camisa 10, o Tigre chegou a liderar o Brasileirão, entre a 7ª e a 10ª rodada. Porém, ao final de 46 rodadas – na época o campeonato tinha 24 equipes -, o Criciúma teve queda brusca de desempenho e chegou no último jogo precisando vencer o Coritiba, em casa, para escapar da degola.
O Criciúma até saiu na frente, com gol de Vágner Carioca. Porém, o Coxa empatou com o zagueiro Miranda, aquele mesmo, da Seleção Brasileira. Vágner Carioca colocou novamente o Tigre na frente no marcador, fazendo 2 a 1. Mas o time de Lori Sandri não resistiu, cedeu a virada aos paranaenses e conseguiu o insuficiente empate aos 46 da segunda etapa, com gol de Saulo.
Com 50 pontos, 36% de aproveitamento, o Criciúma foi rebaixado na 21ª posição, ficando atrás apenas um ponto do Botafogo, 20º colocado e primeira equipe fora da zona. Caíram junto com o Tigre o Grêmio, lanterna, Vitória e Guarani.
2005
Vindo da Série A, esperava-se algo positivo do Tigre no ano, o que não aconteceu. Em uma campanha pífia, o Criciúma terminou a primeira fase da competição na vice-lanterna, seis pontos atrás do Sport, primeiro time fora da zona de rebaixamento.
Foram apenas 19 pontos conquistados em 21 partidas, com 6 vitórias e um aproveitamento de 30,15% Na despedida do Majestoso no ano, uma derrota por 2 a 1 para o CRB, com gol de Zé Carlos para os alagoanos, que mais tarde viria para o Tigre e marcaria 67 gols em 109 jogos com a camisa Tricolor.
Caíram junto com o Criciúma o Caxias, lanterna, União Barbarense, Anapolina, Vitória, que assim como o Tigre vinha da primeira divisão, e Bahia. Neste ano, a Série B teve como campeão o Grêmio, em partida conhecida como a Batalha dos Aflitos: com sete jogadores em campo, o Tricolor gaúcho venceu o Náutico, na última rodada do quadrangular final.
2008
Depois de lutar para subir à Série A e não cair para C, tudo isso na mesma temporada em 2007, o Criciúma mais uma vez decepcionou o torcedor na Série B. O time que tinha Zulu como camisa 9 chegou à última rodada da Série B precisando vencer a Ponte Preta para escapar da degola.
Porém, já aos 19 minutos do primeiro tempo o Tigre tomou o primeiro gol, de Ricardo Conceição. Na segunda etapa, os paulistas ampliaram a vantagem com Marcelo Soares. O Criciúma descontou com Zulu os 40 do segundo tempo, mas já era tarde. Marcelo Soares ainda fez o terceiro gol para a Macaca.
Mesmo se vencesse a partida, o Tigre seria rebaixado, pois os resultados paralelos não ajudaram. Foram 41 pontos conquistados em 38 jogos, 11 vitórias e 35% de aproveitamento, ficando na 18ª posição, quatro atrás do Fortaleza, 16º. Caíram junto com o Tigre o CRB, Gama e Marília.
Neste ano, o Corinthians fez a melhor campanha da história dos pontos corridos na Série B, com 85 pontos e 74% de aproveitamento. O centroavante Túlio Maravilha foi o artilheiro da competição, com 24 gols.
2014
Um elenco que tinha Iago Maidana, Fábio Ferreira, Cléber Santana, Lucca, Gustagol e Roger Guedes. Nomes emergentes e outros, de certa forma, consagrados na Série A do Campeonato Brasileiro. A mescla não foi suficiente para o Tigre manter-se na elite do futebol brasileiro. A campanha em 2014 foi trágica, com apenas 30 pontos e a lanterna isolada no Brasileirão.
O rebaixamento veio na 36ª rodada, em São Luís do Maranhão. O adversário era o Flamengo e, virtualmente rebaixado, o Tigre precisava vencer para não cair matematicamente.
A vitória não veio. O time de Luizinho Vieira saiu atrás no placar, com gol do centroavante Elton aos 37 do primeiro tempo. Cléber Santana empatou a partida aos 20 da segunda etapa, insuficiente para tentar uma reação. Pela quarta vez em dez anos, o Tigre se reencontrava com o rebaixamento.
O que explica o desempenho de 2019?
Comenta-se na crônica esportiva: o Criciúma tem estrutura física, paga em dia e apostou em jogadores de nome na Série B. Por que, então, está virtualmente rebaixado? Quem tenta explicar o pífio desempenho do Tigre na temporada é o comentarista do Timaço da Rádio Som Maior, João Nassif.
“A temporada 2019 foi a cereja do bolo de um processo de desintegração do Criciúma, que já vem há algum tempo. A gestão Jaime Dal Farra iniciou um processo degenerativo. É um presidente centralizador e que não tem a mínima condição de tocar o futebol. Não adianta, como fez nesse ano, trazer Maringá, Gilson Kleina, reconhecidos numa Série A de campeonato Brasileiro, se não os der autonomia pra trabalhar. O Maringá não teve recursos pra fazer contratações de peso que pudessem dar ao Criciúma um estágio diferente. Falta de recursos, degringolada de departamentos - médico, psicólogo, fisioterapia, nutricionistas -, tudo isso acabou definhando e o reflexo é direto no futebol dentro de campo. Os jogadores tem mínima parcela de culpa, sim, mas eles estavam sem perspectiva de que pudessem ter um respaldo maior por parte da direção”.
E o futuro?
A provável queda acende no torcedor a expectativa de disputar títulos em 2020, o que o clube não vinha conseguindo fazer nem na Série B, nem no Campeonato Catarinense. E aí, Nassif?
“Tantas e tantas temporadas, o Criciúma correndo contra o rebaixamento inclusive no Catarinense. Não se faz futebol sem um planejamento efetivo, consciente e acima de tudo de capacidade para tocar o futebol. O Criciúma não teve essa prerrogativa, por isso sofre esse rebaixamento. Os erros não foram de agora, vêm se acumulando e uma hora não teve mais para onde correr, para onde escapar. Uma situação constrangedora e acima de tudo, para o torcedor, aflitiva. O torcedor confiava no time, prestigiou, empurrou, encheu o estádio em busca de resultados que os jogadores não conseguiram. O Criciúma vai padecer por mais dois anos e se não houver uma mudança radical a partir de agora, que eu não acredito que tenha, o Criciúma vai ter muitas dificuldades. Primeiro para retornar à Série B do Campeonato Brasileiro e segundo correndo o risco de parar numa Série D”