O professor Rogério Portanova, candidato ao Governo do Estado de Santa Catarina pela Rede, esteve em Criciúma na última semana e concedeu entrevista à Rádio Som Maior e ao Jornal A Tribuna. Na oportunidade o pré-candidato disse que o destino da indignação da sociedade é “uma grande incógnita”.
“Do ponto de vista estadual o que nós temos é algo um tanto quanto anômalo, porque os candidatos que hoje despontam são todos eles candidatos que não tem uma referência como presidente da República, mas tem candidato a governador. Nós temos os principais candidatos e não temos uma referência nacional”, esclareceu.
Segundo Portanova, nacionalmente, ao que tudo indica o PSD não deve ter um candidato à presidência, mas buscará uma vaga de vice junto a Geraldo Alckmin. “Quem hoje está praticamente definido é o PSDB, com o Alckmin, o PT que deve ir com o Décio Lima. E essa excrescência política, que é o Bolsonaro, que até hoje não tem partido e que lidera as pesquisas. E, por outro lado, vemos essa indefinição do PDT, que não tem candidato (à presidência), mas tem candidato a governador. Eu diria que nesse quadro de políticos tradicionais da esquerda, da centro-esquerda, da direita e da extrema direita, há uma novidade, e essa novidade se chama Marina Silva”, afirmou.
O pré-candidato ao governo do Estado conta que Marina está organizando um Partido Movimento, que foge dos partidos tracionais e tem um movimento fora da eleição e, segundo Portanova, agrupa as melhores pessoas nos diversos movimentos sociais para serem apresentados como candidatos.
“Em Santa Catarina, segundo as duas pesquisas que observamos, tem 14% das intenções de votos, então é dentro dessa margem que pretendemos atuar. Rapidamente, a análise que tenho que fazer é que Santa Catarina não está com as suas principais lideranças afinadas com as principais lideranças nacionais que temos como pré-candidatos à Presidência da República atualmente”, explicou.
Bolsonaro
Apontado nas pesquisas de intenção de voto como um dos favoritos ao cargo de presidente da República, Jair Bolsonaro também foi tema de questionamentos ao candidato do governo do estado.
“A primeira coisa que devemos observar é que existe um discurso fácil e populista a respeito da condição econômica que se materializou numa insegurança generalizada em vários estados, sobretudo nas capitais, e o ícone deste processo é o Rio de Janeiro e ele faz esse discurso militarista, da volta de uma falsa segurança de um militar que praticamente foi expulso da corporação, ele não é uma liderança entre os próprios militares, mas incorpora esse discurso fascista”, comentou.
Portanova diz que este discurso não é um fenômeno iminentemente brasileiro. “Nós vimos isso na França, com a Marine Le Pen, nós vimos isso na Holanda. Hoje a Áustria tem um governo de extrema direita, depois de mais de 40 anos com a social democracia. E o Trump, que talvez seja o exemplo mais acabado de como estamos esgotando um certo modelo de civilização que tinha no pluralismo, na democracia agenciada pelos próprios americanos e pelos Estados Unidos, hoje um protofascista no poder”, afirmou.
O professor explica que Bolsonaro ocupa um espaço de um vácuo feito pelos últimos governos que levaram a situação econômica e de segurança preocupante dos dias atuais. “Aparece uma espécie de salvador da pátria, mas é interessante que é um salvador que não tem uma organização política, não tem nenhuma consistência econômica, polícia e social. O negócio dele é porrada, é vir para o confronto e propondo, inclusive, o fechamento do Congresso”, explicou.
Na entrevista, Portanova chegou comparar com o caso de Hitler. “Hitler chega no poder e tem a sua ascensão pelo meio eleitoral, ele nunca deu um golpe. Quando se falam que a intervenção do Temer é um golpe militar, essa visão de golpe não precisa ter intervenção, ela já tem um candidato que lidera as pesquisas. Eu acredito, que no momento do debate, o eleitor brasileiro vai saber analisar as propostas e ver qual o seu grau de executabilidade”, disse.
Governo Temer
“O governo Temer é ilegítimo, talvez legal, mas absolutamente ilegítimo, alçado a vice pelo PT por duas vezes, acaba tendo uma postura muito mais a direta de resolver de forma espalhafatosa o que é muito profundo. Eu pergunto: o que vai acontecer em dezembro, quando terminar a intervenção?! Que interessante, que a intervenção vai até o segundo turno, ela não se estende após esse processo”, questionou.
Marina Silva
Portanova diz que antes mesmo do nascimento da Rede, quando houve um conflito entre Dilma e Marina, quando eram ministras, houve um descolamento de Marina com o PT. “Dali para frente ela (Marina) tenta procurar uma via própria que teve seus percalços. Primeiro ela concorre em 2010, para a presidência da república, pelo Partido Verde, tenta uma negociação e não é aceita- o Partido Verde hoje é mais um partido tradicional, infelizmente, que tem algumas bandeiras ligadas ao meio-ambiente, mas ligada a uma sublegenda do PSDB-. Depois, em função de não ter conseguido a legenda ela acaba se aliando ao ex-governador Eduardo Campos, onde concorre a vice e aí tem o trágico acidente e ela assume a candidatura mais uma vez. Duas candidaturas à Presidência da República por partidos que não eram dela, movimentos que não eram dela e propostas que não eram exatamente as dela. Pela primeira vez ela se apresenta, eu diria inteira, com seus militantes, suas ideias e com o reconhecimento internacional que poucos candidatos tem no espectro que estão apresentados hoje”, comentou.
Para ele, Marina Silva é hoje, entre os pré-candidatos, a mais experimentada e a que mais tem experiência no pública. “Se todos esses elementos simbólicos e concretos não trazem o signo da mudança e da renovação. A esquerda errou a direita errou e erram sempre. Essa questão é chave e a segunda é a questão ambiental. Eu costumo dizer que a poluição é a corrupção da natureza e a corrupção é a poluição da política, ambas estão associadas e são interdependentes. Quem leva essa bandeira hoje é a Marina Silva e a Rede. E humildemente estamos tentando reproduzir esse processo em Santa Catarina”, disse.
Sem coligação
A Rede pretende disputar as eleições sem coligações partidárias. “Nós vamos puros, vamos sozinhos. Não porque somos sectários ou isolacionistas. É que não nos interessa esse sistema, essa forma de organização partidária da qual levou a crise profunda de desconfiança de todos os partido e de todos os políticos”, revelou.
Segundo Portanova, Marina deu autonomia para que, se ela optar por coligação ao disputar as eleições, os candidatos ao governo dos estados possam manter a escolha de não fazer alianças.
“Aqui pretendemos caminhar com as pernas próprias, ter um discurso diferenciado e mostrar que é possível, sim, pensar economia e transporte do ponto de vista da sustentabilidade e, a partir daí, mudar a cara do estádio e do país”, comentou.
Intervenção no Rio de Janeiro
Portanova se diz contra a Intervenção Militar no Rio de Janeiro por se tratar muito mais de um ato mediático do que efetivo. “Quando você quer atacar um problema tão delicado quanto o crime organizado, quanto mais ações de inteligência e menos ações mediáticas melhor. Evidente que hoje o grande problema que hoje salta aos olhos do ponto de vista eleitoral é a segurança. Então a questão que está colocada não é contra a intervenção, mas porque a intervenção como uma solução. Imaginem se há 20 anos aras se falasse em intervenção iam dizer que era golpe”, afirmou.