As contas públicas brasileiras podem passar por um “déficit substancial” em 2021 devido à pandemia do novo coronavírus. A estimativa é de que o rombo seja de R$ 233,6 bilhões, segundo projeto de Lei Orçamentária Anual (PLN 28/2020), o equivalente a 3% do Produto Interno Brasileiro (PIB). A projeção foi feita pelas consultorias de Orçamento do Senado e da Câmara dos Deputados e publicada na última quarta-feira (30).
Apesar de ser o pior resultado desde 2002, de acordo com os especialistas do Congresso Nacional, o déficit projetado para próximo ano representa um “notável ajuste fiscal” em relação a 2020. Por conta das medidas adotadas para o enfrentamento à doença, que já atingiu a marca de quase cinco milhões de casos confirmados, a conta deve ultrapassar o equivalente a 12,1% do PIB neste ano.
“A questão do déficit público é conhecida há muitos anos. Nesse ano, já estava previsto um déficit na faixa de R$ 140 bilhões, R$ 150 bilhões. No entanto, a pandemia agravou esse cenário e fez com que o governo gastasse muito mais, ultrapassando os R$ 400 bi. Em termos de dívida pública, isso equivale a quase 100% do PIB”, alerta o economista e presidente do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (Corecon-DF), César Bergo.
A nota prevê uma recuperação da atividade econômica a partir do ano que vem, com crescimento de 3,2% em 2021. Mas esse aumento, segundo a nota, “não é suficiente para recuperar as perdas de 2020.” Os consultores das duas Casas acreditam que o restabelecimento do setor só deve ocorrer em 2022.
César Bergo refuta esse “otimismo” e avisa que o cenário para o ano que vem não é nada animador. “Deve aumentar esse déficit para cerca de R$ 250 bilhões e alguma recuperação poderá ser notada a partir de 2024, 2025, porque, até lá, vamos viver com os reflexos dessa pandemia, que não foram poucos. Só com o surgimento de uma nova vacina é que podemos aguardar uma melhora substancial nos números das finanças públicas”, projeta.