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Seresteiro, ortopedista, violão, saudade...

As despedidas a João Kantovitz, homem da cultura, da Medicina, do amor nas cantorias e da poesia falecido nesta quinta-feira aos 80 anos

Por Denis Luciano Criciúma, SC, 23/08/2018 - 22:30 Atualizado em 23/08/2018 - 22:40
Os amigos Abeúde Silva, Valdir Silva e Luiz Carlos Romancini, antigos parceiros da Turma da Seresta / Foto: Daniel Búrigo / A Tribuna
Os amigos Abeúde Silva, Valdir Silva e Luiz Carlos Romancini, antigos parceiros da Turma da Seresta / Foto: Daniel Búrigo / A Tribuna

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"Quem cantou a vida inteira sempre vai cantar, até morrer”. Profético, doutor João. Profético. Nesta quinta-feira, aos 80 anos, calou-se a potente voz de João Aparecido Kantovitz. “Foi uma honra ser amigo dele”, resumiu Valdir Silva, músico que compartilhou com ele noites do que tanto amavam: a seresta. 

Da infância e início da vida adulta na sua Rio Claro, em São Paulo, João herdou uma paixão que correu por suas veias até o último suspiro. “Toda música, para quem compõe ou que gosta e tem uma sensibilidade, é uma namorada, uma passagem, uma viagem, uma recordação, um nome”. Assim, poético, definia em uma entrevista há alguns anos o fascínio de compor e cantar. E como era fácil para ele compor e, claro, cantar.

As despedidas nesta quinta, no Crematório Millenium / Foto: Daniel Búrigo / A Tribuna

Bastava uma chuva. “É mesmo. Choveu e subiu aquele cheiro gostoso”, recordava, antes de cantarolar “Cheirinho da Poeira”. “Uma vez, entrei no escritório para apanhar um livro. Estava escuro. Chutei o violão que estava no chão”. Pronto. Brotou a inspiração para “Violão Emudecido”, a canção que emprestou seu título ao LP carregado de serestas apaixonantes.

Tais lembranças são um pouco do tanto que gira em torno da Turma da Seresta, o conjunto musical surgido nos idos dos anos 60 na extinta Rádio Difusora, depois por anos sucesso na Rádio Eldorado até encantar os catarinenses pela TV Eldorado até 1983, quando o sonho acabou. Com mais de 850 músicas ensaiadas e uma organização impecável, a turma de seresteiros arrastou fãs de artistas como Francisco Petrônio e Altemar Dutra, referências para Kantovitz e seus parceiros. “Uma vez cantamos no Palácio da Agronômica para o governador Colombo Salles”, lembrou sempre, com orgulho. 

O LP que João e seus amigos gravaram nos anos 70, pela Rádio Difusora / Foto: Daniel Búrigo / A Tribuna

Em Criciúma, ele chegou em 1964, para daqui nunca mais sair. Partiu deixando a esposa, Eloah, e os filhos, Júlio César e Paulo César. E muitos amigos.

O Dr. João da Ortopedia

“Quando eu cheguei para ser ortopedista em Criciúma, perguntaram-me se eu teria coragem de concorrer com o João”. Eis o ex-prefeito Anderlei Antonelli puxando da memória, ontem, durante as despedidas ao colega no Crematório Millenium. “Foi ele quem abriu as portas da Ortopedia para a região Sul. Mas também era festeiro. Adorava futebol e seresta”.

Em outras especialidades também os colegas médicos reconheciam Kantovitz. “Foi ele quem me apresentou o Hospital São José”, recordou o urologista Álvaro Rocha. “Ele atendia de maneira muito humana e gentil. Um trabalhador incansável”, sublinhou, reforçando que o colega atendia “muitos mineiros com traumas de acidentes nas minas”.

Roma e Valdir com o LP que A Tribuna levou para as últimas homenagens / Daniel Búrigo / A Tribuna

Clique aqui e ouça o projeto de rádio "Turma da Seresta, acordes que marcaram época", produzido no curso de Jornalismo da Faculdade Satc em 2010. Na ocasião, foi resumida em áudio a história do grupo vocal com várias passagens e canções de João Kantovitz. Leia mais nesta sexta-feira em A Tribuna.


(Colaborou, Fagner Santos / A Tribuna)

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