Sem otimismo exagerado e com uma boa dose de cautela. Esse é o cenário que o setor produtivo da região vislumbra para 2021, ano que ainda é marcado pela pandemia e seus reflexos na saúde e na economia mundial.
Para a economia, a leitura é que o pior ficou para trás. Há projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) de 3,5%, com a retomada da atividade de forma mais confortável, e com vigilância severa na inflação, desemprego e juros, que dependerão do controle da pandemia e da situação fiscal do país.
Mola do desenvolvimento econômico, o setor produtivo promete não decepcionar, assim como fez durante todo esse ano de grandes desafios. Empresas lutaram para manter produção e empregos, reinventaram-se, buscando inovação e adaptações.
Os números comprovam. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), divulgados pelo Ministério da Economia, confirmam a retomada no mercado de trabalho formal na Região Carbonífera, que acumula saldo positivo de 3.287 empregos entre janeiro e outubro de 2020. Embora outros setores tenham contribuído para esse aquecimento, a geração de novos postos de trabalho com carteira assinada foi puxada principalmente pela indústria. Conforme os números, de cada três vagas abertas no acumulado do ano na região, duas vieram do setor industrial.
“Os setores foram impactados de forma diversa pela pandemia e alguns também conseguiram se recuperar mais rápido que os outros. No entanto, é preciso destacar que a economia está reagindo como um todo e os números vêm melhorando gradativamente, em velocidade até maior do que era projetado”, declara o presidente da Associação Empresarial de Criciúma (Acic), Moacir Dagostin.
Saldo positivo em 2020 mantém otimismo na construção civil
Com a característica de ser um investimento sólido e seguro, a construção civil está sendo um bom atrativo também durante a pandemia. Na Região Carbonífera, o setor terminou 2020 com saldo positivo, o que mantém o otimismo para o ano que se inicia.
“A construção civil sempre foi um setor bom para o investimento, principalmente por conta da segurança e da solidez, características do imóvel. Então, sempre terá esse atrativo. Além disso, a queda de juros torna a construção civil ainda mais atrativa, com o mercado financeiro voltando os olhos para o setor, devido às projeções de um retorno melhor do produto ofertado”, reforça o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Sul Catarinense (Sinduscon), Mauro Cesar Sônego.
De acordo com ele, mesmo com o aumento no preço dos insumos, a alta ainda não foi repassada para o preço de venda dos imóveis, e há um interesse maior pelas unidades que estão em estoque ou próximas da conclusão.n“Nossa previsão para o setor em 2021 é positiva, otimista, mas cautelosa. Acreditamos que não devem aumentar muito as vendas, mas o cenário deve se estabilizar. A construção civil é o primeiro setor a ser movimentado, por conta da rapidez com que consegue acelerar o reaquecimento do mercado, principalmente em nível de empregos. Por muito tempo, durante a pandemia, a construção civil foi o único setor com saldo positivo na geração de empregos”, destaca Sônego.
Ano positivo e com PIB em crescimento
O presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Criciúma (Sindimetal), José Carlos Sprícigo, também confia em um ano positivo, com crescimento do PIB de até 3%.
“Acreditamos em um crescimento do PIB e isso é importante para retomar a economia, assim como uma estabilidade maior nas contas fiscais do governo. A maior dúvida é esta: como equilibrar um déficit de R$ 800 bilhões. Vamos acompanhar a reforma tributária e a reforma administrativa, que poderiam trazer um ânimo maior e confiança ao investidor internacional. Acreditamos em um ano positivo, com crescimento de PIB de até 3% e o dólar até R$ 5,20”, projeta.
Ele lembra que o setor metalúrgico da região foi muito afetado com o lockdown de março e abril, com uma queda aproximada de mais de 30%. “Porém, depois o segmento veio em franca recuperação, motivada pelas medidas protetivas do governo, como a prorrogação de impostos. Os próprios bancos deram um fôlego maior às empresas, prorrogando o vencimento das contas”, explica.
O auxílio emergencial alavancou o mercado no ramo de transportes, com o aumento das vendas on-line, o agronegócio e a mineração. Isso refletiu em indústrias da região. De acordo com Spricigo, as indústrias metalúrgicas são fornecedoras de empresas desses setores e também da construção civil, que vive um cenário de alta. “As dúvidas vêm por conta do fim do auxílio emergencial. Acreditamos que até meados de abril deste ano devemos ter um mercado muito bom e, partir daí, deve diminuir um pouco”, avalia.
Nas projeções da economia para 2021 na Região Carbonífera, a expectativa é positiva para as atividades relacionadas à produção de tintas. O setor deve permanecer muito aquecido devido a diversos fatores, segundo avaliação do vice-presidente do Sindicato das Indústrias Químicas do Sul Catarinense (Sinquisul), Edilson Zanatta.
“Alguns itens favorecem este panorama; o ambiente de pandemia já amadureceu os trabalhos de home office; estar mais presente em casa faz com que o brasileiro busque melhorá-la e torná-la mais bonita e bem organizada, investindo em reformas; com a baixa da taxa de juros, investimento em imóveis e automóveis também ficou mais atrativo. Além disso, houve muitos lançamentos de obras em 2020, e a pintura é a fase final, que acontecerá em 2021”, estima Zanatta.
Ele também projeta investimentos do Governo Federal em infraestrutura em 2021, favorecendo o aumento no número de empregados e estímulo à economia.
Colorifício prevê crescimento
A indústria química, forte segmento na região, também encerra 2020 com bons números e prevê 2021 de forma positiva. “As empresas que atuam no ramo de colorifício são exclusivamente dependentes do segmento cerâmico que, por sua vez, tem o desempenho atrelado à construção civil. Desta forma, nossa visão não reflete a média da expectativa econômica geral. Apesar da pandemia, este segmento se recuperou ao longo do segundo semestre e terminou 2020 com números acumulados similares a 2019”, ressalta o vice-presidente do Sinquisul.
Por outro lado, a inflação e a falta de matéria-prima preocupam. “Prevemos inflação grande nos insumos, por conta da desvalorização cambial e por complicações da logística. Ademais, prevemos dificuldade de obtenção de matérias-primas importadas para suportar a operação, pois temos problemas na contratação do frete marítimo. Também há uma grande preocupação pelo aumento do gás natural (cerca de 25%)”, alerta Zanatta.
Indústria plástica está confiante para carteira de pedidos em alta
Outro importante segmento para a matriz econômica da região Sul, a indústria plástica também vem buscando driblar os desafios impostos em 2020. As empresas de embalagens flexíveis registram boas produções e pedidos em alta.
“A procura de embalagens para alimentos, higiene, médico-hospitalares, bebidas, avicultura, alimento animal e laticínios tiveram uma recuperação bem considerável. No caso dos descartáveis, o segmento voltou a sua produção normal, após os meses de junho e julho. Todas as empresas da região estão trabalhando em ritmo bem acelerado, especialmente para a demanda de delivery. No geral, estamos animados para 2021, com carteira de pedidos bem preenchidas”, relata o presidente do Sindicato das Indústrias Plásticas do Sul Catarinense (Sinplasc), Reginaldo Cechinel.
O presidente do Sinplasc pontua ainda a preocupação do setor com a falta de matéria-prima e de mão de obra especializada. “Estamos sem receber resina plástica, matéria-prima praticamente toda importada. A situação mais crítica é a falta e o aumento do custo do PVC em razão da unidade da Braskem, em Alagoas, que teve problemas geológicos com a sua atividade minerária (afundamento do subsolo), o que afetou diretamente empresas que trabalham com tubos para água, avicultura e irrigação. Com relação à busca por profissionais, recentemente, em parceria com o Senai e o Ministério da Economia, lançamos uma capacitação na busca de qualificar pessoas para trabalhar no segmento”, relata Cechinel.
Expectativa positiva para o primeiro trimestre do ano na indústria cerâmica
Na avaliação do presidente do Sindicato das Indústrias de Cerâmica de Criciúma e Região (Sindiceram), Otmar Josef Muller, a expectativa é positiva para o setor no primeiro trimestre de 2021, porém com custos inflacionados. Ele explica que o gás natural continua atrelado ao dólar, assim com uma quantidade expressiva de matérias-primas e outros insumos de produção e manutenção, com muitas incertezas nos ambientes da saúde, da economia e da política.
“Acreditamos conseguir em curto espaço de tempo a aprovação da Lei do Novo Mercado de Gás e, assim com a abertura de concorrência, trazer mais competitividade aos nossos produtos”, afirma Muller. A matéria foi aprovada pelo Senado Federal no início de dezembro, mas como houve mudanças, o texto voltou à Câmara dos Deputados, onde aguarda apreciação.
“Em Santa Catarina, enfrentamos o grave desafio de aumentar o volume de gás destinado ao estado pela ANP - Agência Nacional de Petróleo e Gás, a ampliação urgente da capacidade de transporte do Gasbol, hoje acima de seu limite técnico, o que impede novos investimentos de ampliação da produção. Mas, acima de tudo, almejamos que rápido haja sucesso na obtenção de uma vacina que consiga proteger a saúde dos nossos funcionários e da população em geral”, acrescenta.
Desempenho em 2020
Nos últimos anos, o setor cerâmico do Sul passou por importantes mudanças, com investimentos significativos. Esse antecedente colocava 2020 como um grande ano. Porém, mesmo diante de tantas dificuldades, com perda de 42 dias de produção, as empresas retomaram sua plena capacidade, atingindo volume de produção mensal superior ao mesmo período do ano anterior. “No triênio antecedente a 2020 ocorreram mudanças nas estruturas de capital e no controle acionário das maiores empresas tradicionais fabricantes de revestimentos do Sul de Santa Catarina. Houve investimentos em modernização e no aumento da capacidade de produção. Por isso, havia para 2020 elevadas expectativas com os novos produtos e a continuidade da retomada da construção civil”, lembra o presidente do Sindiceram.
“Em março, durante a Feira Revestir, a explosão da pandemia da Covid-19 e suas consequências nos meses seguintes ameaçou frustrar estas expectativas. Houve a perda de 42 dias de produção, algo que não se consegue recuperar”, relata.
Mas, de acordo com Muller, a partir de junho, as fábricas gradativamente retomaram a plena capacidade, atingindo volume de produção mensal 10% superior ao mesmo período do ano anterior. E as vendas, mesmo durante o período mais crítico da pandemia, se mantiveram acima dos volumes produzidos, consumindo-se os estoques elevados do início do ano.
Confecção começa recuperação
Um dos segmentos mais afetados pela crise, o setor de confecção e vestuário inicia recuperação. “Estamos começando lentamente a nos recuperar. Somos indústria de transformação e dependemos do comércio varejista, que inda não está a pleno, com um grande agravante. Estamos com aumentos abusivos, uma pela alta do dólar e o fato de nossos insumos e matérias-primas serem importadas, quase que 90%, e outra pela falta dessas matérias-primas e insumos para a produção, escassas no mercado”, explana o presidente do Sindicato da Indústria do Vestuário do Sul Catarinense (Sindivest), Xandrus Galli.
Para Galli, o cenário econômico para 2021 é desconhecido. “É uma verdadeira incógnita. Estamos todos confiantes para o próximo ano, principalmente na descoberta de uma vacina que possa trazer de volta a normalidade e tranquilidade no varejo. Pois, enquanto não forem retomadas as atividades normais, com a chegada de uma vacina, e a diminuição das ondas de Covid-19, decretando lockdown em vários lugares do Brasil, onde nossa indústria regional atua, não saberemos realmente o que poderá acontecer. Estamos trabalhando um dia após o outro para podermos superar essa fase e entrar com a indústria a pleno novamente”, avalia o presidente do Sindivest.
Regional Sul da Fiesc também faz avaliação otimista
“A balança comercial do Estado, em termos de exportação, não caiu como havíamos projetado, o que é uma ótima notícia. Nosso índice de crescimento foi bom. Tivemos alguns setores que não atingiram as metas, mas outros acabaram se superando, e acima do esperado. O que possibilitou o equilíbrio. Há setores com carteiras de pedidos garantida para os primeiros meses de 2021. A projeção é otimista para 2021 porque o mercado está comprador”, destaca o vice-presidente Regional Sul da Fiesc, Diomicio Vidal.
De acordo com Vidal, o empresário catarinense mostrou sua força, superando-se e buscando alternativas. “Depois da tempestade sempre vem a bonança, e é nesses momentos de dificuldades que aprendemos e as empresas estão surpreendendo”, pontua.
A preocupação, conforme ele, é a falta de matéria-prima ao setor produtivo. “Grande parte dos segmentos tem sofrido com essa situação. Os fornecedores não estão dando conta da demanda. Devemos sofrer ainda durante o primeiro semestre do ano que vem com a escassez de insumos. A falta de mão de obra qualificada é outra dificuldade. Com a demanda acentuada, especializados”, conclui.
Este conteúdo está disponível em www.liderancaempresarial.com.br