Com meta de ultrapassar 160 lojas neste ano em todo o Brasil, e contando com mais de 12 mil funcionários e um faturamento de R$ 10,5 bilhões, a Havan é uma das marcas mais conhecidas da atualidade em nível de varejo no país. Naturalmente, a rede de lojas de departamento nascida em Brusque em 1986 está atingida em cheio pela crise imposta pelo novo coronavírus.
O empresário Luciano Hang teve que seguir a determinação de fechar as portas, em especial dos estados mais implacáveis na questão do isolamento social, como foi o caso de Santa Catarina em relação ao comércio. Eis que veio um alento: a decisão do governador Carlos Moisés de liberar o comércio de chocolates, em função da Páscoa.
Foi a deixa para que a Havan reabrisse suas unidades catarinenses. Assim foi em Criciúma também. A loja do Pinheirinho passou a operar com uma porta aberta, monitoramento reforçado e muitos, muitos chocolates ao dispor da clientela. Acontece que uma situação absolutamente atípica estava criada: os departamentos continuavam todos ali, cama, mesa e banho, ao alcance dos clientes. Mas nenhum produto, à exceção dos chocolates, poderia passar pelos caixas. Ou seja, em um mix de 100 mil produtos que a Havan informa possuir, só pode vender um.
Daí veio o teste que a reportagem do 4oito decidiu fazer, para perceber de perto qual a forma de fiscalização que a Havan encontrou para não vender o que não deve neste período. Siga o relato abaixo:
Ao chegar na Havan, o cenário é semelhante ao de outros pontos que, de alguma forma, conseguiram ordem legal para abrir as portas. Funcionários nos acessos com álcool gel em mãos, borrifando nos clientes. Cena repetida em supermercados, por exemplo, agora na portaria da Havan. Todos usando máscaras e luvas.
"Posso comprar umas roupas?", perguntou o cliente. "Negativo, só chocolates", respondeu um solícito funcionário.
Escadas rolantes vencidas, o cliente chega ao salão principal da loja. Tudo está ali. As roupas, logo na entrada à esquerda. À direita, artigos de cozinha, que vão de taças até talheres passando por toda a sorte de panelas, pratos e afins. Mais adiante, as roupas de cama à direita e o vestuário continua predominando à esquerda. Mais em frente, brinquedos de um lado, tapetes de outro. Ao fundo, eletrodomésticos e eletrônicos. Mas nada disso pode ser comprado.
Não existe delimitação entre o corredor principal empregado para fazer o deslocamento acima resumido e os setores já citados. É nesse corredor que estão os chocolates, aos muitos, indicando que as vendas, como em outros estabelecimentos, estão aquém, bem aquém do que espera e necessita o comércio da Páscoa.
A reportagem abasteceu-se de alguns chocolates, tirando proveito da promoção do cartaz exposto abaixo, e tentou levar duas lâmpadas. No caixa, o aviso: o sistema só aceita chocolates. Logo, não tem como comprar qualquer outro produto, sob pena de punições, e pesadas, para a loja.
Esse filtro quis falhar nos primeiros dias, mas logo, mediante denúncias e a aparição da Polícia Militar, tudo certo. Sò chocolates mesmo podem rechear as sacolas brancas com a logomarca azul da loja de Luciano Hang.
O que Hang tem dito
Em entrevista ao UOL, o empresário Luciano Hang afirmou que "o dano na economia vai ser muito maior do que na pandemia", em uma linha muito semelhante à adotada pelo presidente Jair Bolsonaro. "Desligar [a economia] é fácil, como vamos voltar? Como vamos ligar?", disparou.
Hang defende políticas de redução salarial e liberação de FGTS. "Eu acho que tem que liberar FGTS para todos os trabalhadores. Acho que podem reduzir os salários, mas desde que permaneçam com os colaboradores depois", destacou.
(Com reportagem de Guilherme Nuernberg)