Do Rio de Janeiro, os torcedores do Tigre pouco podem acompanhar o dia a dia do clube. A partida contra o Fluminense, de volta nas oitavas de final da Copa do Brasil, poderia ser a oportunidade do ano para Zé da Silva, 47 anos, e Leandro França, 41. A história dos dois pouco tem em comum, não fosse o amor pelo Criciúma e a impossibilidade de ir ao Maracanã por conta da pandemia.
Leandro França é carioca e, até os 18 anos, nunca tinha pisado em território catarinense. No entanto, é torcedor fanático do Tigre, a ponto de criar a "torcida organizada" Tigres do Rio, ao lado de outros 14 membros cariocas.
Ele considera a sua história com o clube ideal para "boteco e uma gelada", mas vamos tentar contá-la aqui. Herdeiro de uma família de tricolores (cariocas), o amor de Leandro pelo tricolor (catarinense) surgiu na década de 80, quando tinha oito anos.
"Toda minha família torcia para o Fluminense, mas um tio torcia para o Bangu. Fui em jogos com meu tio, mas não me identifiquei com o Bangu. Pensei em escolher meu time, o Tigre disputava a primeira divisão e a camisa é única, não existe tão bela em todo o mundo", relata o torcedor.
"Me encantei pelo time, comecei a torcer de brincadeira, vi o time conquistar a Copa do Brasil em 1991 e fui me empolgando. Virei torcedor na adolescência, meu sonho era fazer 18 anos e ir a Criciúma na minha primeira viagem interestadual", lembra.
A primeira viagem veio em 1998, justamente quando completou 18 anos e o Criciúma disputou a final do Campeonato Catarinense contra o Figueirense. "Peguei a mochila, juntei um dinheiro e fui. Foram 23 horas de viagem, dois ônibus e resolvi ficar no primeiro hotel que cheguei. Contei a história para o gerente e ele começou a rir da minha cara. Ele era catarinense, a família inteira de Santa Catarina e torcia para o Flamengo", diverte-se.
"Fiz muitos amigos pela cidade. No dia da decisão, entrei de Tigre no campo, com a roupa de mascote, vi o time ser campeão, vencendo na prorrogação do segundo turno do Catarinense", completa Leandro.
O amor pelo Criciúma levou-o a criar o Tigres do Rio. O grupo reúne-se sempre que o Criciúma vai jogar em solo carioca, o que não vai acontecer neste sábado, 31, por conta da pandemia. Às vezes exército de um homem só, Leandro coleciona histórias com o clube.
"Quando tem jogo aqui, entro em contato dois meses antes para ir até os estádios com as nossas faixas. Já tivemos história de sair escoltado e correr risco fora com outras torcidas. Quase apanhei várias vezes, já acendi sinalizador e fui à delegacia. Nossa torcida é pequena, mas muito barulhenta", conta Leandro.
"Cheguei a pensar em ir neste sábado credenciado como jornalista ao Maracanã, mas não vale a pena ir ao estádio para ficar quietinho, não é a minha praia", conclui o radialista.
Do Sul catarinense para o Rio de Janeiro, Zé da Silva é roteirista da Rede Globo e sempre que possível coloca o nome do Tigre nas novelas ou programas da emissora. Morando há 21 anos na capital carioca, ele é assíduo aos estádios cariocas quando o Tigre joga lá, ele lembra-se de ter visto vitórias apenas no São Januário.
O Maracanã é insólito ao Criciúma: em 14 partidas, o clube nunca venceu no palco do jogo deste sábado. Da sua casa, em Copacabana, muitas vezes Zé da Silva é grito único em dias de jogos do Criciúma.
É de lá, sozinho, que ele vai acompanhar o jogo contra o Flu. "Estamos recolhidos por causa da pandemia, evitando aglomeração e praticando o distanciamento social, mesmo vacinado. Ainda bem que temos a televisão, antigamente, quem torcia para o Metropol por exemplo, não pode nem ver o clube indo à Europa", contenta-se.
Zé da Silva está na bronca com o pênalti mal marcado contra o Tigre na partida de ida. "Hoje a gente tem também o twitter para falar mal da arbitragem que marca pênalti que não existe. Tenho vários amigos que são Fluminense, estou evitando falar muito antes do jogo de volta. Acho difícil o Tigre passar, apesar do bom momento e o time organizado. Se na ida aconteceu o momento nebuloso...", avalia o torcedor.
Não será desta vez que o fanático torcedor do retornará ao Maraca. "Fui em vários jogos no Maracanã. Já fui em Macaé, Madureira, Moça Bonita, vi o Criciúma levar 3 x 0 numa quarta-feira à noite em Bangu e já vi ganhar do Vasco. Levei até atores que trabalhavam comigo na Globo para ver os jogos", conta.
Zé da Silva e Leandro França encontram-se nos estádios quando o Criciúma vai ao Rio de Janeiro. Desta vez, ambos verão os jogos das suas casas, em Cabo Frio e em Copacabana. Tâo perto, mas tão longe...