Nesses últimos dias, muito se falou sobre um incêndio numa casa recém reformada, aqui pertinho da gente, na região dos lagos, no Balneário Rincão. Não é raro e, inclusive, está cada vez maior o número de casos de incêndios residenciais, tanto no inverno, quanto no verão, mas principalmente nas épocas mais quentes.
Sobre esse caso, eu não fui a fundo para saber se já foi esclarecido o motivo do sinistro. Mas assim que começaram a circular fotos e vídeos da residência sendo consumida pelas chamas, meu primeiro palpite foi curto-circuito e sobrecarga na rede elétrica. Por isso, hoje eu vou fugir um pouco do meu tema, que é arquitetura de interiores, e falar um pouquinho sobre esse assunto que eu acho muito importante.
No ano de 2020, mais de 50% dos incêndios ocorridos em casas ou apartamentos resultaram de sobrecarga no sistema elétrico. Segundo a Associação Brasileira de Conscientização dos Perigos da Eletricidade (Abracopel) naquele ano foram registrados 583 incêndios por sobrecarga. Desse total, 309 incêndios ocorreram em casas e apartamentos, resultando em 23 mortes.
O cidadão leigo não tem a obrigação de saber, mas os técnicos responsáveis devem orientar seus clientes sobre o tempo de vida útil e as manutenções que precisam ser feitas na sua residência. O sistema elétrico é desenvolvido com dispositivos que, naturalmente, se desgastam ao longo do tempo e possui uma validade de até 30 anos, se utilizado dentro dos parâmetros estabelecidos em projeto. Porém indica-se fazer uma manutenção preventiva a cada 5 anos.
Explicando o palpite que citei lá em cima, uma sobrecarga nada mais é do que sobrecarregar o circuito, ou seja, colocar mais equipamentos em uma tomada do que ela suporta (ou um único equipamento que demande uma carga maior). Por uma regra geral, se a residência é nova (e foi feita dentro das normas), ou passou por uma reforma que foi além da parte estética, deveria haver dispositivos, como disjuntores e fusíveis que teriam uma função de controle – ou seja – quando se ultrapassa a carga suportada pela tomada, o disjuntor desliga.
Num caso de sobrecarga, se não existe essa proteção ou se, por algum motivo, esse dispositivo foi alterado, os fios começam a aquecer, provocando um pequeno incêndio, que pode aumentar, caso as chamas atinjam cortinas, forros de madeira ou qualquer coisa que esteja por perto e que possa ajudar a propagar as chamas. No verão, com as temperaturas mais elevadas, um incêndio acontece muito mais rápido!
Lá em cima citei alguns números do ano de 2020. Naquele ano, dos 309 incêndios ocorridos em casas e apartamentos, 119 foram ocasionados pelo uso de ventiladores e aparelhos de ar condicionado, que são equipamentos que demandam bastante carga e ficam ligados por um longo período de tempo.
Vamos voltar um pouquinho no tempo! Tente recordar quantos equipamentos eletrônicos e eletrodomésticos você tinha em casa há 20 anos e compare com quantos você tem agora. Quantos aparelhos de ar condicionado você tinha há 10 anos e quantos e qual a potência dos equipamentos que você tem agora? Muitos desses eletroeletrônicos nem existiam quando o sistema elétrico da sua residência foi dimensionado, então, obviamente, esse sistema merece passar por uma inspeção e muito provavelmente algum fio e algum disjuntor deverá ser substituído, seja por espessura ou por carga inadequada.
Para uma reforma ou instalação segura de um novo equipamento, se atente as dicas abaixo:
- Compre materiais elétricos com selo do Inmetro, isso garante a qualidade e segurança dos produtos;
- Mantenha as instalações elétricas da sua residência em bom estado. Não é porque elas estão escondidas dentro das paredes que não mereçam atenção! Não use fios emendados, velhos ou danificados.
- Caso haja necessidade de instalação de novas tomadas, disjuntores ou instalações elétricas, chame um profissional habilitado.
- A queima de fusível ou desarme dos disjuntores com frequência é indicativo de sobrecarga na instalação elétrica interna, sendo importante a análise de um técnico.
- Durante uma reforma, se necessário, abra mão de algumas coisas estéticas, mas nunca abra mão de uma revisão da parte elétrica e hidráulica.
- Não esqueça de contratar um seguro residencial e, claro, profissionais que possam te orientar durante a obra!