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Raide Rio-Buenos Aires e mortes na Lagoa dos Esteves

Por Dr. Renato Matos Edição 04/02/2022
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Após o bombardeio de navios brasileiros por submarinos alemães, o presidente Venceslau Brás declarou guerra à Tríplice Aliança, já ao final de 1917. Entre os (poucos) esforços de guerra, o Brasil enviou alguns militares, voluntários, para serem treinados pela Royal Air Force britânica.  Participaram de algumas missões, mas logo em seguida a guerra terminou – em 1918.

Com o fim da guerra, muitas das encomendas dos aviões foram canceladas, sobrando aeronaves no mercado. O Brasil comprou 5 hidroaviões Macchi-9 – aqui apelidados de “Cabeçudos” - de fabricação italiana, que foram incorporadas a incipiente aviação naval da Marinha do Brasil.

Começavam, então, as tentativas de grandes travessias. Chamavam de Raide – no dicionário, façanha aérea, esportiva ou afim, em que se tenta alcançar determinados pontos da terra.

Aliatar Araújo, militar que fez parte do grupo  pioneiro de  aviadores brasileiros enviados à  Primeira Grande Guerra, junto ao britânico John William Pinder, queria ser dos primeiros a fazer o trajeto de Rio de Janeiro a Buenos Aires com o “Cabeçudo”. Era o ano de 1920.

Após uma escala em Florianópolis, continuaram sua viagem em direção ao sul.  Tudo vinha bem até que uma parte da fuselagem do avião se desprendeu e atingiu a grande hélice de madeira - atentar à imagem em anexo. Tiveram que fazer um pouso de emergência na nossa Lagoa dos Esteves. Conta a história que ficaram hospedados algumas semanas na casa do Sr. Amaro Cardoso, até que as peças danificadas fossem reparadas.

Em 16 de agosto, tudo pronto, iniciaram os procedimentos para dar seguimento a aventura. A partida do motor era feita de forma manual, girando a grande hélice. Algo deu errado e, nesse procedimento, Aliatar Martins caiu na lagoa. Seu companheiro, John Pinder, pulou para auxiliá-lo, mas acabaram morrendo os dois afogados. Com a velocidade da época, a notícia chegou distorcida ao governador Hercílio Luz – os pilotos teriam sido assassinados pelos moradores da lagoa.
Até o consulado inglês exigia explicações e punição aos responsáveis pela selvageria.

Temendo pelos pouco delicados interrogatórios da época, os homens do entorno da Lagoa fugiram para os matos ao saberem que forças policiais haviam sido enviadas para os devidos esclarecimentos. O mistério foi desvendado duas semanas depois, quando os corpos aparecerem boiando na lagoa. 

Contam que os 2 aventureiros foram os primeiros a serem enterrados no cemitério da Lagoa dos Esteves e só anos depois os restos mortais foram transferidos para seus locais de origem. Aliatar Martins virou herói e deu nome a diversas ruas pelo país – até virou nome de distrito de Criciúma. A região onde hoje se localiza Içara pertencia a Criciúma. Em 1933, passou a se chamar Distrito de São Sebastião. Por decreto estadual de 1938, o nome foi mudado para Distrito de Aliatar, em homenagem ao nosso personagem.

Somente em 1943, o distrito de Aliatar passou a se denominar Içara – em referência a “Içaroba” um tipo de palmeira, com nome indígena, abundante na região. Durante muitos anos, a fotografia do Macchi – 9 ficou exposta no restaurante do Campestre Iate Clube, na época áurea do visionário Silvio Bitencourt, idealizador do que hoje é conhecido como Vila Suíça.

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